Contos do Le Sanatéur, pt 1

-Não existe!
-Eu não sei...
-Não existe!
-Eu não duvido...
-Poxa, isto é golpe, só pode ser.
-Se for, então vai lá e descobre, e faz o seguinte: Leva o Coyote com você e pede para ele fotografar tudo, fraudes, ectoplasmas, mulheres bonitas e mais o que ele quiser.

A conversa acima se passou dentro da sala de Mar Céu L´Onça, o editor chefe do periódico Le Sanatéur e envolveu além do próprio, o repórter Ron.
E o tema da conversa eram os frequentes boatos que davam conta da aparição de um suposto fantasma no prédio do Hotel Paradise, situado à Rua 45, e que o jornal concorrente, Kronbauers News, vinha cobrindo com ótimas histórias.

Cabe aqui uma pequena explicação:
Muitos foram os cadáveres encontrados dentro do Hotel Paradise desde sua fundação e o caso mais curioso e comovente foi o de um homem encontrado morto na suíte 545 e que tinha nas mãos a fotografia de uma mulher e uma garrafa de uísque barato, seu nome era Stephen Foster: musico; poeta e pintor. Reza a lenda que o funcionário que encontrou o corpo ouviu ecoar por todo o hotel a frase:
“-Ninguém pode destruir o coração de um homem sincero!”

E este era o ectoplasma que recentemente havia sido avistado no simpático e decadente Hotel Paradise e que Mar Céu L`onça queria a todo custo que seus principais repórteres fossem investigar.

-Aproveita que está tendo uma apresentação de jazz, e da uma sondada...
-Mas chefe... Se vai ter movimento lá é pouco provável que haja uma aparição, que repito, não existe!
-O que? Você acha que o fantasma não gosta de aglomeração? Por isto não aparece?
-Talvez ele não goste de jazz...

Ao sair da sala do editor Ron encontra Anselmo intrigado e pensativo.
-Que foi Anselmo? Que tá pegando?
-Nada, nada... Ah... Tomei a liberdade de atender ao telefone da sua mesa e estava aqui escrevendo o recado.
-E quem era?
-Um francês... Um tal de Difran... Mas tem um sotaque tão forte que eu não consegui distinguir de qual parte da França.
-Mas quem disse para você ele é francês?
-E não é?
-Não... É cearense... E também não é sotaque. Ele é fanho...
-Mas... Mas... E o nome Difran?
-Não é Di Fran... É: De Fran e é o seguinte... Ele saiu do Ceará para tentar ser jogador de futebol só que era muito ruim e então o treinador do time em que estava fazendo testes ficava gritando na beira do campo: “-Vai cú de frango!”. E ele não melhorava nem com os berros, então para encurtar o xingamento o cara fez uma contração nas palavras e acabou ficando De Fran, e sabe como é apelido... Se achar ruim pega. E ele achou péssimo até brigava.
-Eu também brigaria!
-Que nada! Pior era o irmão dele, que era tão ruim quanto ele jogando bola...
-E como era o apelido dele?
-De Rã...

Saíram do prédio do Le Sanatéur e embarcaram em um velho Studebacker que Anselmo acabara de adquirir, tinham como destino a velha Rua 45, onde o mundo circula. -Por que temos de ir de carro Anselmo? A Rua 45 é a dois quarteirões daqui...
-Mas eu queria mostrar o carro...
-Você quer mostrar esta lata velha para quem?
-Bem... Sei lá... Quer dirigir?
-Tem seguro esta bagaça?
-Cara... Não tem nem gasolina, quanto mais seguro... Vamos a pé mesmo.

Ao chegarem ao Paradise encontram o saguão repleto de punguistas, escroques, cafetões, vagabundos, informantes... Enfim, golpistas de toda a espécie que formavam a nata da Rua 45 e eram fãs de jazz e hospedes do velho hotel. Encontraram também o proprietário, Leandrus, um imigrante vindo da Chechênia, que segundo as más línguas era também envolvido em trafico de jujubas.

-E ai Leandrus? Como está a programação do festival para hoje? – quis saber Ron.
-Eu estar perdido, o banda não vem mais.
-Como assim não vem? Avisaram a eles que você não paga? – Anselmo provoca.
-Como assim eu não pagar? Eu demorar, mas pagar direitinho... O problema ser outra. O banda que abriria a festival de jazz do Hotel Paradise era a: “Traditional João Gilberto Jazz Band.”
-Como? Mas com este nome você ainda achou que viriam?
-Mas é claro, até receberam a cachê!
-E ao menos deram um motivo para não vir? –pergunta Ron.
- Na telegrama disseram que o acústica era ruim...
-E é? – quis saber Anselmo.
-Non... Nem tem acústica...
-Ah tá... – ao mesmo tempo Anselmo e Ron.

-Leandrus... Faz o seguinte... Conta pra gente desde o começo o que acontece por aqui...
-Estar bom Anselmo, mas... Desde a começo?
-Sim... Do inicio.

E Leandrus começa a contar a história realmente desde o inicio.

-Na principio non existia nada, e então Deus criou o terra e colocou nela... - e enquanto o chechêno vai contando sua história, Ron lembra-se que Anselmo não lhe deu o recado do cearense fanho.
Continua amanha...

Comentários

Esse "Kronbauers News"... espero que não seja um jornal sensacionalista...
Daniel Médici disse…
Uma noite cassavetiana? As esquinas de Frank Miller? Ou seria talvez um pedaço remanescente da Chicago dos anos loucos? Respostas amanhã.
...quero só ver aonde isso tudo vai dar....HAHAHA!
Unknown disse…
poh! tá explicado! o reporter Groo passa a noite investigando e por isso acaba durmindo demais! kkkkk

e aquele portugués do checheno esse, coisa feia eh? o cara tem que aprender sse vai viver por aqui....
Anselmo Coyote disse…
Pô, tá cada vez ficando mais punk trabalhar no Le Sanatéur.

O contra-cheque só tem descontos de vales, adiantamentos, empréstimo (por causa de umas questões paralelas), pensão alimentícia e outros penduricalhos... Noves fora, não está sobrando nem pra gasolina.

Acho que já vi essa história. O chefe ainda vai me mandar bater a câmera na cabeça de algum segurança para o Groo fazer uma matéria e ganhar o Pulitzer.

Pelo menos a Dra. Remédios ficou pertinho de mim na formação da banda.

Abs.

Abs.
Manu disse…
Aguardo a continuação hehehe!^^

abs!
Leandrus disse…
Se esse Leandrus não falasse português desse jeito, ia achar que ele veio de Portugal e não da Chechênia...