Sun...

Ela entrou no ônibus e teve problemas com seu cartão de vale transporte. A catraca eletrônica não conseguia fazer a leitura.
Sente falta de um cobrador nestas horas.
O único lugar vago era ao lado de um cara que estava sempre no ônibus naquele horário. E sempre de fones nos ouvidos.
Estranho notar como de uns tempos para cá tantas pessoas usam fones. Sejam em modernos aparelhos de leitura de arquivos MP3 ou telefones celulares.
Penso que a maioria nem está ouvindo música ou notícias... Apenas usam os fones para evitar que alguém puxe conversa.
Assim também pensava ela, que era a exceção à regra e nunca usava os seus.
Sentou-se ao lado do rapaz que se encolheu todo, abriu seu livro e tentou se concentrar na leitura. Coisa difícil para quem gosta de ver o que passa pela janela do coletivo.
E ela gosta.

Ele, que aos poucos relaxa, batendo os pés enquanto ouve as músicas..
Na tela de seu aparelhinho vez por outra aparece o nome de alguma canção, noutras aparece apenas: artista desconhecido.
Em uma destas aparições ela – que por acaso – ou não - olhava a tela – lê: Velvet Underground.
-Do que se trata? – pergunta ela
-Ahn? – diz ele.
-O que é Velvet Underground – ela insiste sem notar que ele não tirara os fones.
-Não sei... É melhor perguntar a outra pessoa... – diz ainda sem entender nada.
Então ela faz sinal para que tire ao menos um dos fones, ele sorri amarelo com a gafe que acaba de entender que cometeu...
-Me desculpe, fico tanto tempo com os fones que às vezes esqueço deles...
-Estão desligados? – pergunta ela...
-Não, não... Estão sempre ligados... Tem sempre musica na minha cabeça! – e sorri.
-Que legal... Te vejo sempre no ônibus... E realmente, está sempre com os fones. -
-Eu também te vejo... Todos os dias. – diz ele quase em um sussurro.
-O que?
-Ah.. Nada... Mas, cê tinha me perguntado algo? – disfarçando e retomando o fio.
-Ah... É... Eu vi escrito ai na tela do seu celular: Velvet Underground. Do que cê trata?
-Ah... É uma banda de rock... Das antigas, anos sessenta. – explica.
-Como os Beatles, ou os Rolling Stones? Meu pai ouve muito estes dois...
-Não, não... Mais sujos. Mais agressivos e claro, obscuros.
-Ah... Que interessante! Posso ouvir?
-Pode sim... – e oferece os fones enquanto põe a faixa no ponto novamente.
Na tela do aparelho aparece uma banana com a assinatura de Andy Warhol e ele explica que é a capa do disco de onde a faixa foi tirada e que foi produzida pelo artista plástico.
-Warhol eu conheço... Pintou uma Marylin Monroe super pop! Um pouquinho de artes plásticas eu conheço... Qual o titulo da canção?
-"Who loves the sun"...


-Legal... Ouvir falar em sol... Tem tantos dias que só chove aqui em Sampa, né?
-É... Foi por isto que fiz uma seleção apenas com musicas que tem sol no titulo ou tem a ver com ele...
-Mesmo? Que legal... Pena que não tem funcionado né? – e sorri.
-Quem disse? Olha aí... Hoje já não está chovendo – aponta ele para a janela do coletivo.
-Verdade... O busão tá lento por que é sempre assim e não por conta da chuva né?
-É... Se bem que não to ligando pra lentidão hoje não...
-Como?
-Nada, nada... – e sorri.
-Deixa eu ver o que mais cê colocou ai pra chamar o astro rei?
-Claro... – e busca na memória do aparelho a lista de musicas recém adicionadas...
-Então... Começa com: “Here comes the sun” e “Sun King”, dos Beatles, passa pelo Velvet e segue: “Let the sunshine in” do musical Hair; “Fat old sun”, Pink Floyd; “Lazy old Sun”, dos Kinks ; “Don’t let the sun go down on me”, com o Elton John e mais um monte… Acho que tem mais de um giga só de musica de sol…
-Legal demais! Posso ir ouvindo com você?
Os olhos dele brilham.
-Pode, claro... – agora lhe oferece apenas um dos fones.
Ela aceita e a principio ficavam sentados de forma ereta no banco, sem sequer se tocarem, mas a lista era realmente grande e os dias chuvosos ainda duraram algum tempo.
-Esta é especialmente para você! – e tocou “You are the sunshine of my life”.
Hoje ainda dividem os fones, com a diferença que agora ela apóia a cabeça em seu ombro.


E já está no ar mais uma edição da Rádio On Board, desta vez discutindo REGULAMENTOS.
Sempre com a ancoragem de Felipe Maciel e minha modesta participação.
Como sugerido na edição passada Fábio NAP Campos acertou o muro na curva 12 e abriu passagem para o grande Eduardo Moreira, do TargetHD, que nos honrou mais uma vez com sua presença.
Logo após a barbeiragem Fábio ligou para a redação da rádio e soltou a perola: sorry guys.

Comentários

Ylan Marcel disse…
Ron, primeiramente quero agradecer pelos seus comentários no Motorizado. Seguinte: tô com um banner do meu blog e queria saber se vc tem interesse em divulgá-lo no seu. Modifiquei o layout do Motorizado para caber mais banners de parceiros na segunda barra lateral. Se vc tiver um do seu blog e quiser que eu ponha, é só me dar o link.
Um grande abraço! Aguardo resposta!
...E ainda falam que histórias de amor são coisas de novela..

Conto mais que maravilhoso Groo, parabéns, mas também com uma trilha sonora dessas, tudo terminaria em brilho, nos olhos...acho que brilham até hoje!
abs.
Felipão disse…
clap clap clap clap

DEMAIS, Ron...
Teté M. Jorge disse…
Histórias de amor são coisas de blogs, de foruns, de net...

Sensacional, Ron!

Gamei!

Beijos Who Loves the Sun...

Ahahahhahaha
Anônimo disse…
mais clap clap clap pro Groo.
Pois eh, ainda devem existir histórias assim, eh q hj em dia eh todo mundo tão sério e estressado em transporte público que eu nunca mais soube de histórias assim q tenham dado certo. Flw
Tiasley disse…
Ah! E quem nunca desejou que uma história dessas pudesse acontecer de repente consigo mesmo?!

Belo conto.
Me fez lembrar também de outra música sobre o sol:
http://www.youtube.com/watch?v=0VnhYTprvYg

-|T|-