Dona Gabriela já era uma respeitável avó quando ocorreu o caso.
Moradora de Mauá, região do ABC Paulista, ia diversas vezes no ano até bairro do Brás para comprar roupas com uma das filhas e seus netos, Dona Gabriela não era muito de ter compaixão com o que via dentro dos trens da – hoje CPTM – RFFSA.
E creia, havia de tudo: crianças vendendo doces, adultos vendendo jornais (Noticias Populares e Diário Popular – hoje Diário de S. Paulo- escorriam sangue pelos vagões), mendigos com pernas cobertas com ataduras putrefatas, camelôs de todas as espécies de produtos, incluindo um que chegava ao vagão e antes de apregoar seu produto lia o horóscopo em voz alta além, claro, dos populares “ceguinhos do trem”.
Era incrível como nos meados dos anos 80 havia cegos nos trens paulistas.
Às vezes entravam dois ou três diferentes em uma viagem de Mauá até a Estação da Luz.
E numa destas viagens um deles entrou na estação do Ipiranga e calhou de Dona Gabriela estar sentada em um dos bancos do vagão que estava cheio. Não lotado, mas cheio.
Ao vê-lo passar com sua cantilena clássica (“-Ajude o ceguinho pelamordedeus!”) aconteceu o inesperado: Dona Gabriela se apiedou e sacou uma nota de cem cruzeiros de sua carteira e colocou em seu chapéu tocando-lhe de leve as costas para avisar que havia feito uma doação.
O homem sorriu e virou o rosto para o outro lado continuando a pedir.
Porém percebendo que havia dado uma nota maior do que queria realmente oferecer, Dona Gabriela num gesto rápido tirou de volta a nota de cem do chapéu e colocou uma de dez sem que o homem percebesse e se sentiu confortável ao olhá-lo seguir seu caminho.
Até que ao sair da estação Mooca alguém tropeçou no cego:
-Ô amigo, não olha por onde anda? – disse o cego.
-Desculpe, foi o balanço do trem.
-Sei... Tá querendo meu roubar?
-Não, não... Foi absolutamente sem intenção, desculpe.
Foi ai que cometeu o ato falho.
-Sem intenção? Então cadê a nota de cem que tava aqui agora há pouco?
Na estação do Brás, um jovem e sua mãe esperavam a chegada da avó no vagão marcado quando ao abrir as portas da recém-chegada composição uma cena no mínimo inusitada se apresenta.
Aplicando uma gravata no pescoço e quase montada nas costas de um cidadão com óculos escuros e bengala na mão, Dona Gabriela exigia em altos brados que lhe devolvesse o dinheiro dado e com a mão que estava livre batia na cabeça do indivíduo com um guarda chuva de cabo de madeira bem antigo (e por consequência pesado).
Os agentes da estação trataram de grampear o falso cego e não viram maior problema em liberar a senhorinha que já estava de posse de seus dez cruzeiros quando chegaram.
Nunca mais vi minha avó fazendo uma caridade sequer depois disto...
Moradora de Mauá, região do ABC Paulista, ia diversas vezes no ano até bairro do Brás para comprar roupas com uma das filhas e seus netos, Dona Gabriela não era muito de ter compaixão com o que via dentro dos trens da – hoje CPTM – RFFSA.
E creia, havia de tudo: crianças vendendo doces, adultos vendendo jornais (Noticias Populares e Diário Popular – hoje Diário de S. Paulo- escorriam sangue pelos vagões), mendigos com pernas cobertas com ataduras putrefatas, camelôs de todas as espécies de produtos, incluindo um que chegava ao vagão e antes de apregoar seu produto lia o horóscopo em voz alta além, claro, dos populares “ceguinhos do trem”.
Era incrível como nos meados dos anos 80 havia cegos nos trens paulistas.
Às vezes entravam dois ou três diferentes em uma viagem de Mauá até a Estação da Luz.
E numa destas viagens um deles entrou na estação do Ipiranga e calhou de Dona Gabriela estar sentada em um dos bancos do vagão que estava cheio. Não lotado, mas cheio.
Ao vê-lo passar com sua cantilena clássica (“-Ajude o ceguinho pelamordedeus!”) aconteceu o inesperado: Dona Gabriela se apiedou e sacou uma nota de cem cruzeiros de sua carteira e colocou em seu chapéu tocando-lhe de leve as costas para avisar que havia feito uma doação.
O homem sorriu e virou o rosto para o outro lado continuando a pedir.
Porém percebendo que havia dado uma nota maior do que queria realmente oferecer, Dona Gabriela num gesto rápido tirou de volta a nota de cem do chapéu e colocou uma de dez sem que o homem percebesse e se sentiu confortável ao olhá-lo seguir seu caminho.
Até que ao sair da estação Mooca alguém tropeçou no cego:
-Ô amigo, não olha por onde anda? – disse o cego.
-Desculpe, foi o balanço do trem.
-Sei... Tá querendo meu roubar?
-Não, não... Foi absolutamente sem intenção, desculpe.
Foi ai que cometeu o ato falho.
-Sem intenção? Então cadê a nota de cem que tava aqui agora há pouco?
Na estação do Brás, um jovem e sua mãe esperavam a chegada da avó no vagão marcado quando ao abrir as portas da recém-chegada composição uma cena no mínimo inusitada se apresenta.
Aplicando uma gravata no pescoço e quase montada nas costas de um cidadão com óculos escuros e bengala na mão, Dona Gabriela exigia em altos brados que lhe devolvesse o dinheiro dado e com a mão que estava livre batia na cabeça do indivíduo com um guarda chuva de cabo de madeira bem antigo (e por consequência pesado).
Os agentes da estação trataram de grampear o falso cego e não viram maior problema em liberar a senhorinha que já estava de posse de seus dez cruzeiros quando chegaram.
Nunca mais vi minha avó fazendo uma caridade sequer depois disto...
Comentários
Não estão acreditando ? Façam a viagem. 18 horas de sexta-feira. Verão, mês de janeiro. Central do Brasil. São meus convidados... Hoje, acredito, com mais emoção. Um tiroteio nas comunidades pode fazer com que todo mundo dentro do trem se abaixe mas o movimento tem que ser coordenado. Ha....
M.C.
Quem não saltar agora
Só em Realengo
Engenho de Dentro
Quem não dançar agora
Só no próximo baile
Em Realengo...'
Isso mesmo. O direto ! Que agora só para em Madureira, terra do compositor gente boa, Jorge Ben Jor. Cuidado para não cair... da bicicleta ! Cuidado para não pegar, o trem das 6... Parador !
M.C.
M.C.
E fez muito bem Dona Gabriela.
abs