Re post - A cidade depois do viaduto - Capitulo XII

Esta história - que dá título a este post - vem sendo escrita já há algum tempo, e nunca estou completamente contente com os restultados.Porém, este é um dos capitulos que mais gosto e já havia publicado ainda no outro blog.
Espero que gostem.


Uns dias.
O expresso do oriente/rasga a noite passa rente.
Paralamas do Sucesso in Bora Bora


Sandro sempre foi um sujeito surpreendente. Suas atitudes eram tão imprevisíveis quanto suas letras. Tinha rompantes geniais, e momentos de pasmaceira completa.
Podia tanto ser uma besta como ser bestial. Tudo dependia do estimulo. Estivesse sua platéia a fim de por fogo e ele se incendiava.
Mas se a recepção fosse morna, não precisava nem ser frívola, ele ia esfriando até se tornar um bloco de gelo.
Geralmente queimava. Os pais de seus amigos, não todos, mas uns e outros tinham o habito de assistir no domingo pela manhã o programa ‘Som Brasil’ do compositor e contador de causos Rolando Boldrin, o Sr. Brasil, e justamente neste dia um destes amigos estava na sala e viu de relance, enquanto Sr. Boldrin anunciava as atrações do dia, a figura do Sandro em cima do palco.
Enquanto o apresentador chamava o intervalo comercial, este amigo ligou pra um que ligou pra outro. Que ligou pra mais um e foi-se formando uma cadeia.
Logo quase todos na Vila Bela e em parte de Franco da Rocha estavam sintonizados no ‘Som Brasil’.
Na volta dos comerciais aparece em cena o apresentador.
Plano fechado da cintura pra cima e Sr. Boldrin conta um causo:
-Então o homem manda chamar o fiscal de bilhetes do trem e lhe diz: ”-O Senhor me acorde na estação de Limeira, que lá vou fechar negocio numa partida de laranja pra suco. Lhe dou $500, adiantado, mas não deixe de me acordar em Limeira...”
O fiscal aceita o encargo, embolsa o dinheiro e volta a sua ronda.
O homem põe-se a dormir e ronca sono alto, dos justos.
Passado os quilômetros o homem acorda com o fiscal gritando a plenos pulmões: “-São Carlos, São Carlos”.
O Comerciante de laranjas, sobressaltado e com os olhos embaçados de sono, vê que sua estação passou e que seu negocio tinha sido arruinado.
Levantou-se e pegou o fiscal pelo colarinho enquanto gritava:
“- Vosmece arruinou meu negocio, eu lhe pedi. Eu lhe paguei! Tinha que descer em Limeira e nós já estamos à altura de São Carlos! Estas horas já não chego a tempo na fazenda, não compro mais a partida de laranja pra suco, estou arruinado comercialmente... O que foi que o senhor me fez? Hã?”
Nisto duas velhinhas que estavam sentadas umas poltronas atrás do comerciante de laranjas comentam entre si: “-Como ficou bravo este senhor...” - No que a outra responde - “É porque você não viu como xingava o homem que ele jogou pra fora do trem em Limeira...”
Os aplausos romperam o silencio e a admiração com que a platéia ouvia o apresentador e logo na seqüência um conjunto regional ataca tocando ‘O trem das Onze’do compositor paulista Adoniran Barbosa: “-Não posso ficar mais nem um minuto com você/sinto muito amor, mas, não pode ser/moro em Jaçanã, se eu perder este trem que parte agora às onze horas/só amanhã de manhã...”.
Enquanto a musica ia sendo tocada, as câmeras davam close nos cantores; nos instrumentistas. Passeavam pelo palco, mostrando ora um, ora outro violeiro; percussionista; os cantores.
Os amigos que assistiam ao programa perceberam que Sandro estava sentado entre os violeiros, com a viola no colo, fazendo os movimentos com a mão direita, mas sem mover um dedo da mão esquerda. Ou seja, não estava tocando absolutamente nada!
O Sr. Brasil também percebeu e ao fim da apresentação - como sempre fazia - foi trocar um dedo de prosa com os convidados:
“... Tenho minha casa pra cuidar, eu não posso ficar”. – Aplausos.
-Parabéns ocês são muito bão! Parabéns... – Disse o Sr. Brasil.
-Obrigado Sr. Boldrin, pra nós é muito gratificante estar aqui! – Disse um dos cantores.
Nisto Rolando Boldrin, se vira para Sandro e emenda um dialogo rápido:
-Ocê deve de ser de uma família tradicionar de violeros, num é?
-Sou sim! – Mentiu Sandro. E continuou: - Meu pai tinha uma dupla com um amigo...
-E quem eram eles? – Quis saber Boldrin.
-Laurito e Loreto. – Continuou mentindo.
-E qual deles era o senhor seu pai?
-Até hoje eu não sei... – E a platéia explodiu em risos enquanto o apresentador olhava para a câmera com cara de espanto.
-Não, não... Não é que eu não saiba quem é meu pai, eu sei sim. Só não sei quem era quem na dupla...
- Ah bão! Assim, sim! – Aliviado o Sr. Brasil continuou. – Eu me lembro apenas de um, do Loreto...
- Pois é, esse ai era meu pai... – Continuou a mentira na maior cara de pau.
-Mas este cantava suzinho...
- Pois é... Meu pai foi um dos pioneiros. Foi cantar solo.
- Desmontou a dupra?
-É ele que começou com isto, de cantar sozinho... Desmontou a dupla e montou uma umpla!

Rolando Boldrin balançou a cabeça negativamente, a platéia riu e entraram comerciais. Num movimento como o da queda de dominós quase todos os televisores da Vila Bela e parte dos de Franco da Rocha foram sendo desligados ou mudados de sintonia. Exalando um aroma de decepção profunda no ar.

Comentários

Bom demais....parabens.
Daniel Médici disse…
O Zelig de Vila Bela?
Felipão disse…
huahuahhauhaua

sensacional...

inspirado em alguém, Groo??
Marcos Antonio disse…
sensacional mesmo!rindo mto aqui com o rumo da prosa!rs
Análise F1 disse…
Olá Groo, tudo bom?

Indiquei seu blog para este selo:

http://analisef1.blogspot.com/2009/02/premiado-e-premiando-parte-iii-iv-v-e.html

Abraço!
SAVIOMACHADO disse…
Fiz uma força no início para lembrar teste "causo", mas não lembrei.
E como sempre, você escreve muito bem. Me fez lembrar do Som Brasil. De vez em quando eu assistia o
Rolando Boldrin. O problema é que tocava muita música de cultura local ou até mesmo rural. Não faz o meus estilo, mas era bom de ver.
Grande abraço.
SAVIOMACHADO
Daniel Médici disse…
Zelig? Um dos melhores filmes do Woody Allen.
Ingryd disse…
como sempre, excepcional
parabens!

:*
Anônimo disse…
Vou repetir: naquela última página da Vejinha São Paulo, revezam-se atualmente Walcyr Carrasco e Ivan Angelo. Qualquer dia ainda terei a satisfação de ler Ron Groo naquele espaço! E digo mais: em muitas ocasiões, como a atual, você supera os dois em criatividade e humor!
Abraços.
Ron Groo disse…
Brigado Francisco!

Daniel, valeu pela comparação e pela explicação do que é Zelig, mas acho que não chega a tanto... E nem você também hehehe.

Fatos veridicos Felipão, veridicos.

Valeu Marcão.

Valeu Analise, já comentei la.

Nem o meu Sávio, mas confesso que gosto muito do Boldrim.

Brigado Yngrid.

Quem sabe um dia Mayer, eu sonho com isto, mas... Ai ai... Não mereço.
Análise F1 disse…
Olá Groo...

Falando sobre seu comentário sobre a Honda lá no "AF1", pode até ser que o japonês da Honda tomou uns remédios para gripe...rsrs.
No entanto acho muito tarde para que alguém arrisque tanto dinheiro sem ter tempo para testar e ainda ser condenado ao fim do Grid.

Sobre o comentário que tem gente lá muito interessada no seu trabalho eu não entendi bem, se foi o fato do MC dizer que era marmelada vc ganhar o prêmio, ignora. Afinal o que ele escreve é apenas a opinião dele e não a opinião do Blog e da maioria dos seus freqüentadores! Até pq o MC é produto do Blog do Téo e descobriu o meu ano passado. Até que no meu ele é mais comportado do que em outros, mas o fato é que quando mais repriender pior fica!rsrs

Sobre a brasileira atacada ... por ela mesma...
Não tinha ouvido nada a respeito aqui na Áustria. Sinceramente absurdo achar que um médico daqui daria um laudo falso apenas para não investigar o caso. Ela não está nos EUA e muito menos no Brasil. Sem contar que se Neo-nazistas não atacam latinos brancos(Hittler guerriou com Espanha ou Italia?). E caso ela tivesse sido espancada por 15 min como disse, onde estão os ematomas? Não marcaram o rosto dela pq? Apenas partes do corpo onde a mesma alcança? Sei...
Tentou aparecer no país errado esta coitada!

Grande Abraço e obrigado pelo link no "Melhores da red"!
Marcelonso disse…
Mestre Groo,


Depois de uma breve pausa,retorno a rede,e não podia ser melhor,como já disse antes,"eu queria tanto escrever que nem o GROO".

Parabéns e grande abraço
Anônimo disse…
Merece, sim, Ron Groo. Naturalmente, todos temos dias de maior ou menor inspiração. Isso também ocorre com os famosos. Sou apreciador da boa leitura e não perderia meu tempo por aqui se não fosse verdade. Os comentários que você recebe comprovam a minha tese! Abraços.