O ano é 1986, e eu então moleque de treze anos só queria saber de musica se fosse cantada em inglês, mesmo que à época não entendesse nada.
Português nem pensar.
Ficava fulo da vida quando ouvia as músicas metidas a engraçadinhas da Blitz e a ingenuidade das letras de Paulo Ricardo e seu RPM não me atraíam: “Loiras geladas” nunca foram meu forte, tanto que até hoje não as tomo.
“Chope com batatas frita” eu até gosto, mais da segunda que do primeiro, só que musicalmente esta mistura me era simplesmente intragável.
Meu negócio era outro: Queen; Beatles; ACDC; Scorpions; Iron Maiden... Estas coisas de heavy metal e algum punk-rock. Ramones para dizer a verdade.
Mais adolescente impossível.
Vestia as camisetas, que por conta do Rock’n’Rio – o original - viraram ‘carne-de-vaca’.
Quando chegava da escola, ligava meu radio gravador Sanyo (será que existe isto ainda?) e colocava minha fita cassete virgem (e isto? Será que existe?) e ficava esperando que tocasse um som de uma destas bandas para capturá-la.
Tarefa ingrata, raro passar uma.
Comprar discos não dava, só fui começar a comprá-los em 1989 quando comecei a trabalhar. Minha mãe é que vez em quando me dava umas fitas gravadas de alguns discos do Queen - hoje nem se fabrica mais, como os vinis.
De resto eu gravava minhas “Basf’ em casa de amigos, que tinham os discos e principalmente... As vitrolas 3 em 1, máximo dos máximos.
Certa noite eu estava lá, firme e forte aguardando um especial de rádio que prometia: Kiss ao vivo!
Meses depois vim saber que o especial nada mais era que a execução na integra de um disco de 1979! Só que naquela noite não foi o Kiss que me chamou atenção e sim uma canção vejam só, cantada em português!
A letra era longa, complicada e não tinha refrão.
A voz era por vezes poderosa; noutras sussurrava.
Confesso que demorei muito a compreender a letra. Culpa minha por não ler os livros certos à época. Teimava em querer ler Kafka e Humberto Eco...
Frases como: “Tentei chorar e não consegui” retirada de Nietzche, bem como toda a parte sobre “cortar pano de chão de linho nobre, pura seda”, tiradas de Bertrand Rusell, me encantaram. Chaparam mesmo. E o arremate então? “Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda...”.
Logo, as citações da canção não eram coisas para adolescentes, mas a banda caiu no gosto deles de qualquer forma.
Era eu! Renato Russo cantava sobre mim e meus “problemas” de adolescente. Se é que adolescente tem problema! Aliás, pra adolescente tudo é problema.
Naquela noite, nem curti o Kiss direito. Fiquei com os tecladinhos de “Índios”- a tal canção - assim mesmo, com aspas, na cabeça.
A letra, ou fragmentos dela rodando na mente.
E a radio que não tocava mais a música? E eu que não tinha grana pra comprar o disco? E meus amigos que nem sabiam do que se tratava?
Era sacaneado... Diziam que eu tava inventando.
Depois de uma semana já estava insuportável. Não queria ouvir outra coisa, minhas fitas cassete estavam até empoeiradas. Decidi fazer algo.
Entrei em casa decidido.
Peguei uns cartuchos de vídeo-game Atari e corri pra vender... Mesmo assim a grana arrecadada não dava.
Apelei para o banco-mãe e com muito custo ela me deu o que faltava: o dinheiro da condução para ir até o Bairro da Luz e uma grana para a coxinha.
Voltei segurando o cassete do álbum ‘Dois’ da Legião Urbana com tanta força que parecia que minha vida dependia daquele gesto. Ouvi o cassete umas tantas vezes quantas foram possíveis, ou até meu pai mandar desligar, pois já não agüentava mais ouvir o “Jerry Adriani” que era quem ele pensava estar cantando.
Ouvi “Índios”; “Fabrica”; “Metrópole”.
Quando ouvi “Acrilic on canvas” decidi que escrever era o que queria fazer.
Renato ia narrando o fim de um relacionamento enquanto fazia metáforas com apetrechos de pintura... “De você fiz o desenho mais perfeito que se fez/A armação fiz com madeira/da janela do teu quarto/do portão da sua casa/fiz palheta e cavalete...”. E terminava: “Às vezes é difícil esquecer”.
Mas o que baqueou mesmo o adolescente Groo foi um verso de “Andrea Doria”: “Nada mais vai me ferir/é que já me acostumei/com estrada errada que segui com minha própria lei...”.
Era juvenil, era rebelde, era rock’n’roll e era em português!
Os rocks em inglês foram perdendo espaço, eu fui conhecendo outras bandas e logo outros estilos musicais como a MPB de Caetano, Gil e Chico entre outros, com textos melhores até.
Hoje já nem escuto mais Legião Urbana como ouvia na adolescência, cresci e mudei muito minhas prioridades musicais, só que o estrago já estava feito.
A porta de entrada da língua portuguesa em meus aparelhos de som (que viriam futuramente) foi este disco....
E o de vocês? Teve um? Mais? Qual foi?
Comentários
eu ainda não encontrei esse meu lado brasileiro ainda... hehehe...(Angra ñ serve né?)
mas enfim, quando comecei a curtir rock ngm me mostrou. Meu pai nunca gostou nem tinha amigos q curtiam Black Sabbath Led, Kiss, Iron... dai comecei ouvindo Linkin Park e Charlie Brown Jr ausahuash... eu acho q cbjr seria bom pelo novel dos músicos ñ fosse o viado do chorão.. hsaushausahas
só ñ vai me chantagiar por isso q contei né? ashusahusahusa
FLW!
Gostei tanto da proposta lançada por você que resolvi fazer um post sobre isso em meu blog. LEIA LÁ , MEU AMIGO...
Tenho minhas birras, e na verdade fui mais marcada por um conjunto de músicas diferentes do que um álbum em especial (nesse caso) como Ana Carolina, Lenine, Cássia Eller, Chicas, Kid Abelha e por aí vai...
Mas falando de discos:
Invisible Touch do Genesis - eu tenho a alegria de ter esse único vinil em casa porque minha mãe ganhou do meu pai em 86 e sabendo que desde pequena eu gostava de músicas anos 80 ela me deu. Ouvi e comecei a gostar da banda, Phil Collins e música em geral.
Mais recente foi o Humanity: Hour I do Scorpions que embalou minhas crises existenciais em 2008 no último ano de colégio, o Folktergeist dos espanhóis do Mägo de Oz (álbum ao vivo muito animado que me fez perder o preconceito que eu tinha "pego" há uns tempos com música em espanhol).
Se tem um assunto que eu AMO falar é de música, vou ficando por aqui pra não me extender (mais) hehe.
Ahhh... O Andrea Doria era o nome de um comandante e de um navio, que afundou com um carro conceito importante, o Chrysler Norseman... tudo foi perdido para sempre...
São vários os cds qu eme marcaram já que eu tenho uma relação íntima com a música...Titãs tb me marcou mto,mas o coment tá grande demais,né?rs
ótimo post groo
Faixas:
01. O Violêro
02. O Pidido
03. Zefinha
04. Incelença do Amor Retirante
05. Joana Flôr Das Alagoas
06. Cantiga de Amigo
07. Cavaleiro do São Joaquim
08. Na Estrada Das Areias de Ouro
09. Retirada
10. Cantada
11. Acalanto
12. Canção Da Caatingueira
Fantástico meu amigo. Lembrei de minha época quando escutei Legião pela primeira vez. Foi mais ou menos parecido com a tua história.
Quanto ao "LP" Nacional que marcou época de minha vida, não tenho dúvidas que foi Legião Urbana. A música foi "Tempo Perdido".
Um abraço meu amigo.
SAVIOMACHADO
Fazendo uma relaçÃo de 5 discos de rock nacionais importantes na minha vida,pelas épocas ficaria assim:
1)Rita Lee e tuti fruti-Fruto proibido(Puro rock)
2)LEgiÃo Urbana_O primeiro disco(inicio da rebeldia)
3)Ultraje a rigor_Nós vamos invadir sua praia(gravava da Fluminense FM e queria aprender a tocar violÃo)
4)Celso Blues Boy-Som na GUitarra(este é cult)
5)LegiÃo-Quatro Estações(um monte dos meus sentimento estava lá)
Abraço,
MArcelo
Então Speed King, acho que é valido sim... Todos os que falou e até o Sepultura. Também não curto muito Charlie Brown, acho meio p... louca demais.
E qual te marcou?
Apareça sempre ai...
Valeu Ribeiro! Eu vi no seu blog e sua resposta é ótima: Sgt Peepers é maravilhoso!
Brigado Bruna, fale o quanto quiser sempre. E o Invisible touch do Genesis é uma boa pedida.
Você é eclético Felipão, e quanto ao nome da musica, o Renato contou esta história em um programa da Transamérica SP uma vez.
Brigado Marcão, comente o quanto quiser. Sempre
Anselmo, o seu foi o mais original e diferente até aqui. Vou procurar ouvir este disco.
O mesmo disco né Sávio. Acho que este marcou muita gente mesmo.
Nossa história e pareceida né Marcelo, até no gosto pelo Queen. Brigado por ter vindo e volte sempre.
Entre Cds e DVDs pela casa, ainda tenho minhas fitas gravadas numa época que comprar um LP era quase impossível!
É, Ron, a "mudernidade" avança a cada dia, mas a teca ainda vive...
Grande abraço!
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