Explicando o milagre

Na noite anterior ao anuncio oficial da criação de sua equipe, Ross Brawm tinha muitas duvidas.
Desde a confiabilidade do carro, passando pela escolha da dupla de pilotos; nome oficial da equipe até o interesse de patrocinadores em tempos tão bicudos.
Ross chegou a seu apartamento e após tomar um banho deitou-se em sua cama para organizar as idéias.
Como o sono não vinha resolveu ler um pouco. Esticou o braço e apanhou em seu criado mudo um exemplar ainda lacrado de “Formando equipes vencedoras” de Carlos Alberto Parreira.

Leu até a página setenta e três e começou então a cochilar. Brigou um pouco contra o sono, curioso que estava com andamento do livro, mas por fim não resistiu. Dormiu um sono pesado, dos justos.
No meio da madrugada, Brawn sentiu um calor muito forte e um tanto estranho para aquela época do ano. Afinal ainda era fim de inverno na Europa e as temperaturas não subiram tanto para justificar o tal calor.
Ross se levanta e decide ir ao banheiro. Cansado e ainda com sono nem nota que na sala de seu triplex há uma luz difusa de onde emana o calor.
No banheiro após concluir o que foi fazer nota que esqueceu de erguer o assento do vaso e que algumas gotas caíram sobre ele, pensa que nestas horas é que é bom morar sozinho. Ninguém vai reclamar pela manhã.
Na volta ao quarto ouve uma voz que vem da sala:
-Ross Brawn!
A voz é baixa, mas penetra em sua cabeça com a força de mil trovões.
Antes de entrar no quarto, dá meia volta e ao chegar à porta da sala se depara com aquela luz toda e reconhece no centro dela um sujeito alto, com aparência ainda jovem e um queixo muito proeminente. Traz nas mãos sete estrelas sendo cinco delas vermelhas e duas azuis. Acima de sua cabeça uma coroa de louros, como a que usavam os imperadores romanos, mas não veste túnica e sim um macacão de piloto.

-Não me reconhece Ross? –diz a figura.
-Não tenho certeza, talvez já tenha lhe visto, mas... Como entrou aqui?
-Isto não importa, mas saiba que tudo posso e tudo faço.
-Tudo? Tudo mesmo? Tudinho?
-Duvida? Não tem fé?
-Bem, não vem ao caso, mas há de convir que fé é a ultima coisa em que vou pensar vendo minha sala invadida a esta hora da madrugada... Concorda?
-Homem de pouca fé! Mas ainda assim vim até aqui para te ajudar.
Ross já um pouco mais calmo e conseguindo organizar melhor as idéias e sentimentos questiona:
-Me ajudar como? E afinal quem é você?
-Eu Sou aquele que É! – responde o homem no centro da luz – E vou te ajudar com sua nova empreitada.
-Minha equipe de F1? Ajudar como? Você pilota? Tem uma empresa grande para patrocinar a gente?
O ser não responde as perguntas de Ross Brawn, apenas o olha nos olhos e então começa a falar:
-Atrás do bloco do motor, quase embaixo dos coletores de admissão e um pouco acima dos comandos de válvula e do virabrequim tem alguns parafusos grandes e de cabeça sextavada, são os únicos em todo o motor que giram no sentido anti horário. Você vai pessoalmente aperta-los até que fiquem presos os suficientes para não serem tiradas com as mãos.
-Só?
-Calma... Vai também afinar o bico para que ele fique próximo ao que é o bico da Williams hoje...
-Por quê da Williams e não da Mclaren ou Ferrari?
-Porque acho o da Williams mais bonito, e não me interrompa!
-Depois vá até a parte traseira do carro e incline as laminas do aerofólio em trinta e sete graus para baixo. Ajuste os controles de combustível para manter a mistura com o ar a mais rica possível. Isto vai fazer com que o motor trabalhe em altos giros a maior parte do tempo sem engasgar e ainda por cima poupando os pistões. Por fim mantenha a estrada de ar dos radiadores o mais aberto possível. Não haverá forma de que o carro não ande bem.
Ross coçava a cabeça, as dicas faziam sentido e ele mesmo havia pensado nisto algumas vezes, mas não tinha posto nada em prática por absoluta distração. Pensou um pouco e decidiu acatar aqueles conselhos. Porém ainda com um pouco de reticência resolveu perguntar se depois de feito aquilo nada daria errado.
Ao que respondeu o ser na luz:
-Faça e confie, quando EU quero até a luz se faz! – e sumiu deixando em eco sua ultima frase: “-Coloque seu nome nos carros...”.

Ross com um sobressalto se vê outra vez na cama. Levanta-se procura por todos os cômodos do apartamento.
Não sabe bem que o que procura - está confuso - mas como não acha nada volta a dormir.
Na manhã seguinte faz o anuncio oficial do lançamento de sua equipe: A Brawn GP.
Depois mais tarde nas oficinas colocou em prática todos os conselhos que recebera naquela espécie de sonho.
Um dos mecânicos vendo aquilo perguntou a Ross como tinha tanta certeza de que aquilo funcionaria e recebeu como resposta a frase:
-Deus me disse... Num sonho, sei lá.
-Mas como? O senhor não é ateu? Não duvida de Deus?
-Duvido sim...
-Duvida, mas vai fazer o que ele mandou?
-Não custa nada, não é? E só para me certificar de que eu posso não estar errado e ele sim eu contratei o Button e o Barrichello, afinal para ganhar corrida com estes dois só com a ajuda de Deus mesmo...
O mecânico, com os olhos fixos no horizonte com uma expressão quase de devota balança a cabeça afirmativamente.
Eis ai o porque de estar andando tanto os carros de Ross Brawn.

Comentários

Delta Alfa disse…
Muito bom!!!!
Bruno disse…
uahauahuahauaha...
olha que a estrutura da Hinda foi oferecida para esse "Deus", na época de especulações.

Vamos ver se o Button volta aos bons tempos e o Barrichello corra mais e chore menos...

Ótimo texto.
Abraço
Análise F1 disse…
Vai ser hilário caso a Brawn tenha um carro vencedor e o Barrichello continue não sendo campeão. Vai dizer que o Brawn impediu a mando do Schumacher?rsrs

Abraço!
GiglioF1 disse…
Groo,

GFosto da sua linha didatica..alias a densidade dos fatos sao reais...será mesmo ele??

Pessoalemnte nao creio , pois Brawn e criador , em parte , de Michael...

estarei por aqui com mais frequencia!!!
Aparece lá nos pobres que ha uma enquete que voce tem de responder!!

abraco!!
Loucos por F-1 disse…
Hahahhahahaha...
Essa foi boa, mas acho que não é esse que apareceu não hein. Em forma de luz ainda, meio difícil...hehehe.

Peguei um pouquinho no seu pé lá no blog, seu ódio por Barrichello é mortal. hahahahhaha

Abração!!!

Leandro Montianele
Anônimo disse…
Excelente história, explica tudo kkkkk

Larissa
Brun@ disse…
Ahh, adorei o tom do post Groo, carece de bastante criatividade pra misturar o abstrato literário com o real da F1, e gostei de como você fez isso.

Parabéns, e veja lá no blog que não sumi não ^^
Felipe Maciel disse…
Agora sim tudo faz sentido...

Grande Ron... Esse é o furo do mês hehehe
Unknown disse…
aquele sr divino não vai revelar a sua autoria, como parte do marketing para ter uma pequinha numa tal de ferrari? prque ia pegar bem pra caramba na hora da negociação:

- olha só, quem da sua equipe já pegou um time lanterna e o fez virar noticia por quase um mês?
Unknown disse…
aquele sr divino não vai revelar a sua autoria, como parte do marketing para ter uma pequinha numa tal de ferrari? prque ia pegar bem pra caramba na hora da negociação:

- olha só, quem da sua equipe já pegou um time lanterna e o fez virar noticia por quase um mês?
Marcos Antonio disse…
hahaha ótimo!
O legal é que o Barrichello sempre é citado! rsrsrs

E a Williams tb! yeah!!!

rs
Caro Groo:

Muita gente tem me perguntado sobre o impressionante desempenho da Brawn e tudo o mais, a única coisa que me atrevo a comentar é que estou igual ao Chico Buarque: "Tô me guardando para quando o carnaval (no meu caso, leia-se Melbourne) chegar"
Groo, você está cada vez melhor em sua analogias e "estórias", são bem contadas e estruturadas.
Mas eu não seria politicamente_incorreto se não sacaneasse um pouco a estorinha né?
Pô meu.... esse "deus" aí que apareceu de madrugada no apê do Brawn é bom pra cacete de milagre, mas não entende nada de mecânica....rsr,rsr não tem como manter uma mistura rica e preservar os pistões ao mesmo tempo, a mistura rica demais provoca a lavagem da camisae seu espelhamento que diminui a vedação do embolo e consequente perda de compressão, até porque a mistura deve ser estequiometrica, que é o equilibrio perfeito entre combustível e comburente, levando em consideração todas as variaveis externas tipo temperatura, umidade e altitude. Portanto só enriquecer a mistura não resolve e ainda ajuda a detonar o motor mais cedo.... Mas fique tranquilo, Groo não estou detonando o seu post, só estou confirmando tecnicamente que as mudanças não resultariam em nenhum efeito prático, o que só vem a comprovar uma tese:
OU É MILAGRE OU OUTRA COISA.....

PS. Já que você fez uma estorinha sobre a tese do milagre, te desafio a fazer uma mais soturna em que envolveria quem sabe uma venda de alma e coisa e tal para um ser abjeto que exala um forte odor de enxofre, essa tese não deve ser descartada........
Anselmo Coyote disse…
Putz, não aguento mais ficar zanzando feito abelha em blogs, a procura de algo em que me ancorar, até chegar o dia 29, quando os motores vão roncar pra valer e os castelos de cartas vão virar purpurina. O pior é que eu já tinha riscado o BBB do meu dicionário e agora vem essa BrawnGP me aprofundar a ansiedade. Dá vontade de hibernar e acordar na hora da largada. Mas, vai que enquanto eu durmo essa BrawnGP faz a pole e eu não assisti à qualificação. Vai que eu saio da hibernação atrasado e só veja, ainda sonolento, esfregando os olhos, o Rubinho no pódio mandando um beijinho bem sacana na direção do Groo. Arghhhh!!!!!!!!!
Putz. Putz mesmo, essa bela maneira de começar e parar de falar besteiras. Quer saber, vou é pegar no pé do politicamente incorreto. Ô politicamente incorreto, que a partir de agora só vou chamar de PI, você é o cara nessas histórias de rebimbocas de parafusetas. Mas tem uma coisa, você... deixa pra lá... você está certo. Sr. dono do blog, "por favor não saque a arma no saloon; eu sou apenas o cantor.".
Marcelonso disse…
Mestre Groo,

Genial o texto,como sempre uma bela história que nos cativa.

Essa carro,essa equipe só tem uma palavra surreal!!!


abraço
Anônimo disse…
É Groo ,essa Brawn ajudou a animar a todos ,essa pré temporada estava bem devagar.

Belo post!

Jonny'O
Daniel Médici disse…
Isso me faz lembrar Woody Allen contando os "textos hassídicos" apócrifos recentemente encontrados, cuja autenticidade está sob suspeita por terem encontrado a palavra 'Oldsmobile' grafada. Do livro The Insanity Defense. Segue um resumo:

Um mercador de roupas não conseguia fazer negócio, mesmo vendendo os mesmos tecidos que seus colegas. Um dia, ele perguntou a Deus o que ele deveria fazer para que suas roupas vendessem.

E então Deus apareceu a ele, e disse: "Se tu tens fé, costurais um jacaré na lapela de suas roupas".

"Um jacaré??", perguntou, incrédulo.

"Sim, oras. Apenas fazeis o que Eu mando". E desapareceu.

E então o vendedor pôde vender suas peças, cada vez mais delas e mais caras.
Gustavo Luiz disse…
Se o barrichelo não por isto nu livro dele, é injustiça..
Recebi agora pouco "the news" que o campeão será quem ganhar mais corridas no temporada, mais um atenuante para a brawn gp, pois será em tese desnecessária a regularidade chata do lewis, por exemplo !
Anônimo disse…
Brawn e Rubinho arrebentaram em Jerez, acho que vc vai ter que rever seu post sobre as equipes.