The Royal Chronicle I e II

Quando Elvis entrou nos estúdios da Sun Records e gravou um disco para sua mãe ele não estava inventando o gênero rock´n´roll. Este já tinha sido inventado por cantores e músicos que aceleraram o blues para além do rhythm and blues.
Little Richard e Chuck Barry já faziam estragos na cabeça da molecada com ele, porém eram negros e isto ainda era um empecilho para que fossem aceitos no grande mercado branco – e racista - americano.
O que Elvis acabou criando foi o produto rock and roll.
Pela primeira vez o gênero foi embalado e devidamente vendido a toda a população – branca - dos EUA e um pouco depois para o mundo.
Então já não era apenas a musica que sustentava as vendas dos artistas de rock, que agora já não atendia apenas por rock´n´roll, mas sim cultura pop.
Além da musica e da imagem, claro, havia a necessidade de gerar mais subprodutos para manter o interesse sobre os artistas.

Assim foi com Elvis; Beatles; Stones; James Brown; Led Zeppelin e até com Michael Jackson.
E o que fazer para continuar atraindo os olhares dos compradores para seus produtos? Mais e melhores discos? Seria bom, mas nem sempre é possível.
Por vezes os produtos oficiais são um tanto chatos e frustrantes, afastando o possível comprador e encalhando nas prateleiras.
Exemplos?
Quem em sã consciência diria que a trilha sonora de Yellow Submarine é um grande disco? Beatlemaniacos fanáticos não valem.
Será que alguém tem a coragem de dizer que os álbuns de canções natalinas de Elvis são imperdíveis? Duvido.
E o Presence do Led Zeppelin? Um balde de água fria.

E o que fazer para preencher a lacuna deixada por estes produtos não tão bons?
Um mercado negro, meio que de mentirinha!
Então tome subprodutos e criam-se lendas já que a produção era pequena e a distribuição cuidadosamente planejada para parecer coisa não oficial.
Criou-se então uma coisa chamada ‘oficial bootleg’ ou seja: “discos quase piratas” com versões alternativas e/ou com sobras de estúdios para este tal mercado.
Todas as gravações geram estes itens em maior ou menor quantidade e qualidade, e isto acaba determinando seu valor, importância e, claro, mantendo o artista sob as luzes.
Um dos mais celebres talvez seja The Get Back journal, com as gravações originais do álbum Let it Be do quarteto de Liverpool.

Mas o que isto tem a ver o titulo deste texto?
Fácil, são os dois ‘oficial bootlegs’ mais famosos do Queen, meu preferido.
Por quê?
Porque dão uma geral nos lados B de compactos, musicas que ficaram de fora das gravações originais e canções da fase pré-Queen de seus integrantes.
Então temos as famosas (?) gravações de Freddie como Larry Lurex e do Smile – grupo de May e Taylor com um certo Tim Staffel.

Começamos pelo Volume dois, o mais fraco. Veja que estes “pirateiros” tem planejamento de marketing e lançam até volume dois para garimpar uns trocos na cola do êxito do primeiro.... Mas vamos ao disco.Recheado com versões extraídas de compactos estendidos americanos e ingleses – E.P. – geralmente são versões alongadas e muito parecidas com as lançadas nos discos originais. Destaque mesmo apenas a versão muito diferente de ‘A kind of magic’; a eletrônica ‘A dozen roses for my darling’ e ‘Stealing’, esta uma espécie de impromptu, com letra alegrinha e instrumental esparso. Termina num coda que desconstrói a faixa.
Mas é pouco, se comprar não garanto satisfação e muito menos seu dinheiro de volta.

Já o Volume um... É onde o tesouro se encontra.Se você já tem os discos de carreira pode então passar batido pelas faixas mais conhecidas que estão em versões que pouco acrescentam, mas pare na faixa cinco: ‘I go crazy’ é um rock faiscante que foi b-side de ‘Radio Ga ga’ e não coube no clima de The Works - de 1985 - por sua força e peso.
‘Under pressure’ é uma versão gravada nos estúdios da BBC londrina, não tem David Bowie e quase nada da original.

‘Soul Brother’ é outro b-side e a voz de Freddie vai derramando-se dos auto-falantes e inundando o ambiente. Se tivesse sido lançada em Hot Space, de 82, talvez o disco tivesse melhor sorte.
‘A human body’ traz Roger Taylor nos vocais é o lado b de ‘Play the game’, magistral!
O blues - sim um blues – ‘See what a fool I’ve been’ foi o lado b de ‘Seven seas of rhye’. Mostra um Brian May cuspindo fogo com sua guitarra feita em casa. Um Mercury endiabrado como pouco se viu em uma canção das mais pungentes e lindas. Outra que salvaria o disco, no caso Queen II, de 1974
‘Mad the swine’ é provavelmente a primeira canção gravada pelo grupo no De Lane Lea Studios e seria a primeira musica com temática religiosa da banda: “Hold your hands and praise the Lord”... Diz a letra.
Como não entrou no disco Queen, de 1973 a primazia coube a ‘Jesus’ que fecha o álbum
‘Mad...’ ficou inédita até 1991 quando foi finalmente editada oficialmente num EP com ‘Headlong’ do álbum Inuendo.

Também está neste pirata o compacto gravado por Freddie antes do primeiro disco do Queen, com o nome de Larry Lurex. As canções são ‘Goin back’ de Carole King e ‘I can hear music’ de Phil Spector. Os instrumentos são tocados por Brian e Roger.
O Smile, grupo pré-Queen de Taylor e May gravou apenas compactos para o mercado americano e japonês e aqui estão todos eles. ‘Earth’; ‘Step on me’; ‘Blag’; ‘April Lady’ e ‘Polar bear’. Todas boas canções, mas sem a força de Mercury nos vocais, o Smile jamais chegaria a um décimo do sucesso do Queen. E cá entre nós que grande jogada foi trocar este Staffel por Freddie!
Tudo devidamente embalado com a aura de “pirata ma non tropo” e posto no mercado para atrair mais afccionados e disfarçar o gosto ruim de lançamentos menos inspirados.
É bom para a indústria e artistas e ainda melhor para nós.


Nossa rádio ainda não tem musica, mas quando tiver vai ser com a qualidade e importância do Queen e seus contemporâneos.
No momento o que temos é a mais nova edição da Rádio on Board, comigo e com Felipe Maciel, dando uma geral sobre os ultimos acontecimentos nefastos da F1 e também falando da próxima corrida, que será noturna - ao menos em Singapura - e sempre nos dá boas imagens, ainda que esta seja só a segunda da história... Ouve lá, comenta ai...

Comentários

Marcos Antonio disse…
Sempre gostei do queen mas apssei a gostar mto mais quando passei a conversar com vc, nem sabia da existência desses albuns b side, vou procurá-los na net!

E o Queen II é legal,não acho tão ruim não...
Unknown disse…
nunca entrei de cheio na discografia de queen, mais gosto especialmente de uma versão de "we wil rock you" ao vivo, muito punk. foi numa apresentação em 79

além, "the prophet song" é a mais fantástica musica desconhecida de mercury
Anônimo disse…
Groo estragou meu planejamento dos próximos dias. Agora eu TENHO que ir atrás desses bootlegs.

Bom ver um texto de quem manja da banda! Gosto de Queen pra cara*lho
Anselmo Coyote disse…
Wow!!!

Nem meu pai que é DJ da igreja de São José Operário sabe tanta coisa.

Abs.
Ron Groo disse…
Marcão, o disco não é ruim, mas é difícl de entender para quem não é queenmaniaco. Muito complexo.

Luis Marcelo, esta versão de "We will..." foi muito usada para abrir os shows do grupo durante um bom tempo. E no fim dos shows a musica era tocada novamente no formato original.
Já "The prophet song" não é de Mercury e sim de May, e foi sucesso em varios pontos da Europa.
Sua versão ao vivo tem mais de 15 minutos.
Net Esportes disse…
Eu não sabia que tinha esse tipo de coisa, sinceramente nem faço idéia se algumas de minhas bandas favoritas tem alguma coisa parecida !!!!!!! e um salve para o Chuck Berry ... esse era o cara !!!!
Felipão disse…
fiquei com vontadade de ouvir também...

tenho pouca coisa do queen aqui, como aqueles dois greatest hits, inuendo e mais dois que não lembro...
Anônimo disse…
Obrigado, bom trabalho! Este foi o material que eu tinha que ter.