Contos do Le Sanatéur, epílogo.

-Anselmo? O que o De Fran queria?
-Esqueci... Ce trocou de assunto... Eu esqueci.
-Faz uma força... Lembra ai.
-Não consigo. Eu não tenho memória fotográfica, por isto sou fotografo.
-Ah... Agora deu pra filosofar?
-Tem mais coisas entre a lente e o olho do que supõe sua vã filosofia...
-Vixe!

E virando para Leandrus:
-Ô russo... Chega!
-Mas Ron! Ainda estar no gênesis do assunto!
-Vai logo pro apocalipse.
-E enton eles non vem mais. – termina Leandrus.

-E ai? – tornando a falar com Anselmo.
-Não entendi porra nenhuma... Ô Leandrus... Faz o seguinte: a gente veio aqui pra fotografar... – diz Anselmo.
-Ou não! – corta Ron.
-... Um fantasma que nosso chefe e o concorrente cismaram que existe no seu hotel....
-Besteira, na maximo tem ratos aqui...
- Também acho, mas arruma um pra gente fotografar e fazer uma matéria que eu arrumo uma banda de jazz pro festival.
-Fechada! – E Leandrus sai depressa para cumprir sua parte no combinado.

-Anselmo, produzir fantasma falso e matéria tudo bem, mas onde ce vai arrumar uma banda de jazz?
-Ora Ron! Pra quem arruma boa aparência para cadáver... Arrumar uma banda de jazz é mole... Pega minha agenda e vamos dar umas telefonadas...
-Bem... Se você diz... Vamos então!
E na sala de Leandrus os dois tomam conta dos telefones por algumas horas...

-Alô! Quem fala? Anselmo? Sim... Aqui é a Dra. Remédios... Se eu sei tocar algum instrumento? Sei sim... Eu toco oboé. É Anselmo, oboé! Como assim? Proíbido pela convenção de Genebra? Anselmo, oboé é um instrumento lindo! Arma de destuição em massa? Ah vá Anselmo...

-Aloun! Si és Iriarte? Ron? Todo bien? Si io toco algun instrumento? Si io toco... Mas por quê? Ah... Claro, claro... Io participo, pero... Vá rolar pochoclios?

-Alon! É o De Sran salando... Ron... O que vofê quer eftas horas? Por quê não me ligou maif fedo? Tá... Fe eu toco alfuma oisa? Não. Mas eu pofo cantar! Como assim fe não tem tu fai tu mesmo?

De fato, após as, às vinte e duas horas daquele mesmo dia sobem ao palco do anfiteatro do Hotel Paradise a: “Continental Circus Jazz Band” que tem em seu line up Anselmo no trompete; Ron no trombone, Doutora Remédios na tuba; Lê Felipon na guitarra; Oliver na bateria; Iriarte no piano; De Rã no contrabaixo e De Fran cantando.
Todos constrangidos com a idéia de Anselmo, mas ainda assim mandam bem com uma letra improvisada sobre o suposto fantasma do Paradise.


The ghost of Stephen Foster at the hotel paradise
This is what I told him as I gazed into his eyes
Ships were made for sinking
Whiskey made for drinking
If we were made of celephane we'd all get stinking drunk much faster

O show é um sucesso, a platéia brinda a banda dando tiros para o alto.
Alguns dirão ser impossível já que eram analfabetos musicais e outros dirão que isto é free jazz, com cada um tocando uma música e assim fica fácil.
Mas ninguém tinha razão.
O que saiu dos instrumentos foi um legitimo dixieland, envolto em uma aura sobrenatural que muitos juram ter visto sobre o palco. Surpresos com os aplausos – e tiros em sua homenagem – Anselmo e Ron esquecem de fazer as fotos do fantasma que Leandrus trouxera e que na verdade era apenas seu gerente Montianele pintado e vestido de branco. E para coroar os fenômenos sem explicação da noite anterior, a edição de Le Sanatéur vai às bancas com a manchete: “Fantasma jazzista aprecia banda no Paradise”.
Espantosamente com foto e tudo...

Todas as fotos, exceto a do carro, são do genial Weegee.

Comentários

Marcos Antonio disse…
po groo,esses contos do le santeur, vc tá matando a pau! Leandrus traficante de jujuba, e o gerent emontianele vestido de branco foi mto engraçado! Sem Contar com o Di Fran e o Di Rã!kkkkkkkkkkkk

afinal qual foi o recado que o Di Fran deixou pra você?
Anselmo Coyote disse…
Groo,
Vc está cada vez melhor.... hehehe!!!!
O incrível é que num conto desses dá pra ver a variedade dos tipos mias que inusitados e a criatividade do val improviso....resumo em uma única palavra(embora usei neologismo para esta) "MISCELÂNICO" !

Parabéns Groo pela sua sanidade de escrever para o entreteniemnto de insanos como eu. (rs)
Speeder76 disse…
Já começo a esgotar os adjectivos acerca dos teus contos que colocas aqui neste belo blog. Chegar aqui e dizer "maravilhoso" começa a ser repetitivo...

Agradeço também teres dado o meu nome à tua banda de jazz... fizeste despertar o meu lado melómano, embora quando quero ouvir alguma coisa, sou mais de Miles Davies, John Coltrane ou a fabulosa Nina Simone.

Groo, digo isto mais uma vez: já é altura de colocar isso tudo em livro! Abraços.
Unknown disse…
O que posso falar já esgotei e esgotarm os elogios.

Muito bom!
Unknown disse…
to-tal!! espectacular, agora só quero ler a seguinte parte!!

olha, mi pagamiento en pochoglios subió, subió a 3 sacos de pochogio! estoy tocando muy bien!!

e isso que no piano, não tem piloto de kart que me ganhe!
Leandrus disse…
Olha a banda que eu deixei tocar, kkkkkk
Hahahahhahhahhahaha....
O Le Sanatéur vai ficando cada vez melhor, simplesmente sensacional!! Eu era o gerente pintado e vestido de branco...hahahahhaa. Só o Leandrus mesmo para me fazer passar de fantasma. Pena que Ron e Anselmo se esqueceram de fazer as fotos.

Vou esperar os próximos epsódios do Le Sanatéur hein.

Abraços do Sanatório!
Daniel Médici disse…
Imagino esse show final como uma reedição de uma antológica apresentação do Nick Cave and the Bad Seeds, quando receberam um prêmio pela participação em Asas do Desejo, no fim de 1986. O ministro da cultura da RFA estava presente. Literalmente, cada integrante tocou uma música diferente, e todas as garçonetes na recepção tiveram de ser retiradas devido às cantadas insistentes dos músicos.
Fernando Mayer disse…
Fala Groo!!

Sensacional este conto!É sempre bom viajar nestas tuas histórias.

Abç
Remédios a bela disse…
Groo, Você é fantástico...Adorei.
Vou deixar uma dica caso você se interesse. Ouça o álbum que o Zeca Baleiro fez em homenagem a escritora Hilda Hilst: Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio.
Abraços...
Anônimo disse…
Hahahahaha...
Mto bom!
Vai ter mais?

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