Muito diferente do que disse Belchior em “Balada de Madame Frigidaire”, a TV nunca teve de enfrentar a geladeira como nossa amante. Ela é a rainha absoluta do lar.
A TV é dona da casa e a geladeira no máximo uma escrava branca.
E por conta disso a família estava toda reunida em torno dela em uma noite chuvosa de segunda-feira.
-Sessenta anos de TV no Brasil... – diz a mãe.
-Pois é... Mais de meio século... – diz o pai.
-Vocês viram a TV quando inaugurou? – perguntou a filha do meio.
-Não, não... TV era coisa de rico. Em São Paulo, maior metrópole do país só tinha no máximo uns duzentos aparelhos... E foi Assis Chateaubriand que mandou trazer de fora do país... Meio que por maracutaia... Já que veio como contrabando. – conta o pai.
-E ninguém pegou ele? Perguntou a mais velha.
-Pegar Chateaubriand? Que isto... Era o homem mais importante daquela época. Influenciava presidentes, até mudava ou pedia leis para que levasse vantagem... Getúlio Vargas era muito seu amigo.
-E como ele fez pra que ninguém o acusasse de contrabando? – quis saber a do meio.
-Porque ele mandou uma TV para a funcionária que poderia acatar a denuncia... Ai já viu... – disse o pai.
-Eu queria saber o que foi que passou na TV no primeiro dia.... – diz o filho mais novo.
-Ah... Eu li que foram uns discursos, e depois um show de musica...
Então o avô, que até ali se mantivera calado resolve falar.
-Mentira! Não foi nada disto... Ou melhor, quase nada disto...
Espantados todos tiram os olhos da TV e começam a prestar atenção ao velho sentado em uma poltrona reclinável.
-Foi uma noite esquisita... Eu estava no trabalho, no ministério da Saúde, e lá tinha uma TV. Cortesia do Chatô...
-Chatô? – pergunta a filha do meio.
-Era como chamavam - pelas costas, claro - o Assis Chateaubriand... E eu vi tudo...
-Conta, como foi? – diz o menino caçula.
-Atrasou... Atrasou muito a primeira exibição... Na TV aparecia apenas uma imagem parada de um indiozinho... A gente ficou olhando o indiozinho... E ele não se mexia...
-TV Tupi! – esclareceu o pai.
-Isto... E de um minuto para o outro apareceram na tela um monte de gente. Uma imagem esquisita, luminosa em branco e preto. Umas autoridades discursaram, o Chatô discursou... Uma mulher feia cantou alguma coisa e então tivemos uma visão terrível... Uma visão do inferno. A sorte era que existiam menos de trezentos aparelhos espalhados pela cidade, se não muita gente morreria de infarto. Eu mesmo só consegui encarar uma TV novamente muito tempo depois...
-Então foi filme de terror! – comemorou o caçula.
-Isto... – disse o avô encerrando o assunto.
Então todos se voltam novamente apara o aparelho de TV e continuam a assistir seus programas prediletos.
“-E agora com vocês a primeira dama da TV brasileira: Hebe Camargo!” – diz a voz da TV.
Espantado, o avô olha para todos na sala e diz:
-Olha ai... A gente falando da primeira transmissão e não é que eles vão reprisar o tal filme de terror que passou aquele dia?
A TV é dona da casa e a geladeira no máximo uma escrava branca.
E por conta disso a família estava toda reunida em torno dela em uma noite chuvosa de segunda-feira.

-Pois é... Mais de meio século... – diz o pai.
-Vocês viram a TV quando inaugurou? – perguntou a filha do meio.
-Não, não... TV era coisa de rico. Em São Paulo, maior metrópole do país só tinha no máximo uns duzentos aparelhos... E foi Assis Chateaubriand que mandou trazer de fora do país... Meio que por maracutaia... Já que veio como contrabando. – conta o pai.
-E ninguém pegou ele? Perguntou a mais velha.
-Pegar Chateaubriand? Que isto... Era o homem mais importante daquela época. Influenciava presidentes, até mudava ou pedia leis para que levasse vantagem... Getúlio Vargas era muito seu amigo.
-E como ele fez pra que ninguém o acusasse de contrabando? – quis saber a do meio.
-Porque ele mandou uma TV para a funcionária que poderia acatar a denuncia... Ai já viu... – disse o pai.
-Eu queria saber o que foi que passou na TV no primeiro dia.... – diz o filho mais novo.
-Ah... Eu li que foram uns discursos, e depois um show de musica...
Então o avô, que até ali se mantivera calado resolve falar.
-Mentira! Não foi nada disto... Ou melhor, quase nada disto...
Espantados todos tiram os olhos da TV e começam a prestar atenção ao velho sentado em uma poltrona reclinável.
-Foi uma noite esquisita... Eu estava no trabalho, no ministério da Saúde, e lá tinha uma TV. Cortesia do Chatô...
-Chatô? – pergunta a filha do meio.
-Era como chamavam - pelas costas, claro - o Assis Chateaubriand... E eu vi tudo...
-Conta, como foi? – diz o menino caçula.
-Atrasou... Atrasou muito a primeira exibição... Na TV aparecia apenas uma imagem parada de um indiozinho... A gente ficou olhando o indiozinho... E ele não se mexia...

-Isto... E de um minuto para o outro apareceram na tela um monte de gente. Uma imagem esquisita, luminosa em branco e preto. Umas autoridades discursaram, o Chatô discursou... Uma mulher feia cantou alguma coisa e então tivemos uma visão terrível... Uma visão do inferno. A sorte era que existiam menos de trezentos aparelhos espalhados pela cidade, se não muita gente morreria de infarto. Eu mesmo só consegui encarar uma TV novamente muito tempo depois...
-Então foi filme de terror! – comemorou o caçula.
-Isto... – disse o avô encerrando o assunto.
Então todos se voltam novamente apara o aparelho de TV e continuam a assistir seus programas prediletos.
“-E agora com vocês a primeira dama da TV brasileira: Hebe Camargo!” – diz a voz da TV.

-Olha ai... A gente falando da primeira transmissão e não é que eles vão reprisar o tal filme de terror que passou aquele dia?
Comentários
Vc vai pro inferno. Onde já se viu?!
Por falar em Chatô, o livro Chatô. o Rei do Brasil, do Fernando Morais é primoroso e desvela esse mito que foi o Assis chateaubriand.
É preciso admitir: o cara, apesar de tudo, era fera.
Abs.
Vc vai pro inferno. Onde já se viu?!
Por falar em Chatô, o livro Chatô. o Rei do Brasil, do Fernando Morais é primoroso e desvela esse mito que foi o Assis chateaubriand.
É preciso admitir: o cara, apesar de tudo, era fera.
Abs.
Como bem colocou nosso ilustre camarada Coyote, Chatô tem seus méritos é verdade,ainda que por meios tortuosos.
Se não me engano,tem um ator Guilherme sei lá do que,que embolsou uma bela grana para fazer um longa sobre Chatô,e o tal filme nunca saiu.
Maldade sua com a primeira dama hein!
Com mais uma plástica vai ficar de cavanhaque.
Mc,um Marcelonso já é o suficiente meu bom!
abs
Te conto uma do Chateau um dia desses...