Senhor Brasil

Sandro sempre foi um sujeito surpreendente.
Suas atitudes eram tão imprevisíveis quanto suas letras.
Tinha rompantes geniais, e momentos de pasmaceira completa.
Podia tanto ser uma besta como ser bestial.
Tudo dependia do estimulo. Estivesse sua platéia a fim de por fogo e ele se incendiava. Mas se a recepção fosse morna, não precisava nem ser frívola, ele ia esfriando até se tornar um bloco de gelo.
Geralmente queimava.

Os pais de seus amigos, não todos, mas uns e outros tinham o habito de assistir no domingo pela manhã o programa ‘Som Brasil’ do compositor e contador de causos Rolando Boldrin, o Sr. Brasil, e justamente neste dia um destes amigos estava na sala e viu de relance, enquanto Sr. Boldrin anunciava as atrações do dia, a figura do Sandro em cima do palco.

Ligou pra um que ligou pra outro; que ligou pra mais um e foi-se formando uma cadeia.

Logo quase todos na Vila Bela e em parte de Franco da Rocha estavam sintonizados no ‘Som Brasil’.

Na volta dos comerciais aparece logo em cena o apresentador. Plano fechado da cintura pra cima e Sr. Boldrin conta um causo: -Então o homem manda chamar o fiscal de bilhetes do trem e lhe diz: ”-O Senhor me acorde na estação de Limeira, que lá vou fechar negocio numa partida de laranja pra suco. Lhe dou $500, adiantado, mas não deixe de me acordar em Limeira...”
O fiscal aceita o encargo, embolsa o dinheiro e volta a sua ronda. O homem põe-se a dormir e ronca sono alto, dos justos.
Passado os quilômetros o homem acorda com o fiscal gritando a plenos pulmões: “-São Carlos, São Carlos”.
O Comerciante de laranjas que dormia acordou sobressaltado e com os olhos embaçados de sono, vê que sua estação passou e que seu negocio tinha sido arruinado. Levantou-se e pegou o fiscal pelo colarinho enquanto gritava: “- Vosmece arruinou meu negocio, eu lhe pedi, eu lhe paguei, tinha que descer em Limeira e nós já estamos à altura de São Carlos! Estas horas já não chego a tempo na fazenda, não compro mais a partida de laranja pra suco, estou arruinado comercialmente... O que foi que o senhor me fez? Hã?”
Nisto duas velhinhas que estavam sentadas umas poltronas atrás do comerciante de laranjas comentam entre si: “Como ficou bravo este senhor...”

No que a outra responde: “É porque você não viu como xingava o homem que ele jogou pra fora do trem em Limeira...”

Os aplausos romperam o silencio e a admiração com que a platéia ouvia o apresentador e logo na seqüência um conjunto regional ataca tocando ‘O trem das Onze’do compositor paulista Adoniran Barbosa: “-Não posso ficar mais nem um minuto com você/sinto muito amor, mas, não pode ser/moro em Jaçanã, se eu perder este trem que parte agora às onze horas/só amanhã de manhã...”.

Enquanto a musica ia sendo tocada, as câmeras davam close nos cantores, nos instrumentistas, passeavam pelo palco, mostrando ora um, ora outro violeiro, percussionista, os cantores.

As pessoas que assistiam ao programa perceberam que Sandro estava sentado entre os violeiros, com a viola no colo, fazendo os movimentos com a mão direita, mas sem mover um dedo da mão esquerda. Ou seja, não estava tocando absolutamente nada!
O Sr. Brasil também percebeu e ao fim da apresentação, como sempre fazia foi trocar um dedo de prosa com os convidados:
“... tenho minha casa pra cuidar, eu não posso ficar”. – Aplausos.
-Parabéns ocês são muito bão! Parabéns... – Disse o Sr. Brasil.
-Obrigado Sr. Boldrin, pra nós é muito gratificante estar aqui! – Disse um dos cantores.
Nisto Rolando Boldrin, se vira para Sandro e emenda um dialogo rápido:
-Ocê deve de ser de uma família tradicionar de violeros, num é?
-Sou sim! – Mentiu Sandro. E continuou: - Meu pai tinha uma dupla com um amigo...
-E quem eram eles? – Quis saber Boldrin.
-Laurito e Loreto. – Continuou mentindo.
-E qual deles era o senhor seu pai?
-Até hoje eu não sei... – E a platéia explodiu em risos enquanto o apresentador olhava para a câmera com cara de espanto.
-Não, não... Não é que eu não saiba quem é meu pai, eu sei sim. Só não sei quem era quem na dupla...
- Ah bão! Assim, sim! – Aliviado o Sr. Brasil continuou. – Eu me lembro apenas de um, do Loreto...
- Pois é, esse ai era meu pai... – Continuou a mentira na maior cara de pau.
-Mas este cantava suzinho...
- Pois é... Meu pai foi um dos pioneiros. Foi cantar solo.
- Desmontou a dupra?
-É ele que começou com isto, de cantar sozinho... Desmontou a dupla e montou uma umpla!
Rolando Boldrin balançou a cabeça negativamente, a platéia riu e entrou os comerciais. Num movimento como o da queda de dominós quase todos os televisores da Vila Bela e parte dos de Franco da Rocha foram sendo desligados ou mudados de sintonia. Exalando um aroma de decepção profunda no ar.

Comentários

Anônimo disse…
... e M.C., primeirão, escreve: Por onde anda o senhor Brasil ? E por que a razão do apelido ? Tive contato com o programa dele simplesmente por acordar cedo para assistir a F1 heróica daquele inicio dos anos 1980... 1981... Diria até que foi o meu contato imediato de terceiro grau com as coisas da roça ! Diria a roça chique ! Para mim, era o óvni caipira pousando, muito antes do óvni da Xuxa ( péssima lembrança, admito !)! Me lembro que ele, Rolando Lero, abria o "leque" e vi um programa com Dominguinhos ! Ual ! Eu gostava. Ficava calmo prá assistir as corridas e o jovem Chatão Bueno a narrar... Teve uma época que ele foi prá Bandeidantes e fiquei livre por um ano ! Lembra ? Mas, insisto: Por que "senhor Brasil" ? O programa, dizem alguns, ficou melhor quando foi apresentado por Zeca Diabo ! O pistoleiro assassino, "amigo" do Bem Amado, contava histórias de escritores consagrados como Guimarães Rosa ! Depois, apaixonou-se pela viúva Porcina... a paixão foi limando, limando o nosso novo senhor Brasil que ele acabou esgotaaaaado ! Sai do pograma, sô ! Tô certo ou tô errado ? Ela, a viúva, continua com medo do lullalá e amigo do Nosferatu do Morumbi ? Pêéssedebicha ? Sei que veio vender sandubas naturais aqui, no Rio, na praia de Copabacana e ficou rica ! Metira de novela... E aí todo os senhores e senhoras brasis querem vir prá cá ! E prá Sampa ! Olha que mer... Porcina, apesar de uma filha maldosa, que, hoje, está nas novela da nove fazendo "novas" maldades, venceu no Rio ! O melhor da novela foi a banana do corruPTo, em jatinho, a caminho do casamento do principe de Monaco ! O carequinha taradão ! Se não me engano, o corruPTo era um dos costureiros de uma novela chamada... chamada... me esqueci ! Ti ti ti... minha memória anda falhando ! Tá que nem brasileiro... Mas não desisto nunca ! Estou me perdendo totalmente neste giro global ! Rolando Lero morreu ! Sinto falta dele pois ria demais com a figura na escolinha do Professor Raimundo que também apresentou o programa ! Outro senhor brasil... Esse então brasilzaço ! Roalando vendia tubos e conexões Tigre como ninguém naquelas décadas de 1980 e 1990 do século passado... Deram participação societária prá ele ? Deveriam pois a Amanco tá crescendo faz década com o Carlinhos Brown ! Aliás, o batuqueiro continua genro do Chic Buááár que ? Aquele senhor Brasil das mulheres "sem orifícios"... Mas por que, Groo, Rolando era o Senhor Brasil ? Isso é lero de caipira pois o Brasil é bem maior que a caipiragem e lá fora é mais conhecido pela... Bossa Nova ! Eu, hein ? Beco Das garrafas... Rio de Janeiro ? Cariocas ? Que gente esquisita... eu nao tô legal ! Não aceito mais birita ! Falano nisso: Renatão e Cazuzinha, são senhores ... Brasil ? Vamos celebrar a estupidez do povo ! Nossa política( "mudei!") e televisão. Vamos celebrar nosso governo. E nosso estado que não é nação... BRASIL ! Mostra a sua cara ! Quero ver quem paga prá gente ficar assim ! BRASIL ! Qual é o teu negócio, o nome do teu sócio ! Confia em mim ... O que escuto agora... Luan Santana ou Love Unlimited Orchestra ? Groo, acorda.
Ron Groo disse…
O programa passa as dez da noite toda quinta feira na TV Cultura - SP.

É Senhor Brasil por ajudar a divulgar a música brasileira em primeiro lugar, seja regional ou nacionalmente conhecida.
Não tem muito de roça lá, apesar do carregado sotaque.
Marcelonso disse…
Groo,

Lembro do tempo em que havia o Som Brasil aos domingos na Venus Platinada, com Boldrin.

Tinha uma parceiro dele que era muito engraçado, contava causos - não lembro o nome agora.

Esse cara merece reconhecimento, foi pioneiro em trazer a autentica musica brasileira regional ao grande público.


abs
andreh disse…
Marcelonso, o parceiro dele não era o Ranchinho? E sempre q eles proseavam soltavam um: É Verrrrdadi!!! Bons tempos!!!