Eu entrei na maquina do tempo

Enquanto batuco este texto meus ouvidos buzinam, minha voz falha gritantemente e minhas pernas doem, mas estou absurdamente feliz.
Houve um tempo em que me deslocava quilômetros em horários bem ingratos para seguir meus heróis da adolescência.
Heróis cujos superpoderes eram “apenas” os de dominar instrumentos musicais e palavras com a maestria e energia de gigantes.
Às vezes nem pareciam humanos...

Titãs, Legião, Engenheiros e os Paralamas formavam um quarteto mais importante e – ao menos para mim – muito mais relevante que os ídolos mais comuns da moçada de minha idade com quem me relacionava.
Não que eu não gostasse de futebol ou outros esportes, mas as respostas aos meus anseios e duvidas assim como o conforto às tristezas - que adolescente fica triste às pampas, por tudo e por nada - e os grandes momentos de desafogo vinham da música, destes quatro ícones principalmente.
Mais do que isto, falando francamente, ajudaram a formar a consciência política – já que os próprios teimam em não fazer – e porque não dizer: o caráter de uma geração.

O tempo se encarregou de amenizar e por fim extinguir o “sofrimento” adolescente e trazer à tona preocupações mais reais, menos fúteis e muito mais difíceis de soterrar com acordes, solos e letras.
Isto também faz com que nos afastemos gradualmente dos primeiros heróis. Não o suficiente para esquecê-los, mas o bastante para deixar de segui-los como antes.

Porém, quando eles (os heróis) vêm até o quintal de casa é impossível não se lembrar daqueles tempos, não voltar, ainda que por poucas horas, a ser o mesmo adolescente, ter algumas das mesmas sensações e principalmente: é difícil não ir até eles como antes.
Ainda que o corpo seja e reaja de forma diferente.

Como o meu agora depois de estar por pouco mais de uma hora e meia, junto com alguns poucos, mas bons amigos, frente a frente com o ultimo baluarte da geração oitenta do rock brasileiro, gritar, cantar, pular e mover o corpo num simulacro – olhando de fora - bizarro de dança, me sinto muito mais leve.
Como se a idade e o dia a dia se tornassem um pouco mais leves. Ou como se eu ainda tivesse aquela força meio descontrolada da adolescência

Valeu Paralamas!
Por enfileirar canções que emocionavam e emocionam, lavavam e ainda lavam a alma, vingava e ainda nos vinga contra governos e cidades que apresentam suas armas e nos mostrava que o espanto está sempre nos olhos de quem vê um grande monstro se criando.
E parafraseando uma das únicas canções das quais senti falta (a outra foi Trac-Trac):
“-O bom de viver é estar vivo, ter irmãos, ter amigos...”
E velhos heróis para nos lembrar que se já não somos tão jovens, ainda não morremos.


Comentários

Marcelonso disse…
Groo,

Essa é a beleza de estar vivo. Viver intensamente, pois a única coisa que levamos da vida é a vida que vivemos...

Belo texto


abs
Rubs disse…
Valeu, Cara!
As ressonâncias musicais são uma máquina de evasão do tempo.
Nada mais terapêutico: sair do tempo cronológico; montar no seu hipopótamo e retornar até o início das eras para re-conhecer-se.

"Too old to rock and roll, too young to die!"
Ian Anderson
Anônimo disse…
...e M.C., escreve: não... o mais importante na vida é aproveitá-la e mais importante ainda é deixar os outros aproveitarem da maneira que bem quiserem. Por exemplo: dormi bem pacas hoje, nem um buzinaço na rua, de madrugada e acho que a minha cidade acordou como na década de 1970... extremamente cosmopolizada, portanto, civilizada ! O Manipuladão 2011 acabou ! Mas tenho que reconhecer que a maneira dos mais ingênuos provincianos de aproveitar a vida é se iludindo com o pénabola... é difícil pacas mostrar-lhes a manipulação ! Por isso, planejo sair do sorRio e ir para um lugar onde esse pão e circo - mais circo do que pão - não influencie tanto as cabeças mais fracas. Não se trata de gente pobre não... ontem, já sabendo o desfecho penabolístico - cheguei a escrever que seria empate cá e lá, e desde agosto o Timal pentelhocãopeão, mas o senhor Groo apagou os meus cocômentários -, passeava eu por QueBarra da Tijuca e os bares cheios de jovens e velhacos bobocas com camisa dos dois times das maiores torcidas carioquinas... paixão é foda. Mas, tenho que reconhecer, infelizmente, que aproveitam a vida enchendo o saco dos outros que querem a paz e o silêncio. Como o populismo soncialista se serve do pão e circo - e os Parachoques sabem bem disso, né, careca ? Cadê a música para o Inácio que se viu no palácio e se aliou com os 300 picaretas, hein ? - preciso aproveitar minha vida em outro lugar. Penso em ir morar em Paris, Nova York, Miami, Lisboa ou Sidney. Mas perto, quem sabe, em Vitória ou Floripa. AH !
Tohmé disse…
Foi uma boa injeção de ânimo.
Show o texto! Curto muito os Paralamas, acho que na minha preferência são uma das poucas bands sobreviventes que merecem ser lembradas sempre e pra sempre. +D
Abraços!