O dia tinha tudo para começar bem.
Após a chuva da noite anterior, um céu azul descortinava uma manhã igual às dos finais felizes em filmes água com açúcar. Porém, ao se dirigir ao banheiro para a higiene matinal percebe que a água da torneira está minguando.
Ainda com a boca cheia de espuma do creme dental, se dirige a pia da cozinha e tem a mesma impressão.
Volta ao banheiro e após fazer uso da bacia, despreocupadamente toca a descarga e se dirige ao chuveiro.
Termina de escovar os dentes em um banho rápido, apenas para despertar.
Sente a água do chuveiro diminuir também mas ainda assim não dá a devida importância.
Fecha o chuveiro e se troca para trabalhar.
Deixa um bilhete dizendo que provavelmente não há água no bairro, quiçá na cidade.
“-Economizem!” – é o que pede.
No fim da tarde, após um dia normal de trabalho retorna ao lar.
De passagem pelo registro, confere se o abastecimento já foi restabelecido.
Ao abrir a torneira, além do ar que normalmente se forma quando falta água, um jorro irregular confirma que se não está totalmente normalizado, não demora para o serviço voltar ao normal. Então sorri satisfeito.
Entra em casa e nota tudo relativamente calmo.
Não há louças sobre a pia, o que denota o uso da água da caixa.
“-Deve estar tudo certo.” – pensa.
Pega sua toalha, seu xampu anticaspa e parte para o revigorante banho de fim de expediente.
Entra no banheiro, tira a roupa e se posiciona embaixo do chuveiro, porém ao abri-lo...
O apocalipse tem início.
Uma fumaça densa com forte cheiro de borracha e plástico queimado toma conta do ambiente. Labaredas e faíscas caem de onde se esperava apenas água aquecida.
Há queda de energia, piscar de luzes e gritaria generalizada nos outros cômodos. O desarme do disjuntor deixa a casa às escuras.
Pálido de susto veste-se com as roupas pelo avesso e sai do banheiro.
Prefere não comentar nada, apenas pede calma.
Vai ao quarto e pega na gaveta de cuecas sua preciosa e única ferramenta: um grifo.
Volta ao banheiro e com o auxilio da chave retira o chuveiro. Na verdade não precisava do grifo, mas são tão poucas as chances de usá-lo que não resiste.
Sob os olhos do filho mais velho que apenas balançava a cabeça e estralava os lábios com aquele som característico de quem nega algo, desmonta o chuveiro e vê que a resistência está grudada nas paredes plásticas e as borrachas de vedação estão um tanto deformadas.
“-Dá pra consertar, é só desgrudar a resistência daqui e esticar um pouco mais as borrachas!” – diz – “-Tudo sob controle!”.O filho acha melhor não contrariar.
Após aproximadamente meia hora de briga, consegue livrar a resistência. Não sem quebrá-la em um pequeno pedaço: “-É só esticar um pouco mais...”
Volta ao banheiro e reinstala o chuveiro.
Abre a torneira e deixa que a água – ainda fria – encha o bojo. Só então põe a chave na posição “verão” e liga novamente.
E novamente a versão caseira do apocalipse, com direito outra vez ao fogo, faíscas e cheiro de enxofre. Só falta o cramulhão em pessoa.
Sob o olhar acusador de todos sai do banheiro e, ainda com a roupa vestida pelo avesso, sai em busca de uma loja de materiais de construção para comprar um novo chuveiro.
Pedindo apenas aos céus para que, desta vez, não tenha danificado toda a instalação elétrica da casa.
Na volta, instala o chuveiro novo, segue os procedimentos e tudo funciona a contento: “-Tudo sob controle!” – diz ele sob olhares desconfiados e com sessenta reais a menos no bolso.
“-Tudo sob controle...”
Após a chuva da noite anterior, um céu azul descortinava uma manhã igual às dos finais felizes em filmes água com açúcar. Porém, ao se dirigir ao banheiro para a higiene matinal percebe que a água da torneira está minguando.
Ainda com a boca cheia de espuma do creme dental, se dirige a pia da cozinha e tem a mesma impressão.
Volta ao banheiro e após fazer uso da bacia, despreocupadamente toca a descarga e se dirige ao chuveiro.
Termina de escovar os dentes em um banho rápido, apenas para despertar.
Sente a água do chuveiro diminuir também mas ainda assim não dá a devida importância.
Fecha o chuveiro e se troca para trabalhar.
Deixa um bilhete dizendo que provavelmente não há água no bairro, quiçá na cidade.
“-Economizem!” – é o que pede.
No fim da tarde, após um dia normal de trabalho retorna ao lar.
De passagem pelo registro, confere se o abastecimento já foi restabelecido.
Ao abrir a torneira, além do ar que normalmente se forma quando falta água, um jorro irregular confirma que se não está totalmente normalizado, não demora para o serviço voltar ao normal. Então sorri satisfeito.
Entra em casa e nota tudo relativamente calmo.
Não há louças sobre a pia, o que denota o uso da água da caixa.
“-Deve estar tudo certo.” – pensa.
Pega sua toalha, seu xampu anticaspa e parte para o revigorante banho de fim de expediente.
Entra no banheiro, tira a roupa e se posiciona embaixo do chuveiro, porém ao abri-lo...
O apocalipse tem início.
Uma fumaça densa com forte cheiro de borracha e plástico queimado toma conta do ambiente. Labaredas e faíscas caem de onde se esperava apenas água aquecida.
Há queda de energia, piscar de luzes e gritaria generalizada nos outros cômodos. O desarme do disjuntor deixa a casa às escuras.
Pálido de susto veste-se com as roupas pelo avesso e sai do banheiro.
Prefere não comentar nada, apenas pede calma.
Vai ao quarto e pega na gaveta de cuecas sua preciosa e única ferramenta: um grifo.
Volta ao banheiro e com o auxilio da chave retira o chuveiro. Na verdade não precisava do grifo, mas são tão poucas as chances de usá-lo que não resiste.
Sob os olhos do filho mais velho que apenas balançava a cabeça e estralava os lábios com aquele som característico de quem nega algo, desmonta o chuveiro e vê que a resistência está grudada nas paredes plásticas e as borrachas de vedação estão um tanto deformadas.
“-Dá pra consertar, é só desgrudar a resistência daqui e esticar um pouco mais as borrachas!” – diz – “-Tudo sob controle!”.O filho acha melhor não contrariar.
Após aproximadamente meia hora de briga, consegue livrar a resistência. Não sem quebrá-la em um pequeno pedaço: “-É só esticar um pouco mais...”
Volta ao banheiro e reinstala o chuveiro.
Abre a torneira e deixa que a água – ainda fria – encha o bojo. Só então põe a chave na posição “verão” e liga novamente.
E novamente a versão caseira do apocalipse, com direito outra vez ao fogo, faíscas e cheiro de enxofre. Só falta o cramulhão em pessoa.
Sob o olhar acusador de todos sai do banheiro e, ainda com a roupa vestida pelo avesso, sai em busca de uma loja de materiais de construção para comprar um novo chuveiro.
Pedindo apenas aos céus para que, desta vez, não tenha danificado toda a instalação elétrica da casa.
Na volta, instala o chuveiro novo, segue os procedimentos e tudo funciona a contento: “-Tudo sob controle!” – diz ele sob olhares desconfiados e com sessenta reais a menos no bolso.
“-Tudo sob controle...”
Comentários
Abs.
Tenho um amigo que levou uma tarde inteira pra consertar um chuveiro, e no fim não deu certo...
Até hoje, a gente ri muito dessa história.
abs
Não soube que o império era o dele próprio e que Ciro era o asno, por ser de origem híbrida.
Tudo estaria sob controle - como de fato estava -, não fosse a interpretação.
O senhor é um fanfarrão, contador de histórias tão mirabolantes quanto improváveis. Essa é verídica, embora não seja mirabolante (nem mentirosa quanto a sua, pra dizer a verdade).
Quando o "seu" Adolfo perguntou/queixou-se ao "seu" Rafael, não o pintor de Escola de Atenas, mas o carroceiro mesmo, o que fazer com o problema de hemorróidas que tinha eles travaram o seguinte diálogo:
"Seu" Rafael - uai, isso (problema de hemorróidas) é muito fácil de resolver.
"Seu" Adolfo - fácil para quem faz milagres; tô penando com isso há mais de 30 anos.
"Seu" Rafael - porque vc não fez a coisa certa.
"Seu" Adolfo - fazer o quê, homem de Deus? eu já fui em mais de 5 médicos e nenhum resolveu.
"Seu" Rafael - então agora esqueça os médicos, pois vc já viu que não funciona.
"Seu" Adolfo - e o que eu vou fazer?
"Seu" Rafael - vc tem uma aliança de ouro grossa? mas tem que ser de ouro.
"Seu" Adolfo - (olhando o dedo anelar esquerdo, sem entender) tenho; e o que isso tem a ver com nosso assunto?
"Seu" Rafael - tudo; essa sua aí serve, se é que vc não a comprou de algum cigano.
"Seu" Adolfo - e eu lá compro coisa de cigano? eu casei com essa aliança.
"Seu Rafael" - se vc está falando... então, vc pegue uma lima fininha e lime a aliança até a metade, em cima de uma folha branca de papel; depois, vc toma um banho, deita na cama e manda a sua mulher passar o pozinho ao redor do orifício ainda úmido; no outro dia vc vai ver.
"Seu" Adolfo - (incrédulo) e isso vai curar o problema?
"Seu" Rafael - se vai curar eu não sei, mas que vai ficar uma jóia, vai; tô indo fazer um carreto (pagou a cachaça ao Zé Baiano e saiu, deixando o "Seu" Adolfo mais incrédulo ainda e sem ação).
Abs.
M.C.
OBS: Obrigado, Pubs Cachaça. Estou feliz pelo reconhecimento dado a mim e ao senhor Groosjean ! Mas não precisa xingar o Coyote em grego só porque o dele é pequenininho...
Abs.