Os três pilotos brasileiros, escaldados com o ano ruim que terminara – ao menos no âmbito profissional – resolveram se cercar de ajuda extra para a temporada 2012.
Todos os três já haviam tido a experiência de serem cuidados espiritualmente por Pai Tião, mas os resultados nunca eram os esperados.
Desta vez foram atrás de um sábio, que segundo ouviram falar, tinha respostas para tudo.
-Cê tem certeza? – pergunta Bruno.
-Claro! Eu já me enganei? – Responde Rubens.
-Bem... Já sim. Lembra daquela pulseira do equilíbrio? – diz Felipe.
-Bom... Mas não fui eu quem trouxe para o nosso meio aquele charlatão do Pai Tião.
-Charlatão nada! – Quando trabalhou para a Ferrari sempre dava certo.
-É... E quando ele disse que o problema não era meu e sim do dono da Hispânia também estava certo. Foi só vender que o time evoluiu. – defendeu Bruno.
-Mas só andou mesmo depois que você saiu, não foi? – atacou Rubens.
-Até foi, mas eu também acabei num lugar melhor.
O silencio recai sobre o trio de pilotos enquanto chegam a Franco da Rocha onde, segundo foram informados, mora o sábio.
-Por favor, o senhor sabe onde podemos encontrar o sábio Gente Boa? – pergunta Felipe.
-Gente Boa? Sábio? Quem foi que te disse isto meu filho? – diz uma velhinha que estava na estação de trens.
-Foi o que disseram pra gente. – intervém Rubens.
-Espera ai? Você eu conheço! – aponta ela para o veterano.
-Conhece! Conhece sim... Tenho certeza.
-Você faz stand up comedy! – afirma.
-Como? – pergunta perplexo enquanto os outros dois abafam o riso.
-Sim... Você é comediante... Porque toda vez que aparece falando meu marido e meus filhos caem na risada. – diz a simpática velhinha apontando em direção as Casas Bahia da cidade – É lá que vocês vão encontrar o dorme sujo... Ele fica lá assistindo as televisões do mostruário. Mas vou dizendo... Ele só diz coisas sem sentido.
O trio agradece e comenta entre si que talvez não sejam besteiras o que ele diz, mas sim coisas sabias, porém cifradas.
-Tem que ter discernimento... Tem que interpretar...
Ao encontrarem Gente Boa, nem se dão ao trabalho de se apresentar, afinal, o sem teto conhece tudo sobre o esporte a motor mais famoso do planeta e como tal, os conhece.
-Senhor Boa... Eu quero continuar na categoria, nem que seja como piloto de testes. O que devo fazer? – pergunta Bruno.
-Tem cuidado! Testador de supositório tanto testa que acaba ficando sem efeito quando precisa... - diz Gente Boa.
-Gênio! Acabou de me dizer para tentar uma vaga de verdade, que se eu ficar testando demais acabo como o De La Rosa, sem moral! – diz Bruno com um sorriso iluminado sem se dar conta que De La Rosa ao menos tem vaga garantida.
-E eu? Tenho contrato ainda para este ano, mas no meu time as coisas são muito bem definidas. – é a vez de Felipe.
-Quem anda com lobos, uiva. Quem anda com gambás fede...
-Mas é isto mesmo! Tenho que me comportar como o Alonso. Exigir atenção! – diz o eufórico Felipe sem se dar conta que há muito mais braço entre ele e Alonso que do que a vã filosofia (e pachequismo) pode mostrar.
-Seu Gente Boa... Eu to nesta há muito tempo, sério... Mas ainda estou muito motivado e quero chegar à vigésima temporada. Eu sei que ainda tenho muito a dar para minha equipe e que posso ajudar muito. Tem uns caras ai... – diz Rubens apontando sorrateiramente para Bruno com o polegar -... Que querem meu lugar, mas eu confio em minha experiência. Estou certo em me manter confiante?
-Se cruzardes o deserto com um camelo, ele chegará primeiro porque tem um pescoço mais longo que o teu, porém...
-Já entendi! Ele pode ter um pescoço longo, ou seja, ser mais jovem... |Mas eu chegarei mais inteiro por conta da experiência! Genial...
Os três se despedem do andarilho deixando com ele bonés de suas equipes e algum dinheiro que logo viraria cachaça.
-Ô Gente Boa? Foi isto mesmo que você quis dizer para os caras? – pergunta um dos vendedores da loja.
-Bão... Cada um acredita no que quer, não é?
-É... Claro... Mas aquilo que o baixinho cabeçudo mais velho entendeu? Era aquilo mesmo?
-Sei lá... Eu ia dizer que o camelo chega primeiro e você fica fedendo, mas... Deixa ele. Deixa ele...
Comentários
" Nossa, nossa
Assim voce me mata
Aí se eu te pego, ai ai se eu te pego..." Coiote - o cão do deserto de concreto -, no reveiom da Paulista, logo atrás, coladin e cantando para o baianeiro Pubs Cachaça que puxava tremzinho animado com os nordestinos e pantaneiros boiolinos, no ritmo da música, no meio da multidão e da chuvarada... Senhor Groo ! Viu o reveillon em Londres ? Bota no You Tube ! Aquilo é que é festa ! Vamu prá lá ano que vem ! Melhor... no final do ano. Tô lá ! Copabacana que me perdoe mas ô reveillozinho de mierda....
M.C.
abraco,
Guilherme
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Valeu
Descende diretamente do cínico Diógenes de Sinope. Aquele maltrapilho de mudou-se para a cidade grande.
Conta o xará Diógenes Laertius, o Laercim, que o sábio morava num tonel, naquela Atenas decadente como Buenos Aires, e apareceu-lhe ninguém menos do que Alexandre, o Grande, dizendo algo mais ou menos assim:
- Ouvi falar muito sobre você, Ò Diógenes! O que posso fazer por você, gente boa?
Redarguiu-lhe Diógenes:
- Saia da frente do meu sol!
Mas, que coincidência. Eis que aparecem, súbito, ao seu discípulo cínico contemporâneo, Gente Boa, em vez de um grandão, três porquinhos: Rubinho, Sobrinho e Fliperzinho.
A diferença entre o Gente Boa e esses porquinhos milionários é que o primeiro conhece perfeitamente o seu futuro. Embora seus proventos garantam-lhe uma folgada velhice e tenha lá suas aplicações em fundos de renda fixa, afirma que toda sua riqueza é carregada na sua cabeça.
Sabe-se lá. Com essas quebradeiras bancárias, mesmo que perdesse as aplicações, podia amealhar tudo novamente com sua sabedoria. E não iam faltar porquinhos consulentes.
Gente Boa aprendeu, com o mestre Diógenes, que o mercado de derivativos é arriscadíssimo. Daí sua preferência por morar debaixo das marquises.
Segundo o Laercim, Diógenes observou cuidadosa e pacientemente o comportamento de um camundongo.
Chegou à conclusão de que aquele animalzinho imundo supera os humanos por sua adaptabilidade a qualquer situação. Hoje, isso se chama: 'fitness'.
Lobos e gambás, cada qual ao seu modo, são evolutivamente adaptáveis e bem sucedidos. Não tanto quanto ratos e baratas, pois quiçá esses sobrevivessem a um cataclisma nuclear.
O bacana é que Gente Boa não precisa de patrocinador nenhum e só não sabe o dia de sua morte porque renunciou a isso.
Gente Boa, como Diógenes, aprende até mesmo com camundongos e sabe que mesmo que um gambá perca para um dromedário e seja fedorento, é bem sucedido exatamente por isso, que o torna adaptável.
Gente Boa só não tolera milico chineludo: é a única coisa que ratos, baratas e vermes recusam-se a comer.
Com a nossa safra atual de pilotos, nem com reza braba...
Não tem Sábio, Pai Tião, Mãe Dinah que de jeito.
abs