Na região da Praça Princesa Isabel, no centro velho de São
Paulo há uma estatua eqüestre de Duque de Caxias.
Garboso, o herói da guerra do Paraguai está montado em seu
vistoso cavalo em pose de vitória: o cavalo trota enquanto o cavaleiro brande
ao ar a espada.
A obra é do nobre artista italiano Victor Brecheret e foi
inaugurada em Vinte e Cinco de Agosto de Mil Novecentos e Sessenta. Tem a
altura de um prédio de dez andares, contando claro, com o pedestal feito em
granito.
Como todo monumento em toda metrópole, após um tempo ninguém
dá a mínima importância. Passa-se por ele e nem se da conta de que está lá.
Se não estiver, muita gente nem vai notar.
Estátua de Dq. de Caxias na Pça Princesa Isabel/SP |
Porém há um detalhe na estátua, que diga-se, sempre esteve
lá, mas que nestes tempos de “politicamente correto” começou a incomodar um
tipo de gente muito especial que, só com muito tempo ocioso - e pago com
dinheiro público – se incomodaria: os nobres vereadores.
-O nobre colega há de convir que é uma indecência! – diz um
situacionista.
-Até é, mas não é tanto assim... Afinal todo mundo tem um
daqueles... – retruca um da oposição e assim vai adiante a discussão.
-Alto lá, senhor vereador! Todo mundo necas! Lembre-se o
senhor que se trata de um cavalo de quase onze metros, logo o tamanho da
indecência é muito maior que a que nós todos temos... A não ser que o nobre
colega da oposição... Não é?
-O senhor está insinuando o que? Que eu tenho um daquele
tamanho? Eu vou lhe dizer o que é que eu tenho que é daquele tamanho...
-Ordem... Ordem – pede o presidente da casa – Não é brigando
aqui que os nobres senhores vão arrumar uma solução para o caso... Vamos dar a
palavra ao nobre colega que trouxe o problema a esta casa. Com a palavra o
nobre vereador Nico Cajaz...
-Bem, eu... Eu fico até com vergonha de dizer isto... Mas
aquele enorme cú eqüino lá tem que sair... Eu fico imaginando minha mãe
passando pela Avenida Rio Branco e olhando para cima... O quanto a minha
mãezinha, dona Rosa Cajaz não ficaria chocada...
-Mas o nobre colega tem a mesma opinião de sua mãe? Ou acha
que toda a população tem a mesma opinião? Eu particularmente não tenho uma
formada.
-O senhor já passou por lá?
-Não...
-Então nunca olhou debaixo da cauda erguida do cavalo do
Caxias?
-Sinceramente não. O que tem demais lá?
-Uma protuberância saltada, como se o pobre do animal
sofresse de hemorróidas!
-Olha... Mas é possível sim, viu – interrompe novamente o
presidente da câmara, e prossegue – Diz aqui no livro dos monumentos que para a
inauguração da estatua foi servido um lanche para os que trabalharam em sua
confecção, lá no Liceu de Artes..
-Mas meu presidente? O que tem isto com o que estamos
discutindo?
-Meu caro colega... Vai que neste lanche se serviu
calabresa, vatapás ou outras comidas apimentadas quaisquer?
-Mas... Nobre presidente? O cavalo é de bronze! Dificilmente
comeu um destes lanches?
-Dificilmente? – gritam todos os presentes em uníssono. –
Mas tu é burro heim?
-Não o cavalo, sua cavalgadura, mas um dos operários que
ajudaram a fazê-lo... Ai sentiu os resultados e resolveu expressar no cavalo...
-Mas o artista ia permitir isto? Vamos lembrar que é de
Victor Brecheret!
-E por acaso, por ser artista, ele estava isento?
-De impostos?
-Não... De hemorróidas...
O fato é que não chegaram a nenhuma conclusão sobre o que
fazer com a parte saltada da anatomia anal do cavalo. E como toda vez que isto
acontece a voz popular é chamada a opinar e um plebiscito é convocado.
Outros equinos menos nobres... |
Sem maiores explicações a cédula de votação traz as
seguintes opções:
1 – deixar lá como está.
2 – tirar a base de lima, já que é de bronze.
3 – trocar o rabo do cavalo, para que ele fique abaixado e
assim encubra a vergonha.
Nas ruas, um jornalista que sem mais o que fazer se ocupou
da história e entrevistava pessoas na rua.
-O que a senhora acha deste plebiscito?
-Uma besteira... Imagino que o imbecil que primeiro se
ocupou desta coisa deva ser um desocupado... Acha que um cú de cavalo vai
aborrecer quem vê um monumento destes?
-Muito obrigado... Qual seu nome, por favor?
-Rosa... Rosa Cajaz. Com “z” meu filho...
Comentários
"Vergonha é roubar e não poder carregar", diz o ditado popular, dando margem para a interpretação de que a desmedida da volúpia é pior do que o delito em si.
Por que "as vergonhas" são, milenarmente, um eufemismo para "genitália"?
Mas, afinal, a vergonha, o que é?
Gastei um pacote de A4 na tentativa de responder a essa pergunta e a mera pretensão seria, aqui, desmedida. Vou à aplicação: desmedida é vergonha; no Brasil, atividade política é vergonhosa.
Nossos nobres representantes não tem nada pra fazer, resta ficar procurando esse tipo de coisa.
Fico imaginando lá em Brasilia, neguinho discursando num plenário com meia duzia de almas que não estão nem ai.
Um jogando paciência no netbook, outro ao telefone, outro vendo revista masculina (depende do parlamentar, e os demais navegando na web...
Esse é o nosso Brasil. Deveriam trocar os dizeres da bandeira -
bastava colocar lá " Ê povinho bunda!"
abs
Parabéns São Paulo pelos 458 anos.
Abraços.
Quanto ao cigarro, a foto foi tirada momento antes de eu acender... hehehe
M.C.
M.C.