-Precisamos de algo... – disse a Chapeuzinho.
-Sim, precisamos... – concordou o Coelho.
-Não podemos apenas ficar na dependência da chegada do caçador. – disse o cavalo do príncipe.
-Verdade! – concordaram os outros.
-Vai que ele se atrasa? - questionou a menina do capote vermelho.
-Ou nem venha! – se assustou o Coelho.
-E nem podemos contar com meu dono, agora que despertou a Adormecida. – explicou o cavalo.
E todos baixaram a cabeça num sinal de que havia pouca esperança. Se o Lobo aparecesse, teriam mesmo que contar com a incerta chegada do Caçador para afugentá-lo.
Sabiam que por aqueles dias o Lobo havia entrado na casa dos Sete Cabritinhos e feito a festa.
-Vamos precisar de sorte! – disse a menina do chapéu encarnado.
-Sorte? – disse o coelho – Besteira... Dizem que pé de coelho dá sorte, e eu tenho dois... Nunca me ajudaram.
-Concordo com o Coelho – disse o Cavalo – Isto é superstição de humano... Que adora andar por ai com ferraduras pra dar sorte... Para mim só deram calos e escorregões no asfalto.
A menina tende a concordar com seus dois amigos, mas naquele momento a TV que estava ligada em um programa esportivo mostra o resumo do grande prêmio da Malásia de Formula 1.
Nele a vitória de Fernando Alonso é colocada como um grande golpe de sorte. Estar no lugar certo na hora certa... Sem contar a chuva torrencial que abrandou, mas não cessou de vez. E até mesmo o erro de um piloto novato ao tangenciar uma curva pareceu ser questão de sorte.
-Viu? Sorte existe... – disse a garotinha – Sorte existe sim, veja este Alonso ai!
-Verdade! – brilham os olhos do Cavalo – vamos até lá buscar um sapato dele!
-Sapato? Porra nenhuma! – disse o Coelho de olhos vermelhos demoníacos – Vamos lá arrancar os dois pés dele logo!
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O coelho do capeta! |
Comentários
Que bicho medonho esse ai. É bom o Alonso se cuidar...
abs
Decerto não quis mencionar os três pouquinhos por algum escrúpulo inconfesso. Pois teria de abordar a questão da astúcia, que faz da raposa, personagem predileta dos fabulistas de todos os tempos, de Esopo a La Fontaine. Não é gratuito o lugar que afirma a vitória da astúcia sobre a força, já que tanto o caçador, como o Porquinho prático, vencem o lobo pelo engenho e pela astúcia. Pois bem, a astúcia das Astúrias se chama Fernando Alonso. E como a chuva cai para justos e injustos, em condições catastróficas a astúcia brilha sozinha diante da força. Alguns dirão que é intervenção divina de Poseidon; outros, que é força cega do acaso e outros, ainda, serão maquiavélicos e reconhecerão a combinação da Fortuna com a Virtude. O fato é que, sem essa inteligência projetiva, que tira partido do imprevisível, nem o astucioso, πολιμέτις, Odysseus, teria voltado para casa, nem o Cavaleiro Alonso teria ganho a prova. Além da astúcia, ambos colocam a dissimulação, a mentira e a desonestidade a serviço da sorte.
Abs.
Ótimo texto Groo!
abs!
Mto Bom!
Ótima fábula e ótimo gancho com a F1!
Abs