Outra de barbearia


-Barbeiro é profissional de confiança, assim como mecânico e proctologista. E nem me venha com cabeleireiro, isto é coisa de viado. – dizia.
Mas naquele dia, Rubs saiu do trabalho com preguiça de se deslocar até o centro da cidade e resolveu cortar o cabelo em um misto de salão de barbeiro e loja de informática.
Nunca havia entrado lá, nem pelo corte nem pelos produtos de informática. Apenas via a placa que dizia: Corte seis reais... E passava batido.

-Boa tarde! Meu nome é Rafael, sou atendente/gerente/ proprietário da “Memória Ram Informática”, no que posso ajudá-lo?
-O barbeiro está?  - perguntou Rubs estanhando a recepção.
-Está, mas foi almoçar. Quer esperar?
-Demora?
-Não senhor, volta logo.
-Então espero...
-Enquanto espera, posso oferecer algo?
-Café? Água? Suco?
-Não senhor...
-O que então?
-A senha do wi-fi...
-Ah, sim... Aceito. É cobrado?
-Não senhor...
-Então, por favor... – Rubs já sacando seu smart phone e habilitando seu wi-fi – Qual a senha?
-O senhor vai ver algo inapropriado?
-Como o que?
-Pornografia, por exemplo.
-Não, mas se fosse?
-Nada, apenas pergunta protocolar...
-Ah tá...

O atendente/gerente/proprietário diz a senha, mas Rubs não consegue conectar. Tenta algumas vezes mais e acaba desistindo.
Então, por uma porta lateral, adentra ao salão o barbeiro.
Baixinho, quase anão, cabelos brancos e desgrenhados. Um jaleco impecavelmente branco e nos bolsos os pentes, a tesoura e uma navalha.
-Boa tarde. É o senhor que vai cortar o cabelo? – pergunta o barbeiro.
-Sim... – diz Rubs olhando para os lados certificando-se que era o único no recinto – além do atendente/gerente/proprietário – tornando a pergunta retórica.

O barbeiro vai até a cadeira que estava coberta com a capa de proteção dos clientes.
A visão é algo surreal. A cadeira é antiga, se calhar, dos anos 50.
Rubs senta-se e o barbeiro se aproxima com um caixote que é colocado ao lado da cadeira. Ele sobe no caixote e coloca a capa em Rubs que olha atônito.
Saca da tesoura e – em cima do caixote ainda – começa a cortar

-O senhor não quer abaixar um pouco a cadeira? – pergunta desconfiado.
-A cadeira não abaixa, e pode me chamar de Ansermo, com “r” mesmo... – sorri dando a certeza que Rubs apenas desconfiara.

O corte vai transcorrendo sem maiores problemas, com conversa amena sobre o quão antigo era o bairro.
De diferente, apenas que Rubs notara que a mão que segurava a tesoura tremia.
Para finalizar, claro, a navalha para acertar o “pé do cabelo”.
-O senhor está nervoso, senhor Ansermo?
-Não, eu sou muito experiente... O senhor fala pela tremedeira?
-É.
-Parkinson. – sorri. – Mas não se preocupe, a cada corte que eu por acidente faça em seu pescoço ou orelha, desconto cinquenta centavos...
Com o corte pela metade, Rubs não teve outro remédio senão confiar.
Pero no mucho, prendeu a respiração e – como se acreditasse – rezou até o fim dos procedimentos.

Em tempo, pagou os seis reais inteiros.
Não houve desconto.

Comentários

Anselmo Coyote disse…
Excelente, Groo. O barbeiro é quase meu xará... rsrs.

Segundo as maledicências, o Ansermo perguntou ao Rubs qual era o corte e ele respondeu: deixa o topete na frente e atrás pica à vontade.

Abs.
Anônimo disse…
... O Rubs tá na maió pindaíba. 6 reais ? Vão cortar as orelha dele( ali, na "junção" zoieias-cabeção ), o pescoço, um dia desses. Gostei do causo mas a cadeira do barbeiro, se for restaurada, é show ! Essa aí, tá faltando aquele encosto de cabeça...
Tuítaando ! Parmeira já caiu... quem twem que cair é o Barmengo. Os sofredores do Barmengo estão tristes, que peninha. Mas a Carniceira em polvorosa está ! A Anti Barmengo está toda feliz ! Urubuzada na 2ª divisão !


M.C.
GiglioF1 disse…
Groo,

R$ 6,00 !!!!....O conto é bem antigo não??

Abraço do Giglio!!
Groo, bom demais...tamo rindo muito..
Rubs disse…
Uai, uai, uai.
Nossinhora. Mas que boniteza de deferência. Será? Esse causo está mal contado. Estropiado.
Rubs? Meu herói homônimo não pode ser. Ele seria o operador da navalha.
Serei eu? Agradecido demais, se for.
Mas, e o Ansermo? O que eu conheço precisa, e muito de uma navalha, mas não é anão, não. Anão é outro, que sobe em caixote para bater em prato de ataque de bateria e desce para apertar o pedal do bumbo.
Além disso, se fosse eu o homenageado, teria de ter outro caixote na cadeira.
Para caracterizar mais a confusão, o Ansermo até onde eu sei não cruza os bigode comigo, é rufião, e um bruto, que só sabe manejar trator de esteira Komatsu e carpideira movida a motor Yanmar.
É certo que eu tive um acerto não pago na oficina do dito, mas o bispo assumiu a dívida: passou a Letra para o Capitão Corisco.
E essa tremedeira, doença de São Guido, Parkis, sei lá, tá errada.
Quem é espritado é o MC. Não digo que seja bipolar. Acho que é unipolar ou até cascolar, porque a inteligência do homem supita e é uma fartura o tempo inteirinho, sem tremura.
O Rafael da MRI eu não conheço, mas queria conhecer, o Senhor da Memória, do passado, do presente e do futuro.
O causo está muito bem alinhavado e é formoso, mas ou é mais enrolado do que perseguida de morena ou é mentiroso.
De qualquer jeito, eu fiquei muito emocionado só de pensar que o mimo possa ter sido feito em minha homenagem.
Anselmo Coyote disse…
E o Ansermo vai lá cruzar bigodes com um roncoio azucrinado da qualidade desse tar Rubs? Vai nada. E eu tomém não.
Brass.