A voz como se fosse apenas mais um instrumento

Rick Wright brincava em seu piano com uma progressão de acordes que ele chamava ora de “Mortality sequence”, ora de “Religion song”, porém não conseguia ficar satisfeito de forma alguma com as experimentações feitas pela banda.
Os efeitos usados iam desde trechos da bíblia e citações de Malcolm Muggeridge (seja ele quem for) até gravações de astronautas se comunicando durante missões espaciais.
Pouco tempo antes de Dark Side of the Moon ser finalizado, a banda decidiu por uma voz feminina.
-Em vez de cantar, que tal se ela lamentasse a música? – sugeriu Wright.

Alan Parsons, o engenheiro de som do disco então sugeriu um nome que ele havia ouvido em algumas seções que trabalhara: Clare Torry.
A dona da voz
De primeira, ela não ficou empolgada. Nem gostava muito do Pink Floyd e acabou dando a desculpa de que tinha ingresso para assistir Chuck Berry.
Parsons insistiu e remarcou a seção para a semana seguinte.

Cantora e compositora com então vinte e dois anos, Clare chegou aos estúdios e encontrou o Pink Floyd reunido com Parsons.
Ouviu a música, ajudou o engenheiro a equalizar seu microfone e só então perguntou:
-E então? Cadê a letra?
-Tem letra não... A gente pensou em uma mulher cantando como se estivesse tendo um orgasmo...
Então Clare colocou os fones, ouviu a música e começou a soltar a voz em alguns “oh, baby, yeah!” que – obviamente – não agradou ninguém.
Roger Waters e David Gilmour começaram a dar as dicas do que queriam: duração das notas, intensidade, altura e volume e em dois takes e meio reuniram material para a finalização da faixa.
-Tentei cantar me imaginando como apenas mais um instrumento da música. – disse ela.

Pela participação, Clare ganhou o cachê padrão de trinta libras e se deu por contente.
Anos depois, moveu um processo contra a banda pedindo participação como co-compositora da faixa.
Ganhou e hoje seu nome aparece nos créditos da canção ao lado do nome de Wright.

Para nossa sorte, "The great Gig in the Sky" não é das faixas mais populares do Pink Floyd, seria uma tortura sem tamanho ouvir os pseudo cantores de programas modernosos da televisão “assassinando” o trabalho feito por Clare Torry.

Comentários

Daniel Consorti disse…
Assustei com a frase "para nossa sorte(...)não é das faixas mais populares!... Ja estava me preparando para te excomungar, xingar até a 35ª geração, etc.. mas o que veio depois me acalmou e muito... Essa é uma das mais belas musicas do Floyd.. nem precisa de letra para passar intensidade!

Muito bom!
Gino disse…
Olha uma entrevista com a Clare:
http://www.youtube.com/watch?v=mIW7xZSlZoM
Manu disse…
Maneiro!
Sabe, fiquei pensando no título - hoje em dia é tão raro isso. :/

Abs!
Vander Romanini disse…
Foi minha primeira banda de Rock!!
Essa música é pra poucos que aguentam!!!!!
Mas se a moça fizesse isso hoje, era finalista do Devóis Brasil fácil!!!!
Unknown disse…
Ola só não sabía que a idéia foi de nick...
Rafael Schelb disse…
Uma das coisas mais lindas que já foram gravadas... E dá uma agonia, ouvir... Mas é muito foda!
Teddy disse…
Canção de uma época que tinha três anos de idade, e passei a apreciar lá pelos doze, rsrsrs. Clássico.
Magnum disse…
Interessante! Interessantíssimo!! Super Interessante!!!

Não sabia de nada disso, e quem diria que aquele vozeirão todo era de uma gatinha dessas?

E também extremamente interessante saber que The Great Gig In The Sky QUASE foi a versão original da (revolucionária sim) Je T'aime???
Rubs disse…
O melhor post que já li sobre o caso: curto e grosso; pequeno e pesado de informações.
Mas, por favor, pare de escrever bem acerca dessa banda!