Canário passava sua flanela engordurada no balcão enquanto em uma das mesas, Andrade, o professor aposentado e Derico, o fiscal da natureza conversavam de forma entediada.
-Nem parece que está chegando o natal. – diz Andrade
-Parece sim, a cidade já está enfeitada... – retruca Derico.
-Mas este calor do Saara...
-Professor... Nunca vi o senhor falando palavrão!
-E que palavrão eu falei?
-Calor do Saara! Fiquei até corado.
-Ficou corado porque é sem vergonha.
-Eu? Eu tenho vergonha.
-Devia ter mais... Devia ter vergonha de ser burro! Saara é um deserto.
-Ah tá...
Neste momento, Canário chega à mesa com outra cerveja.
-Fala para ele do Sacrá, Andrade... – brinca o dono do bar.
-Ah, vai pra lá botequeiro... Eu sei que Sacrá é outro deserto.
-E você sentaria nele? – perguntou irônico o professor aposentado.
-Então mestre... Só de noite. Porque eu sei que de dia os desertos são muito quentes e a noite são bem frios...
Um minuto de silêncio constrangedor e o bar todo explode em gargalhadas.
-Do que estão rindo? – quer saber Derico.
-De você sentado num sacrá... E só à noite. – e Canário abre a cerveja e se vai.
-Não to entendendo nada... Vamos voltar a falar do natal... Eu acho que a cidade está bem no clima.
-Não acho – diz o professor aposentado – este natal europeizado é de doer. Imagina pinheiros nevados num calor de mais de trinta graus! É terrível de falso.
-Poxa velho mestre... Tradição é tradição.
-Que seja... Mas me dá uma coisa ruim de ver renas, neve, e aqueles duendes que mais parecem anão de programa de TV aberta, isto dá.
-Eu fico pensando naquele cara vestido de papai Noel que fica no centro... Mesmo eu gostando de tradição, dá certa dó do cara. Maior calorão.
-É... Pelo menos nisto concordamos.
-Mas tenho certeza... Ele faz isto porque gosta, pela tradição. É dos meus.
Antes mesmo de a frase sumir no ar, o tal papai Noel entra no bar.
Suado, ainda assim completamente paramentado. Numa rápida olhada é possível certificar-se que a barba é dele mesmo.
-Põe uma quente pra mim... – diz ele.
Canário então destampa uma garrafa de bagaceira e serve. De uma talagada só, o papai Noel mata a dose de pinga. Escolhe e pede um dos mais gordurosos torresmos da estufa e em duas mordidas acaba com a iguaria.
-Quer um guardanapo para limpar as mãos? – pergunta Canário.
-Precisa não... Limpo depois na roupa da molecada que vem me abraçar...
-Mas e o bafo? – pergunta Derico.
-É verdade... Tem cada moleque que parece que nunca escova os dentes... Por isto que eu bebo.
-Mas e a tradição? – pergunta ironicamente Andrade.
-Eu mantenho... Bebo só bagaceira e como torresmo... Sempre.
Depois da saída do papai Noel, o silêncio toma conta do bar.
Andrade, com ar superior encara Derico, que envergonhado fita o vazio.
-Sabe mestre... – diz Canário para Andrade - Só esquecemos de perguntar a ele se tradicionalmente também senta no sacrá.
-Nem parece que está chegando o natal. – diz Andrade
-Parece sim, a cidade já está enfeitada... – retruca Derico.
-Mas este calor do Saara...
-Professor... Nunca vi o senhor falando palavrão!
-E que palavrão eu falei?
-Calor do Saara! Fiquei até corado.
-Ficou corado porque é sem vergonha.
-Eu? Eu tenho vergonha.
-Devia ter mais... Devia ter vergonha de ser burro! Saara é um deserto.
-Ah tá...
Neste momento, Canário chega à mesa com outra cerveja.
-Fala para ele do Sacrá, Andrade... – brinca o dono do bar.
-Ah, vai pra lá botequeiro... Eu sei que Sacrá é outro deserto.
-E você sentaria nele? – perguntou irônico o professor aposentado.
-Então mestre... Só de noite. Porque eu sei que de dia os desertos são muito quentes e a noite são bem frios...
Um minuto de silêncio constrangedor e o bar todo explode em gargalhadas.
-Do que estão rindo? – quer saber Derico.
-De você sentado num sacrá... E só à noite. – e Canário abre a cerveja e se vai.
-Não to entendendo nada... Vamos voltar a falar do natal... Eu acho que a cidade está bem no clima.
-Não acho – diz o professor aposentado – este natal europeizado é de doer. Imagina pinheiros nevados num calor de mais de trinta graus! É terrível de falso.
-Poxa velho mestre... Tradição é tradição.
-Que seja... Mas me dá uma coisa ruim de ver renas, neve, e aqueles duendes que mais parecem anão de programa de TV aberta, isto dá.
-Eu fico pensando naquele cara vestido de papai Noel que fica no centro... Mesmo eu gostando de tradição, dá certa dó do cara. Maior calorão.
-É... Pelo menos nisto concordamos.
-Mas tenho certeza... Ele faz isto porque gosta, pela tradição. É dos meus.
Antes mesmo de a frase sumir no ar, o tal papai Noel entra no bar.
Suado, ainda assim completamente paramentado. Numa rápida olhada é possível certificar-se que a barba é dele mesmo.
-Põe uma quente pra mim... – diz ele.
Canário então destampa uma garrafa de bagaceira e serve. De uma talagada só, o papai Noel mata a dose de pinga. Escolhe e pede um dos mais gordurosos torresmos da estufa e em duas mordidas acaba com a iguaria.
-Quer um guardanapo para limpar as mãos? – pergunta Canário.
-Precisa não... Limpo depois na roupa da molecada que vem me abraçar...
-Mas e o bafo? – pergunta Derico.
-É verdade... Tem cada moleque que parece que nunca escova os dentes... Por isto que eu bebo.
-Mas e a tradição? – pergunta ironicamente Andrade.
-Eu mantenho... Bebo só bagaceira e como torresmo... Sempre.
Depois da saída do papai Noel, o silêncio toma conta do bar.
Andrade, com ar superior encara Derico, que envergonhado fita o vazio.
-Sabe mestre... – diz Canário para Andrade - Só esquecemos de perguntar a ele se tradicionalmente também senta no sacrá.
Comentários
Parabéns!!!
Seus contos são espetaculares, merecem um livro com certeza.
abs
Bão dimais, o causo.
Tô caçando o Gente Boa pra pedir um sapeca negrim emprestado. Viu ele por aí? Viu ele por aí?