Progressivos?

Hoje não tenho mais paciência para o chamado rock progressivo.
Deve ser a idade que quando chega trás junto um sentido de urgência - talvez pela proximidade da morte - em viver e, sendo assim, perder trinta minutos ouvindo uma mesma música se torna quase torturante.
Assim também deixamos de ver graça em contos de oceanos topográficos, portões de delírio, cordeiros que jazem na Broadway, etc, etc, etc.

Também pegava um pouco o fato das bandas se levarem muito a sério.
Quase intocáveis em seus olimpos, afastados dos fãs que podiam, no máximo, admirar seus ídolos que “tocavam pra caramba!”.

Uma das histórias desta “falta de humor” é até engraçada.
Reza a lenda que o Yes ensaiava durante uma turnê aos EUA à espera da chegada de seu tecladista Rick Wakeman ao estúdio.
Possivelmente influenciados por seu cantor Jon Anderson, o grupo havia se tornado vegetariano, ou coisa que o valha... Haviam banido a carne do cardápio ainda em Londres.
Ao que parece esqueceram-se de avisar Rick, ou ele mesmo não tinha ficado muito contente com a nova dieta e apareceu no estúdio com uma sacola de papel um tanto engordurada.
Ajeitou-se atrás de seus teclados e disse que a banda podia tocar que mesmo almoçando, ele acompanharia.
Sacou então um gorduroso hambúrguer da sacola de papel e mordeu com vontade, causando asco nos outros músicos e – o vocalista é sempre o mais fresco – vômitos em Jon Anderson.
Reza também a lenda que foi por isto que Wakeman saiu do grupo.

Mas nem todos eram assim afrescalhados ou sem humor.
Prova disto é o clipe do Jethro Tull, ícone do gênero, para sua canção Too old to rock and roll, too young to die que lembra, ainda que conceitualmente, o filme O curioso caso de Benjamin Button, se este tivesse sido feito pelo Monty Pyton.
Ah sim... A música também é bem legal, longe do rococó que assolou o gênero e a própria banda.

Comentários

Daniel Consorti disse…
Com exceção do realmente intocável Pink Floyd, pra mim o Jethro Tull é a melhor banda do gênero! Yes e adjacências pecam pelo excesso, e não atingem um décimo do que as duas que citei conseguem!

PS: ótima musica! e Ian Anderson é fenomenal mesmo!
Vander Romanini disse…
Foi a primeira vez que vi o clipe!!
Muito legal!!
Rafael Schelb disse…
Bom, muito bom.
Eu já tenho uma opinião contrária, acho que quanto mais eu vivo, mais eu gosto de progressivo. Acho que hoje, aos 30, eu tenho muito mais capacidade e paciência de parar e admirar uma música de 30 minutos. Lógico que eu não sou dado a certas bobagens comuns aos "fãs mais tradicionais", como execrar a segunda geração do movimento, o chamado Neo-Prog (Marillion, IQ,etc), ou os álbuns dos anos 80 das bandas clássicas. Na verdade, ultimamente eu tenho ouvido muito neo-prog, principalmente dos anos 90, e posso dizer que é tão bom quanto o som dos 70. Pra mim progressivo continua sendo um som fascinante...
Rubs disse…
Peter Gabriel diz que o progressivo morreu e nāo faz sentido hoje.
Todavia, Jethro Tull é a banda mais antiga depois dos Roling Stones. Ian Anderson é um virtuose e, como tal, mescla rock com Bach. Evidentemente, deveria ser chamado "barroco", pois Bach é barroco. Rococó é Aleijadinho.
Jethro Tull é inclassificável. Se para uns é progressivo, para outros é o pai do Folk Rock.
Em 2013 a banda lançou um de seus melhores álbuns: Tick as a Brick 2. Enquanto isso, o setuagenário Mick Jagger continua rebolando as mesmas músicas de sempre.
Alguns caras, como Ian Anderson e Bob Dylan conseguem se reinventar e continuar fenomenais independentemente das pressões exercidas pela indústria cultural -, que deveria se chamada "indústria banal".
Ian Anderson é um músico completo; Mick Jagger um economista de Cambridge que decidiu seguir carreira de vocalista.
Rick Wakeman, por sua vez, tornou-se cristão carola. Suas operetas líricas dos quatro Evangelhos são, para quem tem ouvidos, muito belas, mas não foram compostas para perdidos e excomungados e por isso causam certo mal estar. Wakeman, na minha opinião, é o tecladista mais habilidoso da época, embora eu coloque Richard Wright no mesmo patamar. Depois do ocaso do progressivo e de Merlin começar a cansar até mesmo argentinos saudosistas, Wakeman virou as costas para o mercado. Entrentanto, dos dinossauros da época, ele é o que possui a maior discografia. Tem dinheiro suficiente para viver bem e faz o que curte.
Já os pretensiosos EL&P continuam pretensiosos. Em vez de incluir trechos de Bach em suas composições, Keith Emerson anda a compor sinfonias com um maestro norueguês, Terje Nikkelsen, juntamente com Marc Bonilla e tentar rebuscar sua "Sinfonia Tarkus".
O resultado foi o pretensioso "Three Fates Project" de 2012.
Os caras do Yes lançaram um tributo ao The Wall em 2007, com a participação de Ian Anderson, Wakeman, Emerson e King Crimsom. Interpretações muito boas de um disco do qual eu não sou fã.
Peter Gabriel está certo: o progressivo morreu.
However, like Anderson, I'm too old to rock and roll, too young to die.
Ron Groo disse…
Engraçado, Rubs, é nós acharmos tanto Anderson quanto Wright e os dois - um há poucos meses e outro antes de morrer - confessarem que não sabiam tocar seus instrumentos direito.
Eu particularmente gosto do Floyd e de algumas coisas do Jethro, mas definitivamente, prefiro o economista de Cambridge e sua boca suja.