Vento do Monte Fuji II - Saúde financeira

Já contei aqui certa vez a história de uma pastelaria chamada Vento do Monte Fuji, do meu camarada André Nishimura, ao qual chamamos de Naka, por conta do Nakajima, o pai.
Contei que Naka herdou a direção da pastelaria quando seu pai, Sr. Shinzo, faleceu aos setenta e dois anos.
Sr. Shinzo era dono de um humor peculiar e sempre explicava a quem perguntasse que o nome da pastelaria era referencia ao recheio dos pasteis.
Mentira.
Todos os pastéis eram regiamente recheados. Às vezes até em excesso, mas a história fazia sucesso.

Naka ainda mantém os dois funcionários dos tempos de seu pai: Alemão, um negro de cem quilos ou mais e Violeta, uma anã que serve as mesas sempre na ponta dos pés.
Porém, ultimamente, Naka pensa em se desfazer de um deles.
-O faturamento caiu muito... – diz ele sem se lamentar.
E nem é por conta da falta que seu carismático pai faz. Ele - quase tanto quanto seu pai era – é um fanfarrão.
Chegou a afirmar na frente de alguns clientes que um de seus melhores fregueses havia infartado após vários anos de ingestão de seu famoso pastel de salame com bacon.
Detalhe? Era exatamente o que os clientes estavam comendo.
Isto entre outras histórias tão pitorescas quanto.

Ao chegar ao balcão, pela primeira vez o vi fazendo contas.
-Tudo em ordem? – perguntei.
-Não muito... Este mês não vai fechar direito, vou ter que fazer algo para aumentar o faturamento ou vou ter que ficar sem um funcionário. – respondeu.
Depois de anotar meu pedido (o de sempre: salame com queijo e palmito e um refrigerante seiscentos ml) me perguntou se eu não tinha alguma ideia do que fazer.
-Não... Já fez promoção?
-Já.
-Olha... Sei lá... E se diminuísse o pastel ou o recheio?
-Não... Nunca. Meu pai nunca ia permitir que isto acontecesse. E nem eu.
-Tá certo...
 (silêncio).
-Pensei numa besteira aqui... – disse rindo baixinho.
-O que? Diz ai... Quem sabe?
-Não... Nem rola. Você tá fazendo contas para fechar o mês, nem tem como...
-Fala, poxa!
-Tá... Bobeira. Mas pensei em colocar umas atendentes aqui com mini blusa decotada, mostrando os seios... Besteira... Esquece isto.
Mas um sorriso sacana ilumina o rosto do japonês de uma forma claramente visível a quilômetros de distancia.
-Cara, eu não posso contratar, mas tenho um bocado de primas que... Bem... A gente sempre faz tudo pela família...
Com esta afirmação, peguei meu pastel e fui me refugiar em minha mesa predileta para cometer pastelmicidio e depois ir embora com o sentimento de culpa devidamente morto. Assim como a fome.

Alguns dias depois, volto à pastelaria, não para comer, mas para saber como Naka havia se virado.
Claro, não botava fé naquela história de conversar com primas.
-E ai? Resolveu? – perguntei.
-Já... Não foi preciso nada. Com a proximidade do dia de pagamento as vendas voltaram ao normal. Deu para fechar e, curiosamente, deu até lucro.
-Porra, que bom! – disse – Mas fiquei triste.
-Com o que? – ele perguntou realmente curioso.
-Agora não vou ver suas primas com decotes generosos servindo as mesas.
-Cara, vai por mim... Cê não ia ver nada... – e abriu uma página do facebook para me mostrar algumas fotos de sua família – Olha ai! Tudo tábua, tudo ovo frito! Era capaz de até perder freguesia...
Sem poder rir – por não saber sua reação – apenas tossi acenando a cabeça afirmativamente.

Comentários

Marcelonso disse…
Groo,

Sacanagem! Tem muita japonesa bonita por ai.

Bom, tá certo dizer muita é um pouco de exagero, mas algumas chamam a atenção.

abs


Anselmo Coyote disse…
Essa de ficar triste por não ver as primas do cabra foi de matar... kkkkk!!!
Abs.
Bullying niponico !
Vander Romanini disse…
Sensacional!!!
Parabéns!!!
Agora, que tem japonesa com curva, tem!!!
Manu disse…
Hehehehehe, eu ri dos funcionários e do "bullying nipônico" xD

Abs!
Magnum disse…
Tábua, é?...

Mas aposto como ia fazer muito mais sucesso que o alemão e a anã...
Rafael Schelb disse…
Essas primas são meio suspeitas mas ok... hehehehehehehe