A coriza incomodava demais.
Com o nariz escorrendo, gotejando sobre documentos recém-impressos e manchando tudo, o humor, que já é uma maravilha em dias normais, neste dia estava abaixo de cão. Tanto que respondeu vários ‘bom dia’ com alguns singelos ‘por quê?’.
Já no período da tarde adentra no escritório, devidamente paramentado com camisa de gola clerical, as famosas ‘clergyman’ um senhor distinto.
Na visão do povo que trabalha ao escritório, distinto até demais... Distintíssimo!
Todos fingem estar ocupados ou ignoram solenemente a figura sobrando para nosso ‘corizado’ atende-lo.
-Pois não?
-Boa tarde.
Até pensou em dizer que não tinha nada de boa na tarde, ainda mais com tão distinta presença ali... Mas calou-se.
-Posso ajudar?
-Quero fazer o documento de um carro zero quilometro.
-Pois não, posso ver a nota fiscal?
-Pode. – e saca de uma bolsa também muito distinta a dita nota. Em via única era uma nota fiscal direta da fábrica e descrevia como produto um Ford Fusion, preto como convém, faturado em nome do padre, mas pago pela Mitra Diocesana.
Fez contas e apresentou os resultados ao padre que concordou com a quantia cobrada pelo primeiro emplacamento do veiculo.
-Ok! Então por favor, o senhor me dê seus documentos, CIC, RG e uma conta de luz, água ou telefone como comprovante de residência.
-Você vai ‘xerocar’, não é?
-Os documentos pessoais sim, a nota fiscal tem de ficar a original mesmo.
-Não pode!
-O que não pode?
-Ficar com a nota fiscal original.
-É necessário, sem ela não posso fazer o primeiro emplacamento.
-Não pode... A nota original tem que ficar comigo, tenho de prestar contas a Mitra.
-Eu faço uma cópia para o senhor.
-Não serve!
-Faço uma cópia autenticada. Em cartório...
-Não. Tenho de ficar com a original.
-Se o senhor ficar com a original, eu não posso fazer o documento. É exigência do DETRAN.
-Eu não quero saber se é ou não exigência de quem quer que seja, tem de ficar com a nota original.
-Eu já disse, sem a nota não posso fazer o documento...
-O senhor não serve para atender pessoas no balcão. É grosso, não tem educação! – diz o padre muy distinto elevando a voz e esganiçando-a. Distintamente.
-Pessoas eu sei atender muito bem. Os que eu não sirvo para atender são bestas, burros e mulas teimosas! Muares de plumagem empertigadas e metidas à dona da verdade! – disse o ‘corizado’, também elevando a voz já um tanto fanhosa enquanto secava a coriza com os dedos e os limpava na nota fiscal do sacerdote.
-O senhor me respeite que eu sou padre! – já gritando com as mãos na cintura.
-Eu não respeito nem Papa, vou lá respeitar padre? – em igual volume de voz, fanhosa, claro!
-Oras! Vá para o inferno!
-Vai pro inferno o senhor, e leva esta porcaria de nota fiscal junto! – e joga a nota, já muito amarfanhada e um tanto molhada de secreção nasal.
O padre girou nos calcanhares e saiu pisando duro. Não tão duro assim, de vez em quando dava uma reboladinha e saiu dizendo que procuraria um lugar onde fosse melhor atendido.
Quarenta minutos depois voltou, foi atendido por outro funcionário e concordou em deixar a nota original e levar com ele apenas uma fotocópia autenticada pelo cartório local.
Até onde se sabe, nenhum dos dois foi para o inferno. Ainda.
Com o nariz escorrendo, gotejando sobre documentos recém-impressos e manchando tudo, o humor, que já é uma maravilha em dias normais, neste dia estava abaixo de cão. Tanto que respondeu vários ‘bom dia’ com alguns singelos ‘por quê?’.
Já no período da tarde adentra no escritório, devidamente paramentado com camisa de gola clerical, as famosas ‘clergyman’ um senhor distinto.
Na visão do povo que trabalha ao escritório, distinto até demais... Distintíssimo!
Todos fingem estar ocupados ou ignoram solenemente a figura sobrando para nosso ‘corizado’ atende-lo.
-Pois não?
-Boa tarde.
Até pensou em dizer que não tinha nada de boa na tarde, ainda mais com tão distinta presença ali... Mas calou-se.
-Posso ajudar?
-Quero fazer o documento de um carro zero quilometro.
-Pois não, posso ver a nota fiscal?
-Pode. – e saca de uma bolsa também muito distinta a dita nota. Em via única era uma nota fiscal direta da fábrica e descrevia como produto um Ford Fusion, preto como convém, faturado em nome do padre, mas pago pela Mitra Diocesana.
Fez contas e apresentou os resultados ao padre que concordou com a quantia cobrada pelo primeiro emplacamento do veiculo.
-Ok! Então por favor, o senhor me dê seus documentos, CIC, RG e uma conta de luz, água ou telefone como comprovante de residência.
-Você vai ‘xerocar’, não é?
-Os documentos pessoais sim, a nota fiscal tem de ficar a original mesmo.
-Não pode!
-O que não pode?
-Ficar com a nota fiscal original.
-É necessário, sem ela não posso fazer o primeiro emplacamento.
-Não pode... A nota original tem que ficar comigo, tenho de prestar contas a Mitra.
-Eu faço uma cópia para o senhor.
-Não serve!
-Faço uma cópia autenticada. Em cartório...
-Não. Tenho de ficar com a original.
-Se o senhor ficar com a original, eu não posso fazer o documento. É exigência do DETRAN.
-Eu não quero saber se é ou não exigência de quem quer que seja, tem de ficar com a nota original.
-Eu já disse, sem a nota não posso fazer o documento...
-O senhor não serve para atender pessoas no balcão. É grosso, não tem educação! – diz o padre muy distinto elevando a voz e esganiçando-a. Distintamente.
-Pessoas eu sei atender muito bem. Os que eu não sirvo para atender são bestas, burros e mulas teimosas! Muares de plumagem empertigadas e metidas à dona da verdade! – disse o ‘corizado’, também elevando a voz já um tanto fanhosa enquanto secava a coriza com os dedos e os limpava na nota fiscal do sacerdote.
-O senhor me respeite que eu sou padre! – já gritando com as mãos na cintura.
-Eu não respeito nem Papa, vou lá respeitar padre? – em igual volume de voz, fanhosa, claro!
-Oras! Vá para o inferno!
-Vai pro inferno o senhor, e leva esta porcaria de nota fiscal junto! – e joga a nota, já muito amarfanhada e um tanto molhada de secreção nasal.
O padre girou nos calcanhares e saiu pisando duro. Não tão duro assim, de vez em quando dava uma reboladinha e saiu dizendo que procuraria um lugar onde fosse melhor atendido.
Quarenta minutos depois voltou, foi atendido por outro funcionário e concordou em deixar a nota original e levar com ele apenas uma fotocópia autenticada pelo cartório local.
Até onde se sabe, nenhum dos dois foi para o inferno. Ainda.
Comentários
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Gostei pacarai!!!
Mas, a "reboladinha" foi só a retirada de mais um quebra-molas na via que te levará mais uma vez aos inferno, né Groo?
Abs.
Dois bicudos não se beijam...não tem jeito.
abs
Ótimo texto, como sempre! :D
Abs!
Abs.
E nem falei das evangélicas hê ?, que , ao menos, ostentam o carrinho da estrela solitária...