Groo recomenda: Viva! Camisa de Vênus (1986)

O rock nasceu indecente e – principalmente – politicamente incorreto.
Mas no Brasil nasceu inocente e demorou um pouco para pegar o jeito.
Precisou a segunda onda de rock and roll no país para aparecer um grupo que conseguisse navegar no mainstrean com a mesma boca suja e sacanagem com que transitava pelo circuito underground.
E quer mais? Circuito underground de Salvador, Bahia.
O Camisa de Vênus era contratado da RGE (Não... Não vou contar a história do nome da banda) e havia gravado dois discos: um homônimo e Batalhões de Estranhos que rendeu o hit “Eu Não Matei Joana Darc”, porém estava descontente com a direção artística que podava as reais intenções de Marcelo Nova e companhia.
Pensaram seriamente até em não gravar mais nada até que em uma noite qualquer de show, André Midani - então diretor da gravadora WEA - que estava na plateia, invade o camarim da banda empolgadíssimo e pergunta o que teria de fazer para contratar “aquele insulto” que ouvira no show.
Sentindo a chance de finalmente poder fazer o que tinha em mente, a banda se reanima e aceita o assédio se rendendo a Midani, porém, havia um detalhe: o grupo ainda devia um disco à RGE que acabou aceitando a proposta de que fosse um registro ao vivo, pensando obviamente em poder ter um produto de sucesso nas mãos tal qual o multi platinado “Rádio Pirata ao Vivo” do RPM, que vendera um caminhão de cópias alguns anos antes e dera o pontapé no chamado BRock dos anos 80.
Mas estes não eram os planos de Marcelo Nova... Não completamente.
O cantor e compositor queria algo que fosse o oposto total do disco de Paulo Ricardo e amigos.
E o que se ouviu quando finalmente o disco ganhou as lojas foi exatamente isto.
A começar pelo som.
A critica especializada dizia à época que nunca houvera um disco ao vivo no Brasil com tamanha qualidade, tão redondo e com som tão cristalino quanto o disco do RPM.
Já o do Camisa era tosco, direto, sem overdubs, sem correções, com microfonias, erros e palavrões... Muitos palavrões.
Marcelo Nova em seu habitat natural
Viva!, nome que o disco ganhou, nem contém o show na integra, mas apenas uma parte dele ajeitado para parecer uma apresentação inteira e já abre aos berros de: “bota pra fuder” em “Joana Darc”, o que se tornaria uma espécie de grito de guerra dos fãs e da banda.
O discurso em “homenagem” ao dia internacional da mulher (o disco foi gravado em 8 de março de 1986) que Marcelo profere antes de “Silvia” é de irritar qualquer feminista, a música que se segue então da nó nos seus pelos pubianos. Na versão em CD o discurso foi sumariamente limado.
“My Way”, versão safada do grande sucesso de Anka e François na voz de Sinatra é outro clássico da baixaria.
Ninguém sai impune: religiosos, esquerda, direita, descolados, nerds, trabalhadores, vagabundos... Todos são ofendidos por igual.

Já escaldado com a censura em seus discos anteriores, Marcelo Nova decide não enviar o material deste álbum para o órgão censor aproveitando a abertura política em curso desde 1985, porém, quando 40 mil cópias do disco já estavam vendidas, a tesoura da dona (in)justa atacou e chegou mesmo a recolher o álbum nas lojas. Cena presenciada por Marcelo Nova em uma de suas visitas às lojas para sentir o clima das vendas.
Apesar, ou por conta disto, o disco ganhou novo impulso e após a liberação com o selo: “proibida a execução pública e radiodifusão desta obra” chegou a vender mil cópias, sendo até então o segundo disco ao vivo mais vendido na história do país, atrás apenas do LP do RPM.

Comentários

Manu disse…
Esses dias eu e a Michelle estávamos falando das músicas dos anos 80 que hoje, daria tanta polêmica que encheria o saco. "Silvia" por exemplo, chocava as pessoas, mas parece que ninguém ficava nesse blábláblá de ofensa. Lançada hoje, essa música renderia seminários chatos nas federais e protestos nas ruas.

Dado engraçado: esses dias minha mãe passeava pelos canais e perguntou à minha irmã mais velha se o cara em um dos canais não era o tal "que cantava Silvia". Ela respondeu que não tinha reparado e minha mãe perguntou como era mesmo o nome da banda e ela respondeu "Camisa Nova". Dei risada e completei que o vocalista então era o "Marcelo de Vênus" (rsrsrsrs...)

Abs!
Marcelonso disse…
Groo,

Esses caras marcaram sua passagem no rock nacional. Curto esses caras;


abs