O rock no Brasil não acabou 5: Maglore e a política de ser livre

Não.... O disco não é difícil.
Pelo contrário, é acessível.
É pop, no melhor sentido da palavra e é rock, no sentido que você quiser dar.
O quarto disco da Maglore não é o ápice do trabalho dos caras. A cada audição fica mais nítido a capacidade do grupo de fazer coisas maravilhosas.
Desde o romantismo indie do primeiro disco (Veroz, 2011), passando pela revisitada nas raízes baianas - e sensacionais - do segundo (Vamos pra Rua, 2013) e a viagem de autoconhecimento para a produção esmerada do terceiro (III, 2015) a evolução da banda é algo palpável.
Não é possível dizer qual é o melhor já que cada disco é único, diferente, envolvente e excitante.
Dito isto, a expectativa para a chegada de Todas as Bandeiras (2017) só poderia ser grande.
Se você chegou até aqui e está se perguntando “que diabos é Maglore”, não se assuste.
Como disse: é rock e o estilo não está em alta, apesar de viver sua melhor fase desde o meio dos anos 90 e se quer um conselho, vá para sua plataforma digital de música preferida e ouça os discos da banda para chegar neste novo e finalmente entender sobre o que ele trata: política.

Todas as Bandeiras é um disco político, mas não esta política polarizada bicolor em que os dois lados defendem seus bandidos de estimação, mas a política da liberdade.
A liberdade de se escolher o que fazer, onde ir, o que e como sentir.
A liberdade de pensar, de esquecer e de lembrar.

O disco abre com “Aquela Força” que foi também o primeiro single e já traz na letra um otimismo moderado, de quem sabe que a vida é uma batalha diária e que só pode ser vencida etapa por etapa.
A liberdade de tirar da dor a força necessária (...o grito do tigre quando corre perigo, a força é esta...) para seguir.

A faixa título também é otimista, mas com os dois pés no chão (“...o tempo passa e o herói fica sozinho, mas em qual herói devemos confiar?).
E que a dureza dos tempos é real, mas que sempre vai ter um amanhã (“...toda vez que a gente morre, a gente renasce e eles não vão impedir de colocarmos a cabeça do rei na bandeja do peão. ”) e termina fincando o pé na liberdade de acreditar nos dias melhores que virão. (“eu vou ficar... eu vou ficar... eu vou ficar aqui! ”)

O disco todo é embalado em melodias assobiáveis e tem ótimos refrãos.
A canábica “Você me deixa legal” tem grandes chances de ser cantada a plenos pulmões nos shows, assim como “Valeu, Valeu”.
Porém, nenhuma tem um refrão tão legal e tão grudento como “Jogue Tudo Fora” que versa sobre a liberdade que o fim de um relacionamento pode oferecer.
Desde sair para dançar e chegar tarde, quanto se mudar de casa para respirar novos ares: “Eu vou me mudar/estou indo embora/pode ficar com ‘as coisa’/ ou jogue tudo fora. ”

O lado introspectivo da banda também foi agraciado com novas páginas.
“Eu Consegui Perder” embala uma letra sobre perda em um samba e “Quando Chove no Varal” evoca uma tristeza bonita coberta com um manto de saudade profunda de quem foi embora ou morreu. (“...o seu rosto tá sumindo e eu preciso caminhar…/ Eu ainda tô
sofrendo. uma hora vai passar. algum dia até quem sabe vamos nos reencontrar. ”)
E como covardia final, a banda ainda perpetrou o que provavelmente é a melhor canção brasileira dos últimos tempos.
“Calma” cativa já a primeira audição e na citação há Beatles (Let it Be), mas pode muito bem ser revertida para Stones (Let it Bleed) que não vai estar fora do contexto.

Se é o melhor disco do ano?
A letra da faixa de abertura dá a dica: “Você só vai saber vivendo”.
E ouvindo.

Comentários

Anônimo disse…
Bom dia !
. Poxa, senhor Groo. Eu fico feliz estupefato com esta dedicação toda que o senhor tem com as músicas destas 'novas' bandas. Fico até com vontade de fazer como os outros daqui fazem, ficar calado mas acho que a crítica é importante até para melhorar o que é 'mais do mesmo' travestido de 'novo' e abrir os olhos dos mais 'inocentes'.
. Vamulá, entonces ! 'Aquela força', caramba. Tigre e águia ? Suçuarana e Harpia complica a coisa demais, não ? O povo nem sabe que são animais da fauna pindoramense. Não, porque tigre me remete a Ásia e águia, a careca..., pros EUA. E o papo de quando ele era pequeno, xiiii. Ou ela. Ouvi até, já que são baianos, Berto Gil Berto em 'jogue tudo fora'( e, talvez, aquela puxadinha de saco básica nu omi, algo necessário para crescer na mpb como bem sabe e diz Lobão). E, a letra, caramba, o cara vive em 1960 ou 1970 ? Surgiu até Amsterdã mas tomem cuidado com o Islã... tá perigosa a liberdade naquela bagaça... e a maconha, dizem, andam proibindo e escassa...
Calma. É maldade ! Moçada jovem( menos de 18 até os 22 anos), tradução de TIME ! Pink Floyd ! Rápido ! Calma, nada ! Tio M.C. ordena !
. Bom, vou ser sincero, além do mais do mesmo irritante desta juventude( com tanta coisa para cantar, só a podridão da política mas Renatão Russo com 'que país é este' ou 'Perfeição' já mandou recado, né ? Não ! Dá para mandar mais ! Mas preferem arregar prá Ruanê !), letrista bom é raridade por aqui, Pindorama. Mas eles tem a favor o fato de o público ser 'Roquinrrio'. Anda fraquinho e bastante alienado. ' Os Tempos modernos chegaram', diria Lulu. E digo a verdade: Crítica é importantíssima ! Críticos de teatro, de cinema, de música, de gastronomia, de Ópera, de Balé, de Arte. Bons críticos de Arte não permitiriam um QueerMuseu. Óstias com palavrões ? Pura má educação e covardia. Só isso. Uma mulher( uma boneca, um manequim), com camisa vermelha do MST, com cara de drogada, raivosa, escrevendo 'ùc' numa hóstia ? Talvez seja arte. Um homossexual adolescente escrevendo vagina numa hóstia com a mãe rindo( ignorante, de classe média), com cara de perua falida, talvez seja arte. Mas, só hóstias com palavrões ? Agora, mexer com o Islã 'da hora'... cadê a coragem ? Só um Salman Rushdie da vida. Pena que eles, críticos, não existam mais. Para separar joio do trigo ou, quem sabe, fazer o joio virar trigo. Sim. Quem mexe com arte, música é, tem que estudar muuuuuuiito ! Ler muito ! Estava ouvindo Love Hurts( Nazareth), no sábado, após 20 anos sem pensar na música. Bohemian Rhapsody( Queen, tinha me esquecido do poder da música, ou... a idade bateu) vi no You tube, legendada. Caráio, véio ! Que porradas nas orelhas ! Quem, anos depois, escuta, mais velho, óbvio, estas canções - e outras antigas, pindoramenses também, como ' Bola de Meia Bola de Gude', Milton Nascimento e Fernando Brant - e escuta estas 'novas'...
Mas tem público para eles e que este mesmo público não cometa a besteira de escutar as antigas. Talvez não captem as mensagens delas...
Não posso comparar Nazareth, Queen, Miltão com Maglore mas o cérebro não deixa e já que é para imitar, fazer 'mais do mesmo', porque não ir aos bons? Pelo menos nas letras mas é necessário ler, ler, ler, ler, ler, ler eeee
coragem. Mas aí vamos à educação. Estes caras, do passado, receberam uma baita educação. Brian May, por exemplo, é astrofísico... Como andam nossas escolas ? O conteúdo delas ? Influencia. É papo prá metro. Estamos em plena era do 'em terra de cego, quem tem um olho é rei'.
Que merda viver numa terra de cegos, não ?
Mas estes 'jovens' têm chance em terra de cegos.
Fazer o quê, né ?



M.C.