Notinha do Busão





Sentado no banco de costume, dentro do ônibus de costume e com o também costumeiro Zé Pequeno ao volante do coletivo.
Zé ainda está ressabiado com a história do homem que além de embarcar com um cachorro no busão ainda saiu sem pagar.
É bem verdade que o homem não disse em momento nenhum que era cego, mas vai explicar isto ao nosso chauffer...
Em um ponto qualquer - dos tantos do caminho - um cego, de verdade, acompanhado de sua guia embarca.
Se pudesse enxergar, o homem teria visto a inacreditável expressão de duvida que Zé estampou no rosto.
Ergueu tanto uma das sobrancelhas, abaixando outra apertando os lábios, que seu rosto assemelhou-se a um enorme ponto de interrogação.
Para sua surpresa, o cego fez questão de pagar passagem. Também a de sua acompanhante.
Uma menina gordinha e morena que devia ter no máximo uns vinte e dois, vinte e três anos de idade, porém já com uma aparência de muito mais. Cansada, desgastada pela vida.
Sentaram-se logo a minha frente e puseram-se a conversar num tom audível a quem estivesse próximo, como era meu caso.
-Ah, mas eu não esqueço! – disse ele com o rosto virado para a janela.
-Sei... Aposto que você no dia seguinte fica com todas as duvidas do mundo! Se era bonita, se era mesmo jovem...
-Ai você está subestimando o poder do tato!
-Conversa fiada... Vai querer me convencer que você fica sabendo estas coisas apalpando o rosto?
-Não! Claro que não... Eu sou educado e não vou ficar pondo a mão no rosto das pessoas...
-Então faz como? Aposto que depois nem se lembra de nada da pessoa que passou a noite com você. Lembra?
-Eu tenho deficiência visual, minha querida, e não problema de memória.
-Então como faz?
-Vou te dizer uma coisa...
-Diz!
-É impossível esquecer uma mulher, mesmo cego, sabe por quê?
-Não, diz...
-Porque estrias; um conjunto de celulites ou verrugas, nunca são iguais a outras (sic). Pode ficar despreocupada, você está gravada pra sempre na minha memória de toque.
Ela o abraçou e lhe deu um beijo no rosto.Visivelmente constrangida.
Ele se ajeitou no banco e bateu com sua bengala no assoalho do ônibus.
Eu me levantei e puxei a cordinha de aviso para descer. Ainda faltavam quatro pontos e agora também o fôlego.


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Comentários

Caro Groo:

Mais um bela história do busão mais famoso da net...
Anônimo disse…
Seria este nobre cego um certo Max Mosley? hahaha... muito bom!
Felipão disse…
ótima, Groo. Agora essa do cachorro foi um barato... Certa vez, entrei pela porta traseira auxiliando um cego. Ele me disse na hora que não precisaria pagar, por estar acompanhando ele, mas resolvi ir até a frente e girar a roleta. Fiz pra ajudar mesmo e não levar vantagem... O cego ficou muito contente, inclusive...
Pezzolo disse…
ah ônibus sempre rende fatos bizarros!
Daniel Médici disse…
Excesso de informação. Esse é o problema dos dias de hoje.

Até nã busão...
Teté M. Jorge disse…
Booooooooooooooa, Ron!

Hoje te li por inteiro. Tava em falta com o Blig! Sensacional como sempre!

O busão sempre rendendo boas histórias...

Aproveito e deixo um beijo de FELIZ PÁSCOA pra você e a família toda e para todos aqueles camaradas gente boa que vêm aqui te prestigiar.

Felicidade.

Grande abraço!
Anônimo disse…
Haha, mais uma boa história do busão, Parabéns Groo.
Net Esportes disse…
só vc levantou, ou ninguém mais ouviu o cego ?? !!!!! he he !!! agora "assemelhou-se a um enorme ponto de interrogação" foi sensacional !!!!!!!
Felipe Maciel disse…
Que coisa, o busão mais famoso da net está ficando cada vez mais louco.
Essa das estrias foi dura de digerir, hein Ron
hehehe
Roo ! a melhor cara ! mando bem ! rsrs hehehehe