Atravessando a rua Abbey, quarenta anos depois

Se há quarenta anos o homem dava os primeiros passos na lua – embora alguns duvidem - um gigante da musica dava seu último passo aqui na terra.

Em 1969 uma das maiores bandas de rock da história – sinto, mas não a considero a maior, na verdade eu prefiro os Rolling Stones – lançava aquele que seria seu ultimo disco: Abbey Road, dos Beatles. A Apple, empresa montada pelo grupo para cuidar da parte financeira e artística do grupo passava por dificuldades financeiras que segundo Paul, vinha do fato de Allen Klein, que gerenciava os negócios, ficar com quinze por cento de seu faturamento.
Após a separação do grupo Paul foi à justiça contra Klein, que ainda assim manteve seu contrato com os outros três beatles até 1977.
McCartney dizia que Allen havia roubado – usou este termo mesmo – em média 5 milhões de dólares do grupo.

Abbey foi o ultimo esforço em conjunto dos quatro.
O disco é muito mais que uma simples coleção de canções.
É também o documento preciso do momento final da banda, com suas dificuldades e contratempos e flashes do que viria a ser a carreira solo de cada um.

Há quem prefira o Sgt Peppers, mas em matéria de rock direto e sem frescuras Abbey bate de longe até no White Álbum.

George Harrison finalmente tem seu talento de compositor reconhecido com as maravilhosas “Something”, sobre sua esposa.
Uma balada tão linda que muitos pensavam se tratar de uma composição da dupla L&M, e “Here comes the sun“ é a apologia ao astro rei e a felicidade de ver um dia de sol na Inglaterra. Tão raro quanto a felicidade que se sente ao ouvir a canção.
the Beatles - Here comes the sun

Ringo comparece com uma canção tipicamente sua: “Octopus´s garden” é bobinha e alegre e traz Lennon soprando um canudo em um copo com água.

McCartney e Lennon então dividem o restante das composições e forjam um disco coeso fortemente calcado no rock and roll, como há muito tempo, provavelmente desde Revolver o grupo não fazia.

“Come togheter” com uma letra nonsense que segundo Lennon era para divertir quem procurava mensagens ocultas em suas canções.
“I want you (she so heavy)" – É a primeira experiência de John com a terapia do grito primal de Janov. Experiência esta que o levaria a escrever mais tarde, já em carreira solo as letras de “God” e “Mother”.
É uma musica longa e repetitiva feita a partir de duas musicas distintas.

“Because” segundo o próprio teve sua introdução tirada de “Sonata ao luar” de Beethoven tocada ao contrário. Para mim é o ponto baixo do álbum embora seja largamente elogiada.

McCartney é que está realmente inspirado e comete algumas de suas melhores canções.
“Oh Darling” é o resultado final de sua busca pela emulação vocal dos cantores negros de rhythm and blues que procurava desde “Got to get into my life" e "Why don´t we do it in the road”.

“Maxwell´s silver hammer”, embora não tenha sido um sucesso é interessante ao contar a historia sombria de um homicida que usava um martelo de prata para cometer seus assassinatos.

Mas é na junção de varias micro musicas e composições inacabadas na parte final do disco que está o toque de gênio e onde o grupo se mostra mais afiado em termos de instrumentação.
As poucas intervenções orquestrais nos deixam finalmente ouvir a técnica de George e John tocando guitarras juntos. Com vários takes de Paul ao instrumento também.
Um solo de bateria de Ringo, que se não era tecnicamente lá grande coisa, ao menos era seguro e econômico.

A viagem começa com “You never give me your money” de Paul e continua pelos versos poliglotas de “Sun King” entra em “Mean Mustard” e segue com “Polithene Pam”.
Ouve-se um "look out" e então começa “She came in through the bathroon window” com a história de uma fã que invadiu o hotel pela janela do banheiro.
Algumas versões dizem que no hotel em questão estavam hospedados os próprios Beatles, outras dão conta de que eram os Moody Blues.

De qualquer forma é surreal e engraçada.

A sequência “Golden Slumbers” e “Carry that weight” conta o imbróglio financeiro citado acima na visão de Paul McCartney.
O peso (weight) ao qual se refere na segunda canção é o dos processos que ele moveria contra Allen Klein e vale lembrar que a auto citação de “You never give me your money” é muito pertinente.

O disco termina com “The End” que diz que “no fim o amor que você recebe é igual ao que você faz”
Há ainda uma faixa escondida chamada “Her majesty”, mas é irrelevante ao produto final.
Com o disco também acaba a historia do grupo.

Que alguns perguntem: “-Mas e o Let it be?”.
Este foi gravado durante os trabalhos com Abbey Road e depois refeito com a produção de Phil Spector quase como um disco póstumo.O sonho - como disse Lennon – acabou, mas em 1969.

Comentários

Para quem ainda não conhece todo o trabalho dos Beatles, três álbuns indispensáveis dos britânicos de Liverpool são os supracitados Abbey Road, White Album e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band.

Abbey Road foi o último álbum de um quarteto que, à medida que o tempo foi passando, seus integrantes passaram a focar em outras atividades na vida, como casar e ter filhos. O término das atividades dos Beatles foi algo "natural", digamos assim.

No entanto, seu legado, com mensagens de paz entre os povos, e a esperança de um mundo melhor, permanece até hoje.

Quem curte Beatles tem de conferir a apresentação quase teatral do grupo argentino The Beats, a melhor banda Beatle do mundo, escolhida em um concurso realizado em Liverpool com mais de duzentos grupos cover de diversas partes do mundo. Vale muito a pena. Ela passou aqui em Santa Cruz do Sul. Se vierem denovo ano que vem, irei novamente!
No show do The Beats, uma pergunta foi feita aos espectadores: "O que pensaria John Lennon se estivesse vivo, quando visse as guerras, desavenças e conflitos políticos que ocorrem atualmente?"
Caro Groo:

Belíssima resenha, parabéns. O Abbey Road é tão significativo em minha vida que tenho na parede do pequeno escritório em minha casa uma representação impressionista da capa do disco que me foi dada de presente por um grande amigo meu que é pintor em Araxá, MG, chamado GALDINO. Descrever as emoções que esse disco - que considero um dos dez mais importantes da minha vida - causaram em mim é impossível. A mini-sinfonia criada por Mccartney à partir de YOU NEVER GIVE ME YOUR MONEY é o trabalho mais genial que vi dentro do rock and roll.
Unknown disse…
há quem diz que mcartney estava sem sapatos porque o verdadeiro paul tinha morrido e este era um dublê... polemicas não faltam, e polémicos tem tempo.

eu gosto mais do album branco, mais para todo beatlemaniaco é isso: abbey é o divisor de aguas.

pessoalmente gosto de her comes the sun, musica muito legal e espontânea. mais não fala muito disso que vem a rita lee e troca a letra
Marcos Antonio disse…
Abbey road é um album indispensável pra conhecer os beatles. gosto mto tb de Revolver e sgt peppers. E pra mim os Beatles foram A banda.
Daniel Médici disse…
De fato, Let it Be é quase póstumo, e a pós-produção engole o que de fato havia de Beatles nele.

Quanto ao Abbey Road, há tempos que não o ouço, mas depois desa análise fascinante, acho que não vou resistir...
Anônimo disse…
uau, belo post Groo. Sou dakeles q sempre ouviu (como não ouviria né) sobre os Beetles, conhece algumas músicas, mas no fundo não sabemos nada rs.... Mas foi um belo texto. Legal.
Felipão disse…
Esse disco é cheio de pegadinhas na capa, como disse o Luis Marcel... Espetacular resenha, sem nada a acrescentar... (eu prefiro os Beatles mesmo... heheheh)
Tohmé disse…
Cacete Groo, essa capa de baixo é do Língua de Trapo, um dos meus preferidos, munto do Premeditando o Breque.

Mais alguém curte????
Anselmo Coyote disse…
Groo,

O F1 ALC tem razão.
São muitas polêmicas. E polêmicos tem tempo e, acima de tudo, imaginação e criatividade, F1 ALC.

Na foto da capa destacaram que Paul:

Está com o passo trocado (em descompasso com os outros três).

Está descalço (na Inglaterra os mortos são enterrados descalços)

Está com os olhos fechados.

Embora canhoto, está segurando o cigarro com a mão direita (aqui sustentaram um dublê).

Viram ainda:
Que um trecho da faixa "Come Together" diz: "one and one and one is three", uma alusão a "John + George + Ringo são três". Com isso disseram que Paul estava morto.

Sustentaram esta última maluquice no fusca (beetle) branco estacionado, cuja placa é 28IF, significando que Paul teria 28 anos se (IF) estivesse vivo.

Por fim, para deleite dos malucos, ainda há um carro funerário estacionado.

Abs.
Anônimo disse…
Master Groo,
Na Grand Place em Bruxelas, a prefeitura lhes fêz uma homenagem espetacular. Logo de entrada "Real Love" o ícone de minha geração sessentona. Até a rap-garotada se emocionou com os vídeos q rolaram no telão. Sua resenha, Groo, é uma justa homenagem.
Saudações belgo-monarquistas
carlo paolucci
andreh disse…
Bela resenha, com certeza um dos meus discos favoritos! e qdo entra “She came in through the bathroon window” é simplesmente impossível não aumentar o volume! Parabéns Groo!
Unknown disse…
Legal! lendo veio lembranças boas de bons tempos.

valeu Ron


abs