Notinha do busão...

Há alguns meses não via o Amaral, vulgo Zé Pequeno.

Para quem não se lembra ele é o motorista da linha de ônibus que eu usava todos os dias para ir trabalhar.
Nos encontramos no supermercado e ficamos rindo das coisas que aconteciam no interior daquele ônibus.


Fiquei com saudades e resolvi rpublicar novamente uma das mais surreais que presenciei.
Aos que leram, matem a saudade junto comigo e aos que não leram vai servir para ter uma idéia do que acontecia...
Boa leitura!
"-O cachorro não pode embarcar não!" – disse Zé Pequeno ao ver aquele homem de óculos escuros e um cachorro parado em frente à porta dianteira de seu ônibus.


O homem sequer esboçou protesto, ficou impassível e calado diante da porta.
O cachorro idem.
Alguém lá do fundo do ônibus - uma mulher provavelmente - observava a situação pela janela e levantou a voz em auxilio ao homem:
"-Não tá vendo que é cego? Olha o cachorro!".

Zé então olhou para seu cobrador, um moleque novo e com cara de estúpido, como quem procura consentimento.
O moleque dá de ombros. O problema não era dele.
Então Zé pede para que o homem embarque e ainda o ajuda a sentar-se naquele banco de um só assento que fica quase ao lado da cadeira do motorista.
O cão se deita aos pés do cidadão e ali permanece.
Zé vai devagar, tomando excessivo cuidado. Não deixa que o coletivo balance muito nas curvas, reduzindo além do normal.
Alguém lá do fundo então grita:
"-Ô Zé! P*rr*, é cego, mas não ta grávido não c*ralh*! Acelera esta estrovenga ai!".

Zé então volta a rodar perto da velocidade normal.
Alguns minutos depois o homem se levanta e vai até ele, gesticula um pouco e Zé entende, para o ônibus no próximo ponto, defronte a uma banca de jornal.
O homem desce e Zé fica esperando que outros passageiros embarquem.

Curiosamente o homem de óculos escuros fica diante da banca de jornal como quem olha manchetes.
De repente tira os óculos e chega mais perto de um exemplar da Folha que estava exposto, saca o dinheiro e compra o jornal.
Zé indignado levanta-se, vai até a porta e grita com o homem:
"-Ô... Que isto? Não é cego?".
E o homem responde:
"-O cachorro é!"

Um silêncio sepulcral, que domina o coletivo até o ponto final, quebrado apenas pelo ronco do motor.
Alguns juram que ouviram Zé Pequeno rosnar varias vezes...

Comentários

Tohmé disse…
He,he, me lembrou a rebostagem da Vejinha....

Quando você sai da toca, para o Chopp escuro?
Daniel Médici disse…
Eu me lembro desse post! Infelizmente, os fenômenos que eu presencio no transporte coletivo quase nunca ultrapassam o mundo da percepção quotidiana.

(Acho que estou lendo Adorno demais).
Unknown disse…
kkkkkkk!! lembrei dessa..

eh, velho, porque não publica mais a cidade depois do viaduto? tentei entrar mais no circulo de autores só se cadastrando...
Felipão disse…
hahahahahha

dessa eu lembro também...

Grande Groo
Felipe Maciel disse…
ahahahah
Cara, como que o ônibus do Zé Pequeno pode ser uma fonte tão impagável de histórias?
Sensacional...
Anônimo disse…
também lembrei desse post, mas esse busão com a cadeira de passageiro na frente, quase do lado do motorista... esse é antigo hein rs
Marcos Antonio disse…
essa foi uma das melhores, eu ri mto!

e cara estou mto feliz por você meu amigo, agora só falta seu livro ser publicado!

abs!
Anônimo disse…
Hahahah... essa é realmente ótima.

-|T|-