Breakfast at Castanho´s

Há tempos planejava uma visita ao Castanho, uma das melhores vinícolas da região de Jundiaí e após conhecer o dono da adega, Mateus ficou ainda mais interessado.
-Vamos lá... Garanto que cê vai gostar! – diz ele a seu grande amigo Lucio.
-Como sabe que eu vou gostar? Se nem você provou as bebidas de lá ainda?
-Mas tenho indicação de que é bom... E tem mais. O dono de lá, o “seu” Castanho, - que eu conheci pessoalmente – é gente boa pra caramba...
-Quantas vezes cê conversou com ele?
-Só esta semana umas três ou quatro vezes...
-E desde quando cê o conhece?
-Bom... Conheci esta semana... Mas, vai por mim. Vale a pena.
-Bom... Beleza. Quando a gente vai?
-Que tal no sábado?
-À tarde?
-Não... Vamos de manhã mesmo. A gente toma café da manhã lá.
-E lá tem café?
-Hehehehe, não... Se é que você me entende. No sábado pela manhã se encontram na frente da casa de Mateus, que ao lado de seu vizinho – conhecido como Tungão – já mantinha o motor do carro ligado.
-Vamos de carro? – pergunta ele.
-Vamos, oras... Qual o problema? Vai dizer que lá não tem estacionamento?
-Tem, tem... Aliás, lá é como se fosse uma chácara... Mas eu to falando porque a gente vai provar os vinhos, as pingas, os licores... E não vamos provar um só ou só uma vez... Daí pra voltar já viu né?
-Calma Lucio... É por isto que estamos levando o Tungão...
-Mas o Tungão não bebe? Eu nem sabia que ele dirigia...
-Ele não dirige não... E bebe sim. Né Tungão?
Tungão não responde, apenas sorri seu sorriso desfalcado.
-Então não entendi... Se ele não dirige, e ainda por cima bebe. Qual a valia dele neste caso?
-Pô... É um especialista! Quem cê conhece que já tomou tanta cachaça quanto ele?
-É... Bem poucos...

Tungão era o boa praça do bairro. Ajudava onde era requisitado e quase nunca cobrava nada pelos serviços que ninguém gostava de fazer: carpia calçada, limpava terrenos ainda não construídos, pintava muros e outras pequenezas.
De boa família, tinha apenas dois defeitos: Gostar de uma birita e bater nas costas dos amigos após ter coçado os quibas... As partes baixas.

Subiram no jipinho moderno de propriedade Mateus e rumaram à região de Jundiaí, onde ficava a adega e vinícola do Castanho.
Ao chegarem lá encontraram o estabelecimento ainda fechado e uma placa: Expediente de segunda a sábado das 12 às 18hs..
-Cê sabia? – pergunta Lucio.
-Se eu soubesse, acha que eu vinha agora?
-Bom para alguém que quer tomar café da manha num alambique... Vai saber...
-Não é alambique, é adega... Vinícola...
Tungão apenas sorri seu sorriso vazio...

Esperam por quatro horas até a abertura do local sem conversar muito. O sono e a fome não deixam.
Mas ao meio dia em ponto “seu” Castanho abre – pelo lado de dentro – as portas da casa. Reconhece imediatamente Mateus, que o apresenta a Lucio e posteriormente a Tungão, que como de costume dá os tapinhas regulares às costas do proprietário da bodega.
-Este homem está bem? – pergunta Castanho a Mateus em particular...
-Tá sim... Ele é assim mesmo, quase não fala...
-Mas ele não tava coçando os...
-Não, não... Impressão sua.
Mas estava.
Ao entrarem, cada um ganha um copo plástico com o qual dão a volta no salão provando de todos os tonéis esquecendo-se por completo da história de que teriam de dirigir para voltar.
Tomaram ao menos duas vezes de cada um dos vinhos, licores e cachaças.
-Este é bom! – dizia Lucio.
-Concordo... – com um aceno de cabeça Mateus.
Tungão apenas sorria seu sorriso falho.
Ao chegarem ao ultimo tonel da segunda volta já diziam:
-Eshte não é tão bom...
-Não... É ruim...
Tungão já não sorria... Mas ainda coçava os quibas.

Na volta trazem cada um três garrafas do ultimo vinho. Um tinto ultra-doce considerado pelo próprio castanho como de baixa qualidade.
Tungão, abraçado a um pote de cebola em conserva dormia com um sorriso no rosto.
Ah sim... Voltaram de ônibus e perderam o ponto tendo que desembarcar apenas no final, nem se lembrando que haviam ido de carro.
O jipinho, guiado caridosamente pelo “seu” Castanho, que ao ver o estado deplorável em que se encontravam tratou de obter a maior quantidade de informação possível, chegou à casa de Mateus seis horas depois quando todas as garrafas trazidas de seu estabelecimento já estavam vazias.

Comentários

Daniel Médici disse…
Essa crõnica me lembrou de Sideways, um filme de alguns anos atrás que fala sobre degustação de vinhos. Gostei muito dele. E ainda aprendi: é essencial, nua degustação, cuspir o vinho fora! Do contrário...
Tomás Motta disse…
muito bom Ron, como sempre, original e com uma pitada de hironia..
estou esperando para ver as ava(ca)liações chinesas!! hahah

um grande abraço!
Tomás
Tohmé disse…
Eita programão...

Vamos marcar uma trip dessas....de moto.
Marcelonso disse…
Groo,

Pensei que o final não fosse tão generoso com esse trio parada dura!

É aquela história,um trabalho duro mas alguém tem que fazer!

abraço
Tohmé disse…
Groo, como você é desligado....

VAi andar de moto comigo, sem me encoxar, é claro.
Gil disse…
Não consigo ler seus textos sem as imagens aparecerem na minha cabeça na hora. Imagino os caras voltando, passando com o copo plástico e provando tudo.... e o outro lá hahahhahahahahhaha
Tiasley disse…
Hahah.. mto boa.

Eu conheço um cara igual ao Tungão.
Só que dentado.

-|T|-
Natália disse…
Será que você pode me falar o sobrenome do dono se você souber ?! Por favoooor ?! Obrigada :)
Ron Groo disse…
Não tenho Natália, infelizmente.