O dia em que a musica morreu

Este texto foi originalmente publicado em 2009 aqui no blog e esta semana recebeu uma menção e foram citados alguns trechos dele em um jornal da cidade.

Tudo é conjectura. Tudo é suposição.
Mas tanto a carreira Buddy Holly quanto as de Richie Valens e Big Bopper talvez não fossem tão celebres se não tivessem sido abortadas ainda efervescendo.
Ok, claro que para muitos, inclusive mercadologicamente Richie Valens equivalesse a um Elvis hispânico. Pegou os caminhos do rock´n’roll e os temperou com as influências do folclore mexicano. Assim como o Rei levou a musica negra (rock era considerado race music, musica feita por negros e para negros, como o jazz dos anos 30) ao publico branco e racista dos Eua, Valens levou o rock´n´roll ao povo mexicano.
Mas do que tratarei aqui é de como o rock e o mundo mudaram após o dia 03/02/1959.
O dia em que a musica morreu.
Suas músicas – de Buddy, Ritchie e Booper - eram dançantes e/ou românticas. Valens tinha a questão latina, mas ainda assim era mais diversão que conscientização.
Então, quando o avião que viajavam bateu numa montanha devido a uma tempestade e tragicamente ceifou a vida dos três foi como se o rock and roll deixasse de ser divertido e simples. No sentido de não ser mais uma musica descompromissada. Tivesse que ter outros propósitos além de divertir.

Da metade da década de sessenta para frente, o rock tomou ares intelectuais e sociais que ainda não tinha. Os Beatles foram divertidos até “Ruber soul” e não deixaram de ser depois, mas passaram à categoria dos ‘geniais’, assim como Dylan e todo o pessoal que participou de Woodstock em 1969. A geração Flower Power, que protestava contra guerras. Mas carecia de um elemento, lá dos primórdios, que dava ao rock seu sobrenome: o ‘and roll’.
O rock já não dançava mais.

A esta altura, 1971, Elvis já era ícone – vivo, mas ícone – Os Beatles já não estavam mais juntos. Os Stones, bem os Stones não contam, afinal até hoje seu rock diz muito mais a eles e ao estilo de vida que eles criaram do que sobre qualquer outra coisa do mundo. Os Rolling Stones viveram sempre no planeta Stones.
E foi isto que percebeu 12 anos após o acidente de 03/02/1959 o cantor e compositor Don McLean.
Compôs então uma canção que chamava de volta o gingado para o rock, de forma cifrada e com uma letra com tantas ou mais citações e armadilhas que as obras de todos os citados juntos: American Pie.

Diz a lenda que o titulo da canção estava pintado na fuselagem do aeroplano, não achei confirmação. Mas como tudo na canção parece ser uma citação de algo, publique-se a lenda então.
As citações vão desde o disco “Book of love” dos The Monotones até o chamado “Verão do amor” de 1968 quando Allen Ginsberg, poeta beat, sugeriu que todos deveriam sair às ruas de San Francisco para gritar poemas e provocar terremotos.

Frases ambíguas que emulam tanto a John e Jaqueline Kennedy (Kings and Queens) quanto a Elvis Presley.
Faz referencia a Bob Dylan, quando cita o palhaço que “cantou para o rei e a rainha”. Lembrando que Dylan compôs “Jokerman” – literalmente palhaço.
E aponta que “nenhum anjo nasce no inferno” numa alusão clara ao episódio em que os Rolling Stones contrataram os Hells Angels para fazer a segurança num show em Altamont onde um fã morreu espancado pelos “seguranças”.

Particularmente, penso que a canção não diz só sobre a cena musical. Mas diz muito sobre a perda da inocência dos jovens americanos.
Marca o rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Mas sem adolescência.
A guerra no Vietnã; a corrida espacial; o homem na lua e então vieram as mortes de Janis, Jimi e Jim.
O assassinato de Kennedy, o inicio da guerra fria e a corrida louca do relógio nuclear para bater a meia noite da humanidade e detonar o armagedom . Tudo junto e de uma vez só.
A entrada nos anos 70 e seu pessimismo.

De volta ao âmbito havia o rock progressivo e suas musicas etéreas e longas que afastavam o publico dos artistas e que foram responsáveis diretas pelo aparecimento do punk rock e sua violência, por vezes gratuita.
Definitivamente o rock não dançava mais. E os jovens americanos não sonhavam mais.

Comentários

Anônimo disse…
...e M.C., escreve: Gostei. Man dou bem, Groo. Mas... o final só quero acrescentar algo. Os Beatles começaram o rock progressivo ! A Day In The Life... Como na moda surgem as tendencias, eles fizeram isso. Até " He Comes The Sun " tem algo... Se voce pegar Pink Floyd, pegar Emerson Lake and Palmer, Yes, Genesis e por aí vai, no final dos anos 1960, estavam perdidinhos... Gosto do Rick Wakeman ! Mas ele cortou os cabelos ! Ah ! Se acharam no rock progressivo. Uns entraram de cabeça no rock progressivo. E era a aposta no futuro ! Naves espaciais... " Viveremos em Marte em 2010 !" diziam. 2001, uma odisséia no espaço, viagens psicodélicas. Lucy in the Sky with Diamonds( LSD ) e tome pico na veia, meu ! Punk é movimento. A Inglaterra estava arrasada economicamente, nos anos 1970 - Marte estava ficando cada vez mais longe -, quase como o Egito hoje, só que lá, England, é a terra da música e dos poetas... E mengão é Egito... ou seja, Manchester United é Inglaterra, então, Inglaterra é a Inglaterra ! Egito é Agito... OBA OBA ! Os meninos de lá, England, souberam canalizar a raiva pela decadência economica do país para o movimento punk ! Que começou muito antes dos caras que vomitavam no público( como era o nome deles mesmo ? )com o filme Laranja Mecânica mostrando mais ou menos isto. Juventude violentíssima... Rooligans no futebol... Nada a ver com o Rock Progressivo queeeeee.... também mostrou, de forma mais forte ainda, o que ocorria na Inglaterra em " Another Brick In The Wall ". Já no inicio dos anos 1980. Pink Floyd não se fludeu ! Mas quem chamou na xinxa neguinho mesmo foi a Dama de Ferro, a verdadeira Iron Maden Liberal, horror das esquerdas, Margaret Thatcher, minha ídala ! Tirou a Inglaterra do populismo esquerdóide e colocou-a novamente uma nação de 1º mundo ! Aí, o movimento punk sifú ! O que está acabando com o rock é o polititicamente correto que, sinceramente, aqui, o seu pessoal faz parte. Não há Rock que sobreviva a este movimento dissimulado. E, pior, vemos os caras que eram " da pá virada", "contra o sistema", os de antigamente, riquíssimos ! Não por que estão riquíssimos mas sim por ter nos enganado ! Keith Richards é BILIONÁRIO ! Protege os filhos com um bom pai de classe média tem de fazer... Elton John posa em revista com o esposo( ou a marida) e filho ... Revista de fofocas... e assim vemos muitos ! Elvis está mais rico quando vivo era ! Pergunte a filha e a mulher dele ! Acho que até Rick Valens... O povo exige o conservadorismo boboca ou o rebelde selvagem de araque ! Vemos, aqui, alguma música de protesto aos desgovernos ? Contra venda de tóxico ? Até o Gabriel parou de pensar ! Quer é dindin ! Nossos humoristas 21 são polititicamente corretos ! Lá fora, ainda vemos algo - muito fraquinho -, mas, aqui ? O politiicamente correto é que está acabando com a música ! E com o humor( Vida longa ao Millor !)... Com os blogs...
Paulo Levi disse…
Gostei dessa exegese (eia!), muito bem contextualizada por sinal, da letra do American Pie. Pra mim, a maioria dessas referências era totalmente hermética até agora.

Mas me explica uma coisa: quando o Don McLean foi de Chevy até a represa ("levee" - não, não é parente...rs), o fato de ela estar seca tem algum significado especial no contexto da música?
Anônimo disse…
.. e M.C., evcrese: Não fui eu que escrevi isto aí em cima. Tá doidão, mermão ? Vou aplaudir o por- do- sol no Arpoador e pescar uma baleia voadora ! Ae, meu ! Mó sol ! Tem fininho aí ? Manda um, mano ! "Vamo prá Itaúna !", Bob Marley ! He Comes The Sun... esqueceu dos "re", otário ! HA !There Goes The Sun tchú rú rú rú !
Marcos Antonio disse…
um das suas melhores resenhas musciais, na minha opinião, mto boa mesmo

cara, agora to em endereço novo em http://www.gogpseries.com/ altera meu antigo.

abraços!
Anônimo disse…
... e M.C., escreve: pô, tenho horror a blog fechado ! O cara vai e tchan!, escreve babaquice e a gente não pode escrever babaquice no bloguinho dele ! Dar um corretivo no cara, sabe ? O Groo( que acho, sinceramente,vendeu o blog e está de férias nas Bahamas )pelo menos sabe que o anonimato é imprescindível( mesmo sabendo que o cemitério está cheio de imprescindíveis...). E o cara ainda bota o bolivariano PeDeVéia em destaque. O coitado chavezuelano vai levar uma coça do nosso Ruizinho Polichinello ! O bicampeão Genial Hamilton e seu escudeiro... o número 2, Button, merecem repeito ! Tô só adiantando a parada... E a McLaren já é montadora ! Não é enrroleixon estatal não ! Cada um que me aparece... esquerdóides... Aprende ! "anônimo" - "pubricar comentário" .... foi ! Vai passar as férias na Chavezuéla com direito a nadar até Cuba... depois, conta a experiência...
Ron Groo disse…
Não MC, o blog do Marcão não é fechado, é algum tipo de bug. E eu não tô de férias não. Muito pelo contrário.
Anônimo disse…
... e M.C., escreve: Tá. Mas, convenhamos... caprichei ! Bahamas é o must ! E se voce não vendeu o blog,tá legal,mas, se vendido estivesse... passar ferias nas Bahamas sugere ter sido bem vendido... O Marcão exagerou chamando os dois campeões mundiais de boiólinhas, da querida McLaren... Se ainda fossem os da Ferrari, tudo bem... Da Mercedes, aquele, com cara de Leonardo de Caprio...
Marcelonso disse…
Groo,

Concordo com o Marcão, a resenha ficou muito bacana mesmo, parabéns!

Aguentar essa "pentelhada" não é mole meu camarada.
Vc está concorrendo ao premio "Ezo e Dazo", instituidos pelo glorioso Almir!

abs
Unknown disse…
cara que linda forma de falar de música, nunca vou escutar american pie da mesma forma. li duas vezes e ainda vou ler mais duas