Calvário para publicar


-Oi... Eu vim porque recebi um telefonema...
-Seu nome é?
(diz o nome)
-Ah sim... O senhor deixou um original para avaliação.
-Deixei... Faz tanto tempo que pensei que não teria resposta.
-Ler e avaliar livros para publicação demanda tempo senhor...
-Entendo.
-Também leva tempo para escrevê-los, não é?
-Muito...
-Bem, agora a espera chegou ao fim. Aguarde um instante enquanto anuncio que o senhor chegou.
-Obrigado!

A espera sentando em um confortável sofá azul vai se tornando longa. A euforia – contida ao chegar – vai se dissipando e dando lugar a uma angustia.
“-Terão gostado da história?” – ele pensa – “-Será que acharam o texto bem escrito?”
A música ambiente é igual aos sons ouvidos nos elevadores, menos mau. Podia ser algo destas novidades com sabor rançoso de coisa velha que inunda as FM´s.
“-Novidades, ta certo... Letra ridícula com refrão grudento repetido um zilhão de vezes e com instrumental indigente... Tá certo!” – é o que imagina para afastar o sentimento ruim da espera.

-Senhor!
-Pois não?
-Pode entrar, já estão lhe esperando.
-Obrigado! – e se contém para não correr. De passagem pede a recepcionista que lhe deseje sorte.
“-E adiantaria?” – pensa ela enquanto lê seu horóscopo no computador.

-Bom dia, sente-se.
-Obrigado.
-Vamos direto ao ponto. Seu texto é bom. Bem escrito, de fácil leitura.
-Obrigado.
-A história também é boa, magos, castelos, seres mitológicos, cavaleiros em batalhas... Muito bom! Ultimamente tem se vendido muitos livros com esta temática. Mas...
-Mas? O que tem? Ou melhor, pelo seu tom... O que falta?
-Um pouco de sacanagem... Olha, na boa... Falta sexo no teu livro... Não vamos publicar. Fica para uma próxima. Obrigado... – e se vira para fazer ou simular uma ligação.

Ao sair, entre frustrado e raivoso, deixa escapar em voz alta:
-Falta sexo... Falta sacanagem, ta zbom... Se ele quiser eu posso comer a b... dele e por no livro! Fidaputa...
-Como, senhor? – pergunta a recepcionista...
-Não... Não como, estou só reclamando em voz alta.
-Ah, sim... Tenha um bom dia.
Ele sorri enquanto pensa: “-Vá se f...”

Comentários

Manu disse…
É.
Ainda bem que não passo por isso na minha monografia! :D
(Está sendo um parto difícil, porque há momentos em que só queria saber escrever, talvez assim facilitaria.)

Sabe dizem o mesmo do meu autor fonte de dia minha pesquisa... o.O

Abs!
Net Esportes disse…
Acho que ele deveria escrever sobre música. Afinal enquanto esperava sob o tempo ocioso foi esse o tema que recorreu em sua mente !!!!!!!!!
Marcelonso disse…
Groo,

Escrever não é uma tarefa tão fácil quanto possa parecer.
Fico imaginando a expectativa desse sujeito e logo após sua frustração...

Mas é o tipo de situação que faz parte do nosso cotidiano. O negócio é seguir em frente e não desanimar.

Fui numa palestra do Amyr Klink algum tempo atrás e lá entre tantas coisas falou sobre a travessia a remo do Atlantico.
Houve dias, segundo ele, onde constatava pela manhã que sua posição havia retrocedido durante a noite...
Se ele ficasse se lamentando, estaria lá até hoje.


abs
Marcos Antonio disse…
por isso que suspendi temporariamente meu lado escritor, fico só com o lado blogueiro lelé da cuca que é melhor...rs
Caro Amigo:

Falando nisso...

Cadê seu livro ? Pensa que esqueci...

Mais uma crônica maravilhosa.

Grande abraço
Paulo Levi disse…
Já vi uma cena parecida em agência de propaganda. O redator mostrava um roteiro para o diretor de criação, e o comentário deste era o seguinte: "Do jeito que tá não tem graça, meu. Alguém tem que se fu••• nesse roteiro. Só me volte com ele depois que fizer algum dos personagens aí se fu***."