O elevador para no térreo do velho prédio sem garagem e abre as portas, por alguns segundos ninguém entra.
Porém quando as portas começam a se fechar uma mão as impede, o dono dela consegue então colocar-se dentro do elevador e apertar o botão de seu andar – o décimo – mais aliviado.
-Sobe? – grita Dona Geisa, do décimo primeiro.
-Claro, o prédio não tem subsolo... – diz ele e ri.
-Engraçadinho... Aperta ai décimo primeiro.
-Sobe! – grita um japonês – E eu não perguntei, eu afirmei!
-Tá certo Tadashi... – diz Samuel, o que primeiro entrou.
De repente metade dos funcionários da empresa aparece no saguão e ruma ao elevador.
Em menos tempo ainda estão todos dentro e pedindo para que alguém apertasse os botões relativos a seus andares. Todos acima do décimo.
Entre o nono e o décimo andar o elevador para com um solavanco e começa então um cruzamento de vários diálogos...
-Opa... Travou! – gritou alguém...
-Cadê o ascensorista? – perguntou outro.
-Que ascensorista, seu burro... Aqui não tem...
-Eêêêê! – gritam todos...
-Alguém ai aperta o botão de emergência, ou o sinal sonoro pra chamar o zelador...
-Que zelador sua anta! Aqui não é prédio residencial não... Chama o porteiro ai...
-Eu to apertando, mas não to ouvindo nada...
-Será que não é porque a campainha tá lá no térreo?
-Ah tá?
-Tá... Claro... Com quem eu to falando? Deve ser a loira do décimo andar...
-Aquela gostosa? Não... Ela não tá aqui não... Mas é gostosa, heim?
-Epa! A loira do décimo andar é minha esposa!
-Relaxa, ele elogiou. Disse que é gostosa...
-Isto é elogio?
-Claro que é! E ele mentiu?
-Bem... Não... Mas...
-Que “mas” o que? Ainda bem que ele não falou da cara dela... A mulher é um capeta!
-Hahahahahahah!
-Pode ser capeta... Mas eu pegava. – diz Tadashi, entrando na conversa...
-Eu também. – diz Samuel.
-Eu também... – diz outro.
-Eu idem... – diz mais um.
-Eu peguei...
-Pegou? Você?
-Quem pegou minha mulher ai? Diz se for homem...
-Olha... Não quero me meter não... Mas não vai dizer.
-Covarde?
-Não... É porque não é homem... É a Dona Geisa do décimo primeiro...
-Vixe... O sapatão pegou a mulher do cara...
-E quem não pegava...
-É!
-É...
-Bem... Se for pra casar eu não pegava não...
-Nem eu...
-Aê, vamos parar com este papo que tá constrangendo o marido da capeta gostosa do décimo andar...
Por alguns instantes o silêncio reina no elevador.
Silêncio este cortado por um som abafado...
-Putz!
-FDP... Tem nariz não, corno?
-Eu não fiz nada! – diz o marido da loira do décimo andar.
-Não tava falando especificamente com você...
-Calma gente... Vamos cheirar todos juntos para ver se acaba mais rápido!
Então a porta abre e todos saem mais que depressa, jurando não entrar mais quando estivesse acima da lotação.
Então a loira do décimo andar entra no elevador - de calça legging preta como se tivesse sido vestida a vácuo – e em poucos segundos quase todos estão de volta ao elevador, menos o marido e Dona Geisa...
-O senhor não vai entrar?
-Não... Sou casado com ela... E a senhora não vai entrar por que não lhe interessa né? Se fosse um saradão...
-Não, não... É que eu já peguei...
Comentários
M.C.
Toda vez que entro em um elevador, é um Deus-no-acuda!!!!
Grande texto!!!!
Essa Dona Geisa é danada. Mas nesse caso quando é "velcro" com "velcro" tecnicamente é chifre?
Como diria aquele locutor "Isso pode Arnaldo?"
abs
Marcelonso
Abs.