Novos e eternos baianos

Das bandas de rock nascidas no Brasil os Novos Baianos são – juntamente com Secos & Molhados e Mutantes – das mais criativas e inovadoras.
Cada qual com sua história e à sua maneira, deixaram legados riquíssimos.
Os Secos e Molhados implodiram e desapareceram tão rápido quanto surgiram. Deles sobrou Ney Matogrosso, o que definitivamente não é pouco.
Dos Mutantes e sua guinada rumo ao rock progressivo sobrou Rita Lee, primeira dama do rock no país. (Sérgio é um virtuose respeitado, Arnaldo é gênio ainda não reconhecido totalmente e Liminha o maior produtor do país, mas não são exatamente sucesso de público como Rita e Ney).
Já os Novos Baianos deixaram como herança, além de Moraes Moreira, o guitarrista Pepeu Gomes e Baby Consuelo.
É da trupe baiana que trata este texto.

Esta história foi ouvida – em entrevista do lançamento de seu livro: Anos 70: Novos e Baianos, 2006, Ed. - da boca de Luiz Galvão, letrista que participou das duas experiências coletivas de moradia promovidas pela banda (um apartamento de cobertura em Botafogo e um sítio em Jacarepaguá) e dá uma ideia do espírito libertário e anárquico da empreitada.
Em plena ditadura militar, um grupo de cabeludos hippies morando em uma cobertura de um prédio em bairro nobre era de se esperar que chamassem a atenção da repressão, não? Sim, claro, mas segundo Moraes Moreira, os milicos até que pegavam leve talvez pela impressão negativa que o caso do exílio de Gil e Caetano acabara deixando.
O que não impedia de levarem – regularmente – batidas policiais em busca de drogas.
E sempre havia muita com eles...

Em uma destas batidas, conta Galvão, o dançarino Gato, os percussionistas Bola e Jorge Negrita fumavam seus baseados quando o aviso que os “canas” estavam subindo.
O tradicional ritual de jogar os cigarros na privada foi cumprido à risca, porém, advertidos por Paulinho Boca de Cantor, teriam de dar um jeito no odor da diamba que ficara impregnado em seus dedos e que, segundo o vocalista, já serviria para incriminá-los.
Assim, após busca (não tão minuciosa assim) no apartamento nada acharam, mas como dissera Paulinho Boca, os agentes fizeram o “pente fino” nos músicos e agregados e, de fato, cheiraram os dedos do pessoal.
Seguiu-se o diálogo:
-Mas aqui todo mundo é muito higiênico! Todas as mão cheirando lux luxo...
-Pra ver, né? Autoridade.
-Mas e este aqui? – parando em frente ao dançarino Gato e cheirando seu dedo – Mas que fedentina de bosta é esta, homem?
-Sabe o que é doutor? Estava de boa, tranquilo, pensando... Daí bateu aquela vontade danada de dar uma coçada no cu, mas os senhores chegaram tão de surpresa que não deu tempo de lavar.
Os agentes saíram xingando, mas não sem antes acertarem uns tapas no dançarino pelo “desrespeito”.
Ao ser questionado sobre o caso, teria dito: “-Acabou o sabonete no banheiro, é muita gente pra lavar as mãos. Foi só no que consegui pensar...”.

E viva os Novos Baianos!

Comentários

Vander Romanini disse…
Que história!!!!
Tomando um enquadro dos puliça, um amigo soltou uma silenciosa e impactante flatulência na hora da "geral" que temi por minha vida tamanha a raiva dos "Homi"!!!
Magnum disse…
Hahahaha! Ótima.

E eu? que uma vez cortando caminho com um amigo (e ele era mó maconheiro mesmo) por umas ruas dum loteamento ainda sem construção nenhuma, chega os homi e manda a gente esticar as palmas das mãos, quando um deles começa a cheirar a do meu amigo ele LEVANTA A MÃO NA CARA DO POLICIA!!! Só de tontice mesmo, achando que estava demonstrando sua insatisfação com a revista ou algo do tipo. O policial levantou-se rapidamente antes que a mão de fato encosta-se no seu rosto, e nem sei como fomos liberados ali. Devo ser muito diplomático mesmo, nem dinheiro pra suborno a gente tinha. Nunca mais me arrisquei a andar em lugar ermo com este amigo...
Jaime Boueri disse…
Legal! E... Que bela foto essa do topo da postagem, hein!