O importante sem importância - Sérgio Sampaio



A história da MPB por vezes registra alguns rótulos e pechas que não só degradam como atrapalham a vida de determinados artistas.
Um destes rotulos são os que englobam os chamados ‘Malditos’.
Neste grupo militam cantores e compositores de talento inegável, porém com pouca visibilidade do grande publico: Walter Franco, Jards Macalé, Luiz Melodia, Itamar Assumpção e principalmente Sérgio Sampaio...

Cantor, compositor e alcoólatra, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, E.S. logo, conterrâneo de Roberto Carlos, a quem dedicou a canção “Meu pobre blues” onde o personagem principal – talvez ele mesmo – tenta fazer com que o ‘rei’ grave uma canção sua:
Blues tão rico
Só que já não esconde
Que o meu pobre coração
Está ficando um tanto ou quanto aflito
Pois deve estar pintando o tempo
Em que você começa a gravar
No seu próximo disco
Eu queria tanto ouví-lo cantar
Eu não preciso de sucesso
Eu só queria ouvi-lo cantar
Meu pobre blues... E nada mais...

Durante sua vida, não se tem noticia de que em algum momento tenha sido executivo ou empresário, mas compôs um poema lindíssimo com base em reflexões de um executivo.
“Roda Morta” tem sabor amargo e a beleza trágica dos grandes desastres da humanidade:
Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio o e o alcagüete não me deixam nunca em paz

Participou com Raul Seixas (não gritem ‘toca Raul’), e outros dois ‘malditos’, Edy Star e Mirian Batucada do álbum coletivo ‘Sessão das Dez’, que foi um fracasso de vendas, penso eu que pela presença do Raul...
Em sua obra mais conhecida – e eu duvido que alguém aqui vá dizer que conhece! – Sérgio conta da discriminação que sofreu por não participar de movimentos contra o período de ditadura por que passava o país.
Não se pode culpar ninguém por não querer ingressar na causa anti-militar, muito menos Sampaio, afinal gente de muito mais expressão e peso na vida cultural do país foi preso e/ou exilado. O que então poderia acontecer então com um aspirante a ídolo que até então não tinha se dado bem?
“Eu quero é botar meu bloco na rua” tem versos que descrevem muito bem o que citei:
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou.
Mesmo não havendo nenhum registro de que Sérgio gostasse de automobilismo e, obvio, não conheceu Kimi Raikkonen, a canção tem um verso que parece escrito especialmente para o finlandês bunda mole:
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou.
Basta se lembrar do episodio em que Kimi derruba a menina no padock e dos vários 'paus' que vem tomando de Massa e Hamilton (durango Kid?) este ano...


Mas sua obra mais bela fala apenas de si mesmo e mesmo tendo sido gravada ainda no inicio da carreira acabou lhe servindo como epitáfio.
“Não adianta” – aqui gravada por Zeca Baleiro - soa como despedida:


O que importa,
É que já não me importa,
o que importa,
É que ninguém bateu em minha porta,
É que ninguém morreu,
ninguém morreu por mim.

Não quero nada,
Não deixo nada, que não tenho nada,
Só tenho o que me falta e o que me basta,
No mais é ficar só,
Eu quero ficar só.




Sérgio Sampaio morreu com apenas quarenta e sete anos sem o devido reconhecimento.
Enquanto isto, porcarias como Madona passam dos cinqüenta e lotam estádios por onde vão.
Mas como diria o próprio Sérgio Sampaio em “Tem que acontecer”:
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular.

Comentários

Felipão disse…
LInda homenagem, groo...

E merecida...

Concordo em tudo o que colocou com referência os estádios lotados...

Vai muito do que está por trás dessa gente...

Infelizmente...
Gostei do novo "aparelho", legal... o mais importante é a saúde diriam os maldosos querendo comentar o aspecto "espartano" do novo local, mas aparelho não tem que ser igual a casa de subúrbio de americano, tem que ser eficiente e esse aqui agora é eficiente, o antigo era mais difícil de abrir do que carteira de judeu. Até porque colocaste lá na abertura aquela foto que no último comentário que fiz no cafofo antigo me deixou desnorteado, é uma foto transcedental, achei ela com um "quê" de obras primas em celulose, tipo o retrato de "Chê", a garota queimada por napalm, o rosto de carlitos, sei lá , me tocou. favor só substitui-la por alguma obra-prima ok?
Agora quanto a o teu post, está maravilhoso, você deveria arrumar um jeito, ou alguém de envia-lo para alguém próximo, é uma bela e singela homenagem a mais um gênio que se vai, diga-se de passagem por "sepuku" que é a via mais usada pelos gênios de verdade, a Merdonna não morre disso porque sua porraloquice é mais planejada que programação da Globo, é o PORRALOKA FASHION, prefiro nossos sertanejos a essa bosta branca enlatada.
Se servir de consolo para nós e de réquiem para o Sérgio, ... Vai estar em boa companhia....

P.S. ninguém é obrigado a entender japonês, sepuku é o famoso ara kiri, só que hara kiri é feito pelas mulheres, samurai faz mesmo é sepuku, incorreto também é cultura.
Mauricio Morais disse…
Ron me lembro bem da melodia e da interpretação do Sergio cantando...eu quero botar meu bloco na rua...Mas era uma voz sem rosto para mim, até agora. Daqueles ecos que povoam meu inconsciente. Não sabia quem era o cara. Agora sei. Valeu.
Unknown disse…
Grande Ron!Sabe de uma coisa,conhecia a melodia mas não a pessoa legal você publicar,faz a gente viajar no tempo e relembrar.

Valeu !!!

ABS.
Speeder76 disse…
Já tinha ouvido falar dele, e também ouvi o famoso "eu quero botar o bloco na rua". Justiça ou injustiça, depende daquilo que o povo quer ouvir no seu tempo. Infelizmente, ouve o que é mais fácil... e o chato é que só és reconhecido depois de morrer.


Mas aí está: a obra fica. Quantos e quantos, na musica e noutras áreas, são reconhecidos depois de morrer?
Anônimo disse…
Bonita homenagem!!!

Já ouvi falar dele, e Já ouvi "Eu quero botar meu bloco na rua"!!!

Mas... isso é Brasil, um lugar que não reconhece os grandes talentos!!!

Isso é Globalização... ou se segue as tendência ou você tende a nada!!!

Um abraço!!!
Unknown disse…
Olá Ron, de uma passada no sportprototipo tem uma surpresa para você.

JOEL
abs
Anônimo disse…
É Felipão vai muito além mesmo. E que bom que gostou da homenagem. Espero que tenha gostado das letras e da música do Sérgio também. Brigado!

Ruben que bom que você veio, este espaço não seria o mesmo se não estivesse nele a sombra do 'politicamente incorreto'.
Resolvi deixar o banner no topo do blog exatamente depois de ler o que você escreveu no ultimo post regular da antiga casa...
Quanto ao texto em si... E gostaria mesmo que alguém ligado a obra do Sérgio visse. Apenas para saberem que ainda tem gente que se importa com qualidade.
Sampaio me impressiona muito por encarnar (quase) o 'live fast, die young' dos roqueiros americanos, mas com uma enorme vantagem sobre eles: Era rebelde e auto-destrutivo natural. Não mercadologico. Brigado Ganzales, volte sempre.

Mauricio, não agradeça por isto, eu é que tenho que agradecer pelo corceu em seu blog... Tava lindo!

Joel é bom ficar nostalgico e saudoso as vezes não? Assim como fico quando vejo aquelas maquinas de sport prototipos que você garimpa...

Bem Speeder, só que o reconhecimento post morten é injusto demais. Ninguém faz musica, filme, livro, quadros só porque acha legal e tem talento. No fundo todos querem fazer arte para ganhar uns trocos. Não é feio isto. É muito honesto admitir também.
Por isto, descobrir que o cara era um gênio só depois que ele morreu e já não pode usufruir disto é muito ruim. Como disse: injusto!

Valeu ter vindo Cristiano, só que penso que desta vez a globalização tem pouco a ver com o fato de Sérgio não ter o devido reconhecimento. Aqui o que faz a diferença pode ser aquele ditado tacanho que diz: Santo de casa não faz milagre.
Melhor endeusar Kurt Cobain que foi pro outro plano mais rápido e covardemente que enxergar o talento de Sampaio, que se matou aos poucos... Não que nenhum dos dois tenha razão no que fizeram. Mas a vida era deles não era?

Poxa Joel adorei a Elva lá no SportPrototipos... Brigadão!


OBRIGADO A TODOS E VAMOS BOTAR NOSSOS BLOCOS NAS RUAS, BOTAR PRA FERVER. SEMPRE!
SAVIOMACHADO disse…
Conhece aquele ditado "antes tarde do que nunca"? Pois é...
Eu também ouvi muito Sérgio Sampaio. Quando eu era pequeno, lá em Bagé, eu tinha uns 5 anos e lembro como se fosse hoje. Meu tio e mais um amigo chegavam na casa da minha avó lá pelas 2 ou 3 da manhã e faziam uma serenata. Tocavam umas 3 ou 4 músicas. E "Eu quero é botar o meu bloco na rua" sempre estava no repertório.
Você viu o que provoca? Fez eu lembrar de quando eu tinha 5 anos... Putz... eu já estou com 40. Como o tempo passa.
Maravilha meu velho.
Desculpe minha ausência. Tenho viajado muito. Você sabe bem disso.
Grande abraço.
SAVIOMACHADO
Anônimo disse…
Puxa Sávio, que bom que fiz você se lembrar de algo bom da infância. Quisera que fosse sempre assim.
Valeu!
Teté M. Jorge disse…
Bom vir aqui, sempre tem alguma novidade pra ler...
"Eu quero botar meu bloco na rua" e "Não adianta" agora com um rosto... nunca soube quem era...

Valeu, Ron!

Beijos.
Anônimo disse…
Parabéns pelo post de Sério Sampaio. (Bôsco-Caruaru-PE.)
Unknown disse…
Muito legal o post. Parabéns, camarada.

A obra de Sérgio Sampaio, seu jeito de compôr, que muitas vezes é irônico ou triste, me emociona muito.