O texto que segue foi inspirado nas fotos que o ilustram.
E a foto, por sua vez, é de autoria de Anselmo Coyote, grande comentárista e amigo que se mostrou também um magnifico fotógrafo na melhor tradição dos grandes nomes desta arte.
A Anselmo meu muito obrigado!
E a foto, por sua vez, é de autoria de Anselmo Coyote, grande comentárista e amigo que se mostrou também um magnifico fotógrafo na melhor tradição dos grandes nomes desta arte.
A Anselmo meu muito obrigado!

-Desenvolve...
-A lógica da vitrine! Nunca percebeu como as coisas acontecem no reflexo dela?
-Não... Ou já? Você quer dizer: ao contrário?
-Não... Não é bem ao contrário por que quem está se movimentando sabe o que está fazendo, mas quem só vê o reflexo tem a impressão de que a cena está ao contrário. Entendeu?
-Mais ou menos.. Você está meio confuso. Mas acho que entendi. Você quer dizer da sensação da ação contraria para quem observa só o reflexo... Interessante...
-E é mesmo Anselmo, olha aquela vitrine, percebe que num dia como hoje - com pouco sol e um tanto frio – à distancia, se torna quase um espelho? E veja como quem passa na rua, antes que a gente possa realmente ver a pessoa, dá a impressão que vem vindo do lado contrário!
-Mas este é um fenômeno comum! Você deve ter estudado isto no colégio... Refração... Sei lá o nome! Deve ser isto.
-Pode ser... Mas é tecnicalidade, besteira acadêmica... Eu to falando poeticamente.
-Ah não! Poetizar um efeito de percepção de luz não... Me poupa.
-Mas é verdade... Olha que bonito.. Vê a moça que vem pela esquerda da vitrine com sacolas nas mãos?
-Sim... E daí?
-Rápido! Tira os olhos de cima dela e mira direto na vitrine... Agora!
-E?
-O reflexo dela vem de encontro a ela, e vai saber o que ele tinha feito antes de chegar ali naquele ponto e encontrar com ela...
-Como assim, continuo confuso.
-Olha... Ela vem de um lado, vem com sacolas de compra, provavelmente roupas, não é?
-A julgar pelo formato das sacolas sim. E?
-O reflexo vem do lado contrário dela, ou seja, está indo devolver as compras na loja.
-Ah não! Ce bebeu? Só pode ser isto... O médico já não tinha proibido?
-Deixa disto... Curte, imagina... Não vai te custar nada!
-Tá... Vamos brincar então de universo paralelo da vitrine.
-Bom nome! Vou anotar isto, mas não se preocupa se um dia eu publicar algo com estas idéias eu lhe dou o credito do nome.
-Tá bom, vá lá que seja! - e ri. – Olha lá, o garotinho que vai passar agora. Ele vem puxando a mãe pelo cós da calça... Pela cara pediu sorvete ou algo assim, ela negou, mas ele insiste.
-Boa Anselmo! E no reflexo da vitrine? O que teria acontecido?
-Deixa eu ver... Ele está reclamando por que lhe ofereceu algo que ele não gosta e insistiu. Ele não quer, não gosta e agora e recusa com vontade!
-Perfeito! Minha vez... Lá vem a moça que saiu do sebo de livros, está com o semblante de quem não encontrou o que queria. Frustrada...
-Rápido, olha para a vitrine, o que você vê?
-Olha lá Anselmo... Ela indo em direção à loja de livros usados, com a esperança de encontrar aquela história, aquele livro que vai mudar seu jeito de ver a vida... E ela sorri.
-Boa... Eu de novo então, a menina que vai à direção daquele rapaz... Nossa! Como é bonita... Ele está estendendo os braços para abraçá-la.
-É... Parece que são namorados... Hei! Anselmo? Onde ce vai? Que isto na sua mão?
-Uma câmera, amigo... E vou até a vitrine fotografar o ângulo desta moça vindo, antes que ela alcance o rapaz!
-Mas por quê?
-Para ter uma foto dela sem namorado, solteira... E ainda podendo ser minha!

Comentários
Abraço!
Leandro Montianele
Abs.
Às fotos, então: parecem inspiradas num de meus fotógrafos favoritos, Eugène Atget, que por sua vez parece fotografar o germe do séuculo XX (a questão da urbes, da imagem, do consumo etc). Muito legal como as fotos do Anselmo trabalham com esses elementos.
Ao texto: também me lembra um de meus contos favoritos, o que abre Ficções. Ele inclusive começa com a menção a um espelho, e constrói um mundo onde a relação entre percepção e fenômeno se inverte (se não me engano). Coincidência das coincidências, li esse livro pela primeira vez em Paris...
Bem, eu não entendo nada de fotos (de texto também não, oras), mas isso não me impede de gostar delas. E é curioso que hoje eu esteja num dia um tanto quanto poético também.
As fotos são excelentes,o texto entaum...
"Eu queria tanto escrever como o Groo!!!"
Tá vendo Anselmo,existe vida sem Nelsinho Piquet!
abraço
que prazer em ler esse texto...
Acabei fazendo de novo, hahahaha
Valeu, Ron
Abração e bom fds
e no reflexo da vitrine, tudo começou com anselmo tentando tirar uma foto da menina ainda solteira; agora groo está tentando que Anselmo esqueça da conversação, no momento em que ele, depois de brincar um momento, pregunta ele bebeu..
e as fotos? um sucesso ...
pois é ... fiquei na viagem de imaginar o que podia pensar nas vitrines que refletem ... e os encontros e desencontros ... as partidas e chegadas ... e desejos ...
Parabéns!
Darei um jeito de colocar no meu Flickr, e te mando o link depois.
Sobre o texto...É o Groo né. Esperar pouco não tem como =P
-|T|-