Esta história passa-se lá nos idos de 1986...
-Cara, cê precisa ouvir isto...
-Que é?
-Uma fita cassete que meu tio me emprestou, tem umas músicas muito loucas...
-Pô! Coloca ai então...
-Pode por você mesmo, eu vou pegar uma tubaína...
Muita gente hoje em dia não sabe, mas antigamente – tô ficando velho – gravávamos as nossas musicas prediletas em fitas cassete.
Quase como fazemos hoje com nossos MP3 players, mas ao invés de procurar na internet os arquivos para baixar, procurávamos nossos amigos que tinham os discos.
Ficava mais barato, mas muito mais barato que comprar o disco de vinil ou a sua versão em cassete oficial.
E como copiávamos...
Tenho um camarada que até hoje tem guardado em casa todos os álbuns dos Beatles gravados nestas fitinhas magnéticas, com as capinhas que ele mesmo bolava e fazia artesanalmente. Ali... Na raça, por que também não tínhamos computadores com programas que num clique e um copiar e colar faz tudo por nós...
Outros tempos.
-Véi... Já coloquei, mas ta demorando pra tocar... Tá com defeito ou o volume tá baixo?
-Que botão cê apertou?
-Bão... Para tocar a gente aperta o botão vermelho e o play, né?
-Não.
-Não?
-Não porra... Apertando os dois grava.
-Ih!
-Pqp! Cê apertou o botão errado!
Mais gente ainda não deve saber que tínhamos aqueles rádios com gravadores de fitas cassete... E que pra gravar alguma coisa do rádio bastava ligar o rádio e apertar o botão REC, que geralmente era vermelho e o botão play.
Porém se apertássemos esta combinação de botões com o rádio desligado, a fita que estivesse dentro era desgravada... Bem... Na verdade era gravado o silencio do aparelho por cima do que estivesse nela... -Vixe... Aperta o stop logo...
-Acho que não estragou...
-Vamos ver....
-Hum... Apagou toda a introdução da canção... Meu tio vai ter um treco!
-Nada... Eu tenho uma grana ai... A gente vai até o Museu do Disco no centro de São Paulo e compra o disco e grava de novo esta musica ai... Por cima.
-E a grana que ce tem dá?
-Se não der você completa, ou a gente racha logo e ficamos com o disco pra gente....
-Beleza!
Na manha seguinte "os figuras" ai do dialogo embarcam em um trem lotadissímo que passava pela cidade onde moravam às sete horas e seis minutos. Pontualmente atrasado, sempre.
Embarcaram vírgula, porque o sobrinho do dono da fita não conseguiu entrar no trem e ficou com cara de idiota na estação enquanto seu amigo, de dentro do trem lhe dava tchauzinho e ria.
O próximo trem só passaria as sete e quarenta e não se sabe por que cargas d´agua ele resolveu esperar para pega-lo.
E também não se saber por que cacete o outro resolveu descer na próxima estação e espera-lo. Não havia como se comunicarem, lembre-se... Celular ainda era coisa de ficção cientifica.
Mas encontraram-se na estação da Luz, que era também a estação final daquele trem.
Uma breve caminhada pelo centro e acham a loja Museu do Disco. Referencia em discos de rock e importados durante um bom tempo. -Cê tem disco do Queen? – pergunta o sobrinho do dono da fita.
-Qual deles? Eles têm um monte... A banda existe desde 1973.
-Nós também... – pensou o que apagou a fita.
-Ih... Então ferrou! – agora ele disse....
-Mas vocês querem alguma musica em especial? – pergunta o vendedor.
-Mais ou menos... – diz o sobrinho.
-E cês sabem cantar?
-Mais ou menos... – o que apagou, envergonhado.
-Então canta ai.... – o que o cara não faz por uma venda...
-Então vira de costas... – diz o sobrinho.
O cara então se vira e o os dois - da melhor maneira que podem - arremedam um canto solfejado de I want to break free, horrorosamente.
-Ah... Beleza... Eu tenho o disco sim... – e empurra nos dois um Greatest Hits, que foi lançado em 1981, dois anos antes portando de The Works que continha a musica apagada..Compram o disco, rachando a despesa e correm para casa. Ouvem de cabo a rabo e nada de encontrar a canção...
A sensação de ter sido ludibriado por um vendedor esperto só não foi maior por que o disco era sensacional!
O Queen havia fisgado os dois no ato e para sempre.
Esta semana fez dezoito anos que Freddie Mercury se foi, o primeiro grande astro de pop/rock a morrer de Aids, e com isto fazer com que os jovens começassem a olhar a epidemia da doença com mais seriedade.
Mas é sempre melhor lembrar a forma grandiosa e exagerada como viveu e trabalhou sempre a frente da banda ou em carreira solo. Lembrar o saudável ecletismo que colocava lado a lado nos discos do Queen: rocks pesado, balada, opera, jazz, musica árabe, folclore húngaro, vaudeville e o que mais viesse...
Tão eclético que anos depois deu margem a este vídeo com os Muppets...
E a fita apagada? Ficou do jeito que estava, afinal o tio do cara gostava mesmo era de João Mineiro e Marciano...
-Cara, cê precisa ouvir isto...
-Que é?
-Uma fita cassete que meu tio me emprestou, tem umas músicas muito loucas...
-Pô! Coloca ai então...
-Pode por você mesmo, eu vou pegar uma tubaína...
Muita gente hoje em dia não sabe, mas antigamente – tô ficando velho – gravávamos as nossas musicas prediletas em fitas cassete.
Quase como fazemos hoje com nossos MP3 players, mas ao invés de procurar na internet os arquivos para baixar, procurávamos nossos amigos que tinham os discos.
Ficava mais barato, mas muito mais barato que comprar o disco de vinil ou a sua versão em cassete oficial.
E como copiávamos...
Tenho um camarada que até hoje tem guardado em casa todos os álbuns dos Beatles gravados nestas fitinhas magnéticas, com as capinhas que ele mesmo bolava e fazia artesanalmente. Ali... Na raça, por que também não tínhamos computadores com programas que num clique e um copiar e colar faz tudo por nós...
Outros tempos.
-Véi... Já coloquei, mas ta demorando pra tocar... Tá com defeito ou o volume tá baixo?
-Que botão cê apertou?
-Bão... Para tocar a gente aperta o botão vermelho e o play, né?
-Não.
-Não?
-Não porra... Apertando os dois grava.
-Ih!
-Pqp! Cê apertou o botão errado!
Mais gente ainda não deve saber que tínhamos aqueles rádios com gravadores de fitas cassete... E que pra gravar alguma coisa do rádio bastava ligar o rádio e apertar o botão REC, que geralmente era vermelho e o botão play.
Porém se apertássemos esta combinação de botões com o rádio desligado, a fita que estivesse dentro era desgravada... Bem... Na verdade era gravado o silencio do aparelho por cima do que estivesse nela... -Vixe... Aperta o stop logo...
-Acho que não estragou...
-Vamos ver....
-Hum... Apagou toda a introdução da canção... Meu tio vai ter um treco!
-Nada... Eu tenho uma grana ai... A gente vai até o Museu do Disco no centro de São Paulo e compra o disco e grava de novo esta musica ai... Por cima.
-E a grana que ce tem dá?
-Se não der você completa, ou a gente racha logo e ficamos com o disco pra gente....
-Beleza!
Na manha seguinte "os figuras" ai do dialogo embarcam em um trem lotadissímo que passava pela cidade onde moravam às sete horas e seis minutos. Pontualmente atrasado, sempre.
Embarcaram vírgula, porque o sobrinho do dono da fita não conseguiu entrar no trem e ficou com cara de idiota na estação enquanto seu amigo, de dentro do trem lhe dava tchauzinho e ria.
O próximo trem só passaria as sete e quarenta e não se sabe por que cargas d´agua ele resolveu esperar para pega-lo.
E também não se saber por que cacete o outro resolveu descer na próxima estação e espera-lo. Não havia como se comunicarem, lembre-se... Celular ainda era coisa de ficção cientifica.
Mas encontraram-se na estação da Luz, que era também a estação final daquele trem.
Uma breve caminhada pelo centro e acham a loja Museu do Disco. Referencia em discos de rock e importados durante um bom tempo. -Cê tem disco do Queen? – pergunta o sobrinho do dono da fita.
-Qual deles? Eles têm um monte... A banda existe desde 1973.
-Nós também... – pensou o que apagou a fita.
-Ih... Então ferrou! – agora ele disse....
-Mas vocês querem alguma musica em especial? – pergunta o vendedor.
-Mais ou menos... – diz o sobrinho.
-E cês sabem cantar?
-Mais ou menos... – o que apagou, envergonhado.
-Então canta ai.... – o que o cara não faz por uma venda...
-Então vira de costas... – diz o sobrinho.
O cara então se vira e o os dois - da melhor maneira que podem - arremedam um canto solfejado de I want to break free, horrorosamente.
-Ah... Beleza... Eu tenho o disco sim... – e empurra nos dois um Greatest Hits, que foi lançado em 1981, dois anos antes portando de The Works que continha a musica apagada..Compram o disco, rachando a despesa e correm para casa. Ouvem de cabo a rabo e nada de encontrar a canção...
A sensação de ter sido ludibriado por um vendedor esperto só não foi maior por que o disco era sensacional!
O Queen havia fisgado os dois no ato e para sempre.
Esta semana fez dezoito anos que Freddie Mercury se foi, o primeiro grande astro de pop/rock a morrer de Aids, e com isto fazer com que os jovens começassem a olhar a epidemia da doença com mais seriedade.
Mas é sempre melhor lembrar a forma grandiosa e exagerada como viveu e trabalhou sempre a frente da banda ou em carreira solo. Lembrar o saudável ecletismo que colocava lado a lado nos discos do Queen: rocks pesado, balada, opera, jazz, musica árabe, folclore húngaro, vaudeville e o que mais viesse...
Tão eclético que anos depois deu margem a este vídeo com os Muppets...
E a fita apagada? Ficou do jeito que estava, afinal o tio do cara gostava mesmo era de João Mineiro e Marciano...
Comentários
E comprava as TDK lá do Paraguai. Fita cromo? A gente falava que estragava a cabeça do gravador. Na realidade, eram cara pra c.....
e eu sou fã dos muppets, rachei de rir com esse vídeo, ficou bem legal
Bom é quando passavam aqueles shows na rádio, era hora de preparar a fita, rs.
João Mineiro e Marciano (?) para o Queen, quanta diferença.
Acho que sei qual menino que tem medo de trem, hahahaha.
Porem voce ainda esta escondendo a historia do bolinho esticado.
Abracos
Belo e nostálgico texto , parabéns.
Abs.
bom, eu tinha um aparelho da Phillips, onde gravava as músicas da rádio mesmo, já que meus pais não compravam as fitas pra mim.
Lembro que uma das primeiras foi Sweet Child o mine do Guns.
Pra não ter surpresas, quebrava aquele lacre que tinha na parte de cima da fita, impedindo que alguém gravasse alguma coisa por cima...
Que que iiiiiiiiiiiisssso, Groo!!!
Vá falandaê, ô mocréio!!!... rsrsrs.
Abs.
Bom demais!
Falou, grande!
Tenho a discografia do Queen, mas - ainda bem - não é em cassete!
Não sabia da data da morte do Freddy Mercury. Ouvir Queen eu ouço todo dia.... Ontem, pra variar, botei o DVD "Queen Rock Montreal" pra tocar e assisti pela centésima trigésima nona vez. É incrível como o Freddy canta bem pra caralho, toca bem pra caralho, mostrando uma alegria naquilo que é empolgante. Brian May e Taylor destruindo, e o Deacon só na dancinha debulhando o baixo. Eu não consigo gostar de outra banda igual eu gosto dessa.
Abraços , Reinaldo Lima