Este texto é uma espécie de homenagem a um amigo muito querido, que me contou dia destes que vai ser papai de novo. Se ele autorizar, eu ponho o nome dele por aqui...
Então eles se descobriram grávidos, e de três meses.
No inicio ela estranhou a ausência das regras, mas no fundo dava graças a Deus por não ter aquele incomodo período.
No primeiro mês ela estranhou, mas: “-Tudo bem nunca fui muito regulada mesmo!”.
No segundo já achou melhor procurar um médico, mas não foi.
Os afazeres – muitos – do dia a dia e o trabalho consumiam quase todo o tempo, sobrando muito pouco dele para dar atenção ao filho e ao marido, que também andava atarefado com o novo negócio que montara e ao menos – graças a Deus – estava prosperando.
Já no terceiro mês a preocupação bateu à porta com força, sabe-se lá o que poderia ser se não fosse uma gravidez?
Fez o teste da farmácia - aquele do xixi – e o negócio reagiu positivamente.
Ele, cético que só, ainda tentou argumentar e chegou até sugerir que fizesse de novo.
-Mas já deu positivo uma vez. Por acaso não está feliz com a possibilidade?
-Claro, estou e muito contente. E você sabe que quero outro filho, sempre quis. Por isto que quero fazer o teste de novo... E se você... Ah não deixa pra lá!
-Fala! Se começou, agora termina.
-Não, nada... É besteira.
-Fala!
-Tá... E se você fizesse mais xixi, uma quantidade maior e tal...
-É tem razão... Era besteira.
Resolvem então procurar um médico, que pede logo o exame de sangue e constata.
-Parabéns, vocês estão grávidos!
Ela sorri, ele lacrimeja e logo depois desmaia.
O médico prescreve uma dieta para ela e anota ao fim da receita: “-Aplicar também a ele, sinto que este dará mais trabalho que a gestante.”.
Ela que até ali, mesmo com três meses de gravidez não havia sentido nada, nem um só enjôo, de repente foi uma torrente de mal estar. E então começaram as vontades, os desejos...
Em uma noite particularmente quente, ela o acordou. Nunca tinha percebido que ele dormia numa posição que lembrava aqueles desenhos egípcios estilizados com as mãos ao lado do corpo, uma para cima outra para baixo. Riu baixinho e sussurrou em seu ouvido:
-Amor, to com desejo...
Ele que já conhecia esta fase, da primeira gravidez, se pos em alerta...
-Mas relaxa, eu não quero comer nada, to com desejo de que você cante uma canção para mim...
Ele suspira aliviado, ao menos não terá de sair de casa para comprar nada.
-Que ce quer ouvir? Diz aqui pro seu Sinatra de olhos castanhos...
-“Jeito de corpo” do Caetano.
Ele sentou-se na cama confuso. Odiava Caetano e ela sabia disto.
-Ce tem certeza de que não prefere comer algo? Um caco de telha como da primeira vez?
-Não... Eu não comi telha.. – e faz biquinho ao qual ele não resiste. Promete que vai treinar um pouco e depois canta, só ela esperar um pouco.
No trabalho ele baixa a musica em seu PC e o coloca na memória do Iphone, salva a letra também e durante o dia todo fica cantando – bondade minha, claro – a canção.
Os sócios, que eram antigos colegas de trabalho e sabiam que ele não gostava de Caetano, riam e o chamavam de “Filha da Chiquita Bacana”, outra canção do baiano...
Ele dá de ombros, afinal não lhe custa fazer a vontade, e pelo sim pelo não, imagina se a criança nasce com cara de Caetano?
À noite, após o banho ele aproveita um momento a sós, já que o filho finalmente dormira e começa a cantar para satisfazer o desejo dela, que sentada em uma poltrona escuta sem prestar muita atenção.
-“Eu tô fazendo saber/Vou saber fazer tudo de que eu sou a fins/Logo eu cri que não crer era o vero crer/Hoje oro sobre patins...”.
-O que? – ela interrompe...
-O que, o que? – ele confuso...
-O que ele quis dizer com: “logo eu cri que não crer era o vero crer...”?
-Não sei, nunca estudei a letra a fundo, para te ser sincero eu nem decorei direito...
-Mas esta parte tá certa?
-Deve estar... Se o google não me trouxe a letra já errada... Deve estar...
-Tá! Continua.
-De onde parei?
-É pode ser...
E ele continua cantando e ela fazendo caretas de quem não entende nada. Até chegar ao verso: “... Sou celacanto do mar/Adolescendo o solar”.
-E este agora? Que diabos é um celacanto?
-Bem, se é do mar deve ser peixe...
-Mas “adolescendo o solar”?
-É... Deve ser... Sei lá. Vai ver que o Caetano tinha comido uma salada com o repolho do capeta... Nunca entendi muito bem as letras dele...
-É... Eu sei.... Termina ai...
E ele termina canção no verso: “é só um jeito de corpo, não precisa ninguém me acompanhar.” E aguarda nem que seja um único bater de palmas.
-Não gostou?
-Gostei... Mas sabe que não satisfez?
-Ah não... Vai dizer que agora cê quer ouvir outra? Tipo “Odara”?
-Não seu bobo... Eu to com vontade de comer algo... E não é telha viu...
-Tá... Depois deste mico “caetanático”, qualquer coisa...
-Eu quero comer a tampa do saleiro...
Ele espantado, olha o saleiro em cima da pia, uma peça de cerâmica em forma de abóbora e que tinha a tampa feita de barro cozido e sem pintura... Tal qual a telha que ela insistia em dizer que não havia comido...
Então eles se descobriram grávidos, e de três meses.
No inicio ela estranhou a ausência das regras, mas no fundo dava graças a Deus por não ter aquele incomodo período.
No primeiro mês ela estranhou, mas: “-Tudo bem nunca fui muito regulada mesmo!”.
No segundo já achou melhor procurar um médico, mas não foi.
Os afazeres – muitos – do dia a dia e o trabalho consumiam quase todo o tempo, sobrando muito pouco dele para dar atenção ao filho e ao marido, que também andava atarefado com o novo negócio que montara e ao menos – graças a Deus – estava prosperando.
Já no terceiro mês a preocupação bateu à porta com força, sabe-se lá o que poderia ser se não fosse uma gravidez?
Fez o teste da farmácia - aquele do xixi – e o negócio reagiu positivamente.
Ele, cético que só, ainda tentou argumentar e chegou até sugerir que fizesse de novo.
-Mas já deu positivo uma vez. Por acaso não está feliz com a possibilidade?
-Claro, estou e muito contente. E você sabe que quero outro filho, sempre quis. Por isto que quero fazer o teste de novo... E se você... Ah não deixa pra lá!
-Fala! Se começou, agora termina.
-Não, nada... É besteira.
-Fala!
-Tá... E se você fizesse mais xixi, uma quantidade maior e tal...
-É tem razão... Era besteira.
Resolvem então procurar um médico, que pede logo o exame de sangue e constata.
-Parabéns, vocês estão grávidos!
Ela sorri, ele lacrimeja e logo depois desmaia.
O médico prescreve uma dieta para ela e anota ao fim da receita: “-Aplicar também a ele, sinto que este dará mais trabalho que a gestante.”.
Ela que até ali, mesmo com três meses de gravidez não havia sentido nada, nem um só enjôo, de repente foi uma torrente de mal estar. E então começaram as vontades, os desejos...
Em uma noite particularmente quente, ela o acordou. Nunca tinha percebido que ele dormia numa posição que lembrava aqueles desenhos egípcios estilizados com as mãos ao lado do corpo, uma para cima outra para baixo. Riu baixinho e sussurrou em seu ouvido:
-Amor, to com desejo...
Ele que já conhecia esta fase, da primeira gravidez, se pos em alerta...
-Mas relaxa, eu não quero comer nada, to com desejo de que você cante uma canção para mim...
Ele suspira aliviado, ao menos não terá de sair de casa para comprar nada.
-Que ce quer ouvir? Diz aqui pro seu Sinatra de olhos castanhos...
-“Jeito de corpo” do Caetano.
Ele sentou-se na cama confuso. Odiava Caetano e ela sabia disto.
-Ce tem certeza de que não prefere comer algo? Um caco de telha como da primeira vez?
-Não... Eu não comi telha.. – e faz biquinho ao qual ele não resiste. Promete que vai treinar um pouco e depois canta, só ela esperar um pouco.
No trabalho ele baixa a musica em seu PC e o coloca na memória do Iphone, salva a letra também e durante o dia todo fica cantando – bondade minha, claro – a canção.
Os sócios, que eram antigos colegas de trabalho e sabiam que ele não gostava de Caetano, riam e o chamavam de “Filha da Chiquita Bacana”, outra canção do baiano...
Ele dá de ombros, afinal não lhe custa fazer a vontade, e pelo sim pelo não, imagina se a criança nasce com cara de Caetano?
À noite, após o banho ele aproveita um momento a sós, já que o filho finalmente dormira e começa a cantar para satisfazer o desejo dela, que sentada em uma poltrona escuta sem prestar muita atenção.
-“Eu tô fazendo saber/Vou saber fazer tudo de que eu sou a fins/Logo eu cri que não crer era o vero crer/Hoje oro sobre patins...”.
-O que? – ela interrompe...
-O que, o que? – ele confuso...
-O que ele quis dizer com: “logo eu cri que não crer era o vero crer...”?
-Não sei, nunca estudei a letra a fundo, para te ser sincero eu nem decorei direito...
-Mas esta parte tá certa?
-Deve estar... Se o google não me trouxe a letra já errada... Deve estar...
-Tá! Continua.
-De onde parei?
-É pode ser...
E ele continua cantando e ela fazendo caretas de quem não entende nada. Até chegar ao verso: “... Sou celacanto do mar/Adolescendo o solar”.
-E este agora? Que diabos é um celacanto?
-Bem, se é do mar deve ser peixe...
-Mas “adolescendo o solar”?
-É... Deve ser... Sei lá. Vai ver que o Caetano tinha comido uma salada com o repolho do capeta... Nunca entendi muito bem as letras dele...
-É... Eu sei.... Termina ai...
E ele termina canção no verso: “é só um jeito de corpo, não precisa ninguém me acompanhar.” E aguarda nem que seja um único bater de palmas.
-Não gostou?
-Gostei... Mas sabe que não satisfez?
-Ah não... Vai dizer que agora cê quer ouvir outra? Tipo “Odara”?
-Não seu bobo... Eu to com vontade de comer algo... E não é telha viu...
-Tá... Depois deste mico “caetanático”, qualquer coisa...
-Eu quero comer a tampa do saleiro...
Ele espantado, olha o saleiro em cima da pia, uma peça de cerâmica em forma de abóbora e que tinha a tampa feita de barro cozido e sem pintura... Tal qual a telha que ela insistia em dizer que não havia comido...
Comentários
agora entendo, e não estou exagerando. groo, obrigado por escrever isto, foi profundamente humano. profundamente humano.
Achei também tremendamente carinhosa e linda a homenagem querido, você sabe que eu assino embaixo.
Mas eu também prefiro comer telha que cantar Caetano Veloso.
Tem nenê novo ai também?
Manda beijos pra Val.
Obrigado pela dica meu velho.
Grande abraço.
Muito bom.
SAVIOMACHADO
HAHAHAHAA, putz, seria castigo demais.
Eu não sei, ter um filho é sempre algo mágico, mas o primeiro é o mais mágico de todos. Não que os outros sejam "menos", mas trazem uma experiência que, como vc já disse no texto, os pais já conhecem...
De qualquer forma, ótimo texto e, claro, parabéns ao futuro papai!
abraço
De qq forma felicidades ao futuro papai!^^
abs!
Groo, bela homenagem aos futuros pais de segunda viagem. Criança é muito legal, tenho um irmão de 1 ano.
Abração!
Comer telha é doença...rs.
Muito legal, Ron. Se está assim nos primeiros meses, imagina o que esse pai ainda irá passar...hahaha.
felicidades.
Sua homenagem é muito fofa.
" Vai que nasce com a cara do Caetano" rsrsrsrs
Abraços...
Parabéns pelo texto!
Abraço!
ótimo texto, além de ser engraçado,sensibiliza, além da amigo, admiro sua sensiblidade e inspiração pra fazer textos tão bons!
parabéns ao Iriarte, um filho é um grande dádiva, estar "grávido" junto com a esposa!rs
Abraços.
SAVIOMACHADO
Esse é o papai do ano na blogosfera. Muita saúde para o novo herdeiro que está vindo por aí.
Abraço!