Louis: Quando os Santos entram marchando

New Orleans é um caso único.
Fundada por franceses em 1718, foi colônia espanhola – isto mesmo, espanhola – entre 1763 e 1800 quando foi vendida por Napoleão Bonaparte aos norte americanos em 1803.
Sua formação étnica, social e cultural se tornou muito, mas muito diferente do resto do país.
Franceses, espanhóis, ingleses, irlandeses, eslavos, turcos, gregos e cubanos ajudaram a fermentar a mistura em ebulição do caldeirão cultural da cidade, o que ajuda a explicar o afastamento da conservadora doutrina luterana do restante do país.
Graças ao contato direto entre negros e brancos - que não acontecia em outras partes dos EUA - musica e dança faziam parte da vida social da cidade, onde a busca pelo bem estar e satisfação pessoal era vista como algo saudável e legitimo.
Ou seja, a religião oficial de New Orleans era o prazer.
Tanto que um dos marcos deste estilo de vida pode ser visto até hoje: os funerais animados por brass bands de jazz com seus metais (trombone, trompetes, clarinetas e tubas) que percorrem as ruas da cidade.

E é nesta cidade, neste ambiente que nasce o personagem deste texto: Louis Armstrong.
Louis disse durante toda sua vida que havia nascido em 4 de julho de 1900, embora não houvesse um só documento que comprovasse o fato, mas um de seus biógrafos, Gary Giddins, fechou a questão com uma cópia de sua certidão de batismo que trazia a data correta: 4 de agosto de 1901.

Armstrong é um daqueles casos onde acaba sendo insuficiente usar o adjetivo "gênio".
O trompetista transcende esta condição assim como Ray Charles.
Suas interpretações para clássicos como “Mack the knife”, “La vie em rose”, “What a wonderful world” emocionam até pedras.
Quando canta, a impressão que temos é que esta sorrindo aquele seu sorriso largo e quente caracteristico. Sublime.
Sua versão para “When the saints go marching in” tornou-se definitiva e não há funeral em New Orleans que se preze em que a brass band não a toque com sentimento e fervor.
Diz a lenda que é capaz do próprio defunto se levantar e pedir um bis.

No inicio de 1971 mesmo com a saúde já bastante abalada por uma úlcera e problemas nos rins, ainda foi submetido a uma traqueostomia insistiu com o médico que não o obrigasse a cancelar uma apresentação no hotel Waldorf Astoria agendado para março:
“-Eu preciso ir, as pessoas estão esperando por mim...” – e este foi seu ultimo show...





Para ajudar a esquecer que o sopro também serve para tocar vuvuzelas...

E está no ar a mais recente edição da Rádio Onboard com as expectativas para o gp canadense.
Desta feita Felipe Maciel e eu recebemos Eduardo Moreira, do Target HD para animar as discussões.
Neste link aqui: Rádio Onboard.
E neste sábado tem RoB ao Vivo, com o programa pré race a partir das 8 da noite. Antes, como sempre, uma programação musical para esquentar o clima.
Neste link: RoB ao Vivo.

Comentários

Marcelonso disse…
Groo,

Louis Armstrong foi genial,uma verdadeira lenda do jazz.
Homenagem mais que merecida!

grande abraço
Anônimo disse…
... e M.C( o John Dávolta), escreve: Pô, me desculpe, Ron. Sei que todos vão aplaudi-lo pelo texto mas... e Chicago ? E Nova York ? Atlannnta.. Georgia on my mind ? Los Angeles ? Não havia contato entre brancos e negros ? As loiras assanhadas eram um problemaço prá eles. As negras, cheias de curvas, para os brancos...Prá não dizer que sou machista, inverta as coisas, por favor. Damos em cima delas, não ? Prá ficar por aqui mesmo... uma gata como a Sheron Menezes ou Juliana Alves... Meu Deus... Tem a Camila Pitanga e a Taís Araújo mas estas são mais conhecidas... UAL ! E nós esbarramos com milhares delas pelas ruas ! Pelo menos no Rio... Dizem que, uma das causas do Simonal ter sido perseguido era o seu sucesso com as morenas e loiras assanhadas daqui... bom, voltando aos irmãos bem sucedidos do norte. Até em Memphis ! O que que o Elvis fazia ? A música dele ? Jerry Lee Lewis( Ferriday, Lousianna, também...) "aprendeu" com os negros. Vou te dar um livro que vai te deixar branco de raiva..." Guia politicamente Incorreto da História do Brasil " de Leandro Narloch, editora LeYa. Nada a ver com os americanos ? Se vacilar, veremos algo parecido... mas é preciso viver lá prá ver. As "ideias" dos historiadores marxistas estão sendo demolidas uma a uma. Para mostrar que não estou errado, sobre esta mistura pouco comentada, pois não gera atrito e, portanto, não vende. Vende é KKK ! "Guerras" raciais dentro dos EUA vende, menos as dentro da própria África: os Tutsis e Hutus... esta não vende. Escondem... Teve um filme... Me esqueci do nome... Hotel... Mas KKK, vende ! Vende o Mandela ! Pô, a coisa não anda bem na África do Sul. A copa será um baita prejuízo prá eles ! A economia vaí mal depois que ele subiu ao poder. Populismo brabo( como aqui )mas vendem o... Mandela. Entendeu ? Já se passaram 20 anos da libertação dele, sou e fui contra o aparthaid mas, os caras descendo do avião na pista...Parece SDU 1970 ! Cadê os Electras ? Voltando, de novo, pros ZEUÁ.
Anônimo disse…
... John Dávolta, volta: Olha só onde nasceram estas feras (e morreram)... Edward Kennedy "Duke" Ellington (Washington, 29 de Abril de 1899 — Nova Iorque, 24 de Maio de 1974) e Ray Charles (Albany, 23 de Setembro de 1930 — Los Angeles, 10 de Junho de 2004). No caso de Duke, negros de familia de classe média... COMO É POSSÍVEL ISTO NOS EUA RACISTA DOS ANOS 1930 ! Tome cuidado quando procurar essa informação. Mentem na maió cara lavada ! É preciso que seja negro e de familia miserável. Por quê Kaká não vende como Ronaldinho Gaúcho ? O 1º é tão ou mais craque que o 2º mas é branco e de familia classe média alta paulistana... Não vende ! O 2º, mesmo não indo prá Copa, descolou anúncio da Honda ! Se fosse o contrário... Voltando. Já, Albany( Geórgia ) era brabo... Ray comeu o pão que o diabo branco( governo... ah, os governantes...)amassou. A cidade( e o estado) não era nem um pouquinho democrática. Mas, será que Nova Orleans era tudo isso mesmo ? Tá, música, o Mardi Gras... Gastronomia... Lembra um pouco o meu ... Rio de Janeiro ! Dizem ser uma das cidade mais perigosas no EUA. Antes do Katrina. Os piratas adoravam aquilo lá. Familias sulistas têm retratos de piratas na parede. " Meu trivô ! " dizem alguns... Ajudaram Nova Orleans... Lá como cá. Tráááfico ! De tudo. Até de gente. Só não temos os furacões malditos e BP ! Mas temos Petrobrás e pré sal ! Entendeu agora o "John Dávolta" ? Nessa minha confusão toda só quero dizer que essa coisa esquerda, de meter pau no EUA, não anda colando mais, não, Ron. Aí o seu texto falha. Nova Orleans, pode ter sido, no passado, para a parte sulista dos EUA, um paraíso mas Nova York, com sua raiz holandesa, já aparecia antes. E continua até hoje. E agora, temos, lá, Miami, Atlanta, Los angeles, Boston, Chicago, Portland... Viu o novo filme do George Clooney ? Vale a pena.Tudo bem, é venda pura ! Mas vale a pena. Verá um EUA humano....Existe. Te garanto. Não é mentira minha, não ! Eles choram ! Verdade... Parecemos com eles. Eles, conosco... Problema é quando o populismo de esquerda surge. Estamos em desvatagem. Eles, não. Obama dá um pio e eles, lá, caem em cima. Lulla dá um pio e todo mundo, aqui, aplaude: " Bravo ! Um barítono !"
Fernando Kesnault disse…
M.C. nada contra os USA mas eles tem uma verdadeira autoadoração perpétua e lembre-se que se antes eles questionavam "O que nos espera?", hoje indagam "Por que não estamos lá?". Se vc. analisa a fundo algumas questões note que reuniões e congressos de cúpula internacional se realizam em outros países (principalmente Hong Kong e Londres são as preferências), sem o incômodo das arbitrárias restrições impostas pelos EEUU para a concessão de vistos de entradas. Ouça bem, nada contra os irmãos do Norte mas...
Ron Groo disse…
MC., eu não nego a importância dos outros centros em relação ao jazz, mas todos eles, com certeza, beberam na fonte de New Orleans: Chigago e seu bebop, Washington e seu Dixieland, O free jazz nova yorquino, se bem que tem muito nego bom ai que jura que Free Jazz não é nem musica, quanto mais jazz...

E tudo isto está bem claro em toda sua obra, mas em espcial: Jazz New Orleans (1885-1963): An Index to the Negro Musicians of New Orleans and New York de 1963.
Anônimo disse…
.... e M.C., volta : Fernando Kesnault. Realmente, influenciam tanto que a África do Sul chamou o Black Eyed Peas e a Shakira loira.... e, mais importante, Brasil e Turquia isolados na ONU ! Ron, sei disso. Mas voce levantou que... " Franceses, espanhóis, ingleses, irlandeses, eslavos, turcos, gregos e cubanos ajudaram a fermentar a mistura em ebulição do caldeirão cultural da cidade, o que ajuda a explicar o afastamento da conservadora doutrina luterana do restante do país.
Graças ao contato direto entre negros e brancos - que não acontecia em outras partes dos EUA ". Aí eu discordo. Melting Pot existiu e existe em todas as principais cidades americanas. Só isso. Nova York, Chicago, Detroit e Los Angeles e, óbvio, Nova Orleans, porto importantíssimo !Boca do rio mais importante deles, o Mississippi. O Jazz surgiu das marchas e paradas chatérrimas ! Tocavam a mesma melodia.... ah, não sou um conhecedor profundo de Jazz. Gosto. Vi no GNT a história do Jazz, uns 7 anos atrás. O inicio dos Simpsons, com a Lisa sendo expulsa da aula de música, me parece uma homenagem ao que aconteceu por lá, Nova Orleans ...Improvisar... Só que ela gosta de Blues. HA !
Unknown disse…
Apenas para acrescentar meu bem, uma deliciosa preciosidade de uma maravilhosa diva do jazz com o mais que gênio aqui homenagiado.
Ella Fitzgerald & Louis Armstrong em "Dream a Little Dream of Me"
vou deixar aqui um end. caso alguém queira conferir.
http://www.youtube.com/watch?v=j6TmogXhOZ8

Linda homenagem.

Bj
Ron Groo disse…
E o que há de errado na afirmação?
Assim como aqui no Brasil a miscigenação deu em nosso sincretismo no que tange a religião, afastando o povo de um catolicismo como o português, a mistura de povos lá em New Orleans deu na mistura que fez nas chatas marchas a improvisação do então nascente Jazz.

E quando digo contato direto, quero dizer que o contato era mais natural socialmente falando.
Ron, muito bom o texto....os caras tocando com ele tb são lendas do jazz...
Anônimo disse…
... e M.C., volta: "... o afastamento da conservadora doutrina luterana do restante do país... " e " .... que NÃO acontecia em outras partes dos EUA". Por isso coloco Nova Iorque, Chicago e Los Angeles. Isso, visando a década de 30 do século passado. Tem outras também. Voce passa a idéia de que todos em Nova Orleans eram amigos, num clima extremamente democrático, de liberdade total. Um prazer !Conviviam, se toleravam e só ! Algo acontece igualzinho no Carnaval e, agora, na Copa do Mundo ! Loirinhos sorridentes ao lado de negros idem, dentro do estádio de futebol, vendo os Bafana Bafana... Depois, vão sair prum chopps e amanhã pro churrasco em Soweto ? Tá... E agora a coisa está muito melhor ! Há mais respeito. Não é ser politicamente correto. É o certo ! Respeito. Mesmo asssim, muitos ainda torcem a cara. Essa Copa do Mundo mostra como somos cínicos. Adoramos o Mandela ! Se fosse na Suécia de novo... Pode pegar um avião prá África do Sul que voce encontra hospedagem lá. Vamos no ponto que voce tocou: Religião. Sabia que muitos historiadores acreditam que a conservadora doutrina luterana é a mola( ou umas das molas ) propulsora do desenvolvimento econômico norte-americano ? Se o EUA fossem uma enorme Nova Orleans eles estariam fu... furnicados ! Seriam o Brasil ! Uma tremenda bagunça. O tal sincretismo religioso, aqui, não ajudou muito, Ron. Por favor ! Olhe ao seu redor ! Muito pelo contrário, usavam para poder rezar para os Orixás deles. Censura e açoite. Então, Salve Jorge ! Se o Louis Armstrong fosse brasileiro seria rico e famoso ? Algum americano, num blog, escreve sobre Pixinguinha ? E ele era fera ! Sobre Donga ? Vou mais perto: Tom Jobim ? Adoraria... Isso não quer dizer que não falemos dos grandes músicos. Não estou sugerindo isso. Azar dos americanos não terem escutado Pixinguinha. Tenho no meu caderninho de lugares para conhecer, até o fim dos meus dias, Nova Orleans. Acho que tudo que escreveu sobre Louis Armstrong certo. Genial ! Apesar que prefiro o Ray Charles... Tenho os dois no meu Ipod ! Repito, só acho que o tal melting pot ocorreu em vários lugares nos EUA. E a doutrina luterana ajudou muito mais que atrapalhou. Sobre culinária creole - acho comida, cultura. Franceses que o digam ! - é que não me parece coisa apetitosa... dizem ser o máximo ! Só de ver os pratos, a nossa é muito melhor ! Nós, brasileiros, não temos do que reclamar no item culinária ! Mineira, baiana, paulista, paraense, capixaba, paranaense, amazonense, gaúcha( apesar que churrasco... prá mim é mundial. Meus antepassados, 10.000 anos atrás, faziam um Gnu maravilhoso !). Americano dança nisso. Não à toa precisam emagrecer toneladas ! Fast food mata ! Me esqueci da comida carioca... Mas estão querendo tirar a feijoada da gente. Já tiraram os royalties do petróleo. Querem tirar a feijoada também.
oliver disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
oliver disse…
O que mais impressiona, o que fica marcado de forma indelével na memória, são os olhos do Armstrong quando ele pronuncia o "Oh Yeh" no fim da What a wonderful world.

Não tinha nada de "yeh", nem de "wonderful".


Belíssimo texto.
Anselmo Coyote disse…
Interessante é que ao copiar essa imagem do Louis o título dela é Armstrong_cover. Cobertura (reportagem) ou seria algum cover-fake?
Abs.