Talvez tenha faltado um Taioba na seleção

Gilberto era o meia esquerda titular do time de futebol Expedicionários de Franco da Rocha.
Reconhecido por todos, em toda região como verdadeiro craque, capaz de resolver partidas com uma ou duas jogadas. Especialmente em jogos contra o arquirrival dos Expedicionários: O terrível Real Mané.
Comparável apenas a Pelé no auge, não se sabe por que carga d´agua nunca foi aceito e nem aproveitado em time nenhum profissionalmente.
Alguns dizem que era seu mau gênio, outros dizem que foram as drogas, o álcool e a mulherada.
O pai dizia que ele era vagabundo mesmo.

O fato é que o time, o valoroso time dos Expedicionários de Franco da Rocha foi fazer uma excursão ao Uruguai na intenção de encaminhar algum jogador aos times de lá e também promover o nome da cidade no exterior. Não se sabe exatamente qual dos dois motivos era o mais premente.
Embarcaram em um ônibus e viajaram rumo ao país mais oriental da América do Sul.
Junto com o time também foi um jornalista, o J.P.
Formado pela fundação Casper Libero ainda não exercia a função regularmente, vivendo de free lances. Faria a função de assessor de imprensa.
Função esta que foi largamente desacreditada no embarque.
Ninguém acreditava que alguém, em sã consciência, teria olhos para um time de várzea de uma cidade desconhecida. Ainda que do Brasil.

Ao chegar ao Uruguai fizeram um tour.
Partindo da cidade de Rivera foram cruzando o país até chegar a capital Montevidéu.
Neste caminho, com exibições extraordinárias, quase “pelezisticas” de Gilberto foram destruindo todos os adversários de forma inapelável.
Placares elásticos e futebol arte.
Tanto que chamaram a atenção do temível Panãrol.
Ao chegarem à capital foram contatados pela diretoria do clube multi campeão Uruguaio querendo marcar um jogo que seria disputado no Estádio Centenário. Aquele mesmo que foi palco da decisão do primeiro mundial no distante ano de mil novecentos e trinta.
O dirigente dizia que queria provar a força daquele time que vinha assombrando o país e em vinte jogos não havia sido derrotado uma vez sequer. Com placares não menores que quatro gols de diferença.
Queriam ver também em ação o agora famoso em terras uruguaias Gilberto.
Festa na delegação francorrochense.
Todos celebravam não só a vitoriosa excursão como também o fato de que Gilberto agora seria devidamente valorizado. Correu-se até o boato na delegação de que os pais de Gilberto, ou os avós, eram uruguaios. O que facilitaria uma possível naturalização uruguaia para que ele pudesse integrar a celeste olímpica.

A noticia chegou até Franco da Rocha.
Os políticos locais fizeram discursos em praça publica em homenagem ao esquadrão alvi celeste; faixas foram postas nas ruas; foguetórios e missas foram rezadas.
Foi uma comoção sem igual.
Só que lá no Uruguai as coisas começaram a não ir tão bem.
Na noite anterior ao jogo contra o Penãrol o craque Gilberto aprontou das suas e simplesmente sumiu.
A delegação do “galo azul da comarca” – como era conhecido o Expedicionários – entrou em pânico, mas nem assim sequer pensaram em cancelar a partida.
Enquanto alguns membros da diretoria sairiam para procurar o paspalhão de uma ova, outra parte trataria de por o substituto imediato, Taioba, conhecido como “o possesso” em condições de jogar. Obvio que o modesto “possesso” não tinha sequer meio por cento do talento de Gilberto, mas: se não tem tu, vai tu mesmo.
A J.P. coube a tarefa de informar aos jornalistas que cobririam o jogo que o grande Gilberto não poderia jogar por estar fortemente lesionado. Uma lesão tão misteriosa que eles nem sabiam onde se encontrava.
Intimamente pensou: “-Não sabemos nem onde está a lesão e nem o viado do Gilberto!”.
Mas calou-se.
Perguntas foram lhe atiradas como pedras e de todas ia se esquivando, às vezes apenas com evasivas.
A mais comum delas era:
-Quiem substituirá el craque?
-O nosso tão bom e importante jogador: Taioba, “o possesso”.
-E como se escreve isto?
-E o que quer dizer “possesso”?
J.P. explicou uma, duas, três, dez vezes o que era e como se escrevia “possesso”. Já estava de saco cheio de repetir tantas vezes a mesma coisa.
Por fim se livrou de todos os jornalistas.
Todos não, um último e atrasado jornalista, de um pequeno periódico interiorano chegou esbaforido a sala onde se realizava a improvável coletiva.
Novamente fez a já tantas vezes respondida pergunta.
J.P., muito furibundo da vida, mas com um angelical e falso sorriso respondeu:
-Seguinte meu amigo, “possesso” quer dizer que ele vai chutar a bunda de todo mundo que falar castelhano e passar em sua frente e a grafia é complicada demais, põe ai na tua caderneta: “Taioba, o FDP do ca***ho!

Consta que o modesto periódico foi o único em todo o Uruguai que não noticiou a substituição do grande Gilberto.
Que, aliás, foi encontrado, três dias depois do jogo na fronteira com a Argentina, mais precisamente na cidade de Paysandu - depois de ter bebido, cheirado e brigado muito – dormindo agarrado com um travesti argentino.
Em tempo: O Penãrol venceu por oito a zero.

Comentários

Fabricio Paes disse…
Estes times existem mesmo? Real Mané? Isto é brincadeira né?
Ron Groo disse…
Pior que os times existem mesmo. A história é fictícia, mas os times não.