Adoniran cem anos - Piove, piove...

A maloca já não está mais lá... Já não estava mesmo, se lembrarmos que ela foi derrubada para a construção de um edifício arto. Matogrosso até quis gritar, mas de pronto ele falou: “-Os homi tá com a razão, nóis arranja outro lugar.”. (Saudosa Maloca)

Curiosamente algum tempo depois, ele mesmo! Havia prometido e realmente o fez! Trabalhando em uma cerâmica ganhou dinheiro e lá no Alto da Moóca - tradicional bairro paulistano - comprou um lindo lote. Dez de frente e dez de fundo e construiu sua maloca.
Naquela época ainda se podia contar com amizades desinteressadas. João Saracura, que é fiscar da prefeitura, se mostrou um grande amigo e arranjou tudo pra ele, porque naqueles aqueles tempos, sem planta não se podia construir. Diferente de hoje, em que com ou sem planta constroem até onde não deveriam... (Abrigo de vagabundos)

Mas isto faz tempo... Muito tempo...
Um tempo em que o Viaduto Santa Ifigênia não era passagem apenas de pedestres. (Viaduto Santa Ifigênia)
Um tempo em que a Praça da Sé não era uma madame, com aquela estação de metrô e toda sua imponência. Era apenas uma praça no centro onde circulava a vida da cidade. (Praça da Sé)
Em suas imediações havia estações de rádio, bares onde os artistas se encontravam para tomar suas canas, seus cafés e fazer contatos.
Um tempo em que ainda havia a Luz da Light nos postes e nelas circundavam as mariposa. (A luz da Light e As mariposa)

Um tempo onde o empréstimo de um dinheirinho para a compra de uma cadeira de engraxate, e assim arrumar a vida, poderia ser paga com um samba.
E com um endereço no verso de um cartão, convidar o benfeitor a aparecer em sua casa para conhecer o tal samba. (Vide verso meu endereço)

Um tempo onde era possível ir a um samba em um bairro até então desconhecido e, se por acaso saísse uma briga, era só se enfiar debaixo da mesa e ficar ali, de beleza, vendo os outros brigando.
E depois de tudo ainda saber que os que ficassem pior iriam apenas para as Crínica! E não para o cemitério. (Um samba no Bexiga)

Era um tempo em que uma estátua posta em homenagem a ele no Bexiga poderia sumir e como em um passe de mágica aparecer nos jardins do Parque São Jorge, sede do clube que amava e como ele, também completa cem anos.

Adoniran se confunde com a cidade de São Paulo, definiu seus personagens, sua fala característica, destacou sua gente e seus ícones.
Ainda é possível sentir, cem anos depois de seu nascimento, sua presença em alguns cantos e recantos.
No largo São Bento, na Praça da Sé... Sentir sua presença junto aos engraxates do centro velho, nos bares do Bexiga.
-Mas espera aí? Bexiga não é tradicional bairro da colônia italiana?
É sim... Até porque antes de ser Adoniran Barbosa, ele era João Rubinato, filho de italianos, daqueles que fizeram a grandeza da cidade.
Ainda é possível ouvi-lo cantando a cidade que lhe deu teto e cartaz...
Canta... Pode cantar que a gente ouve e entende tudo que quiser falar... Mesmo errado, mesmo na língua dos teus pais... A gente entende... E gosta.


Comentários

andreh disse…
Putz Ron, ficou legal demais o texto, eu gosto demais de Adoniran, apesar de q na voz dos Demônios, mas dizem q é a mesma coisa, sei lá... eu não sei de nada! só gosto da música! Parabéns Adoniran! Parabéns Ron pelo texto!(como já disse, tá ficando bom nesse negócio de escrivinhá!)
Daniel Médici disse…
Uma vez acho que foi o Guardian londrino que definiu São Paulo como "a cidade mais feia, lotada e poluída que você vai amar na sua vida". Como paulistano, posso atestar que Adoniran é um desses secretos motivos para se amar São Paulo.
Groo, que bela homenagem,de fato precisamos relembrar os verdadeiros mitos brasileiros que sem armas ou fardas condecoradas, usavam apenas a observação dos mais variados tipos e os transformavam em músicas que hoje se tornaram eternas, de tão eruditas e por conterem tantas minúcias das quais observamos e não as transcrevermos de modo tão sensível e até certo ponto enxegar a beleza cotidiana da vida urbana de uma forma tão poética, bonita e musicada. Achei fantástico vc ter inserido trechos das letras das músicas do Adoniran.

que as letras e esta data sejam sempre lembradas , não apenas para aqueles que viveram ou nasceram em São paulo, mas por todos aqueles que ainda apreciam MÚSICA com M maiúsculo!


abs. e parabéns pelo Post.

ALYSSON PRADO "BALO"
Marcos Antonio disse…
Belo texto! Adoniran sempre declarou seu amor por São Paulo e seu cotidiano em seus versos, de uma maneira simples de se entender, pois ele cantava do mesmo jeito que falava. Eu sempre falo que Adoniran foi um compisitor modernista e regionalista ímpar na história.
Anônimo disse…
" O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever " ... Adoro isso ! HA ! Só uma coisinha.... Como carioca, preciso dizer algo: "Trem das Onze" fez, primeiramente, sucesso numa cidade distante de Sampa 408 km, pela Via Dutra véia de guerra... Rio de Janeiro ! Tááá ? Táááá ? Amo esse cara(, meu) e tenho Ipod... Quando o Rio e Sampa vão tomar jeito, meu Deus ? " De tanto leva "frechada" do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
"Táubua" de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde fura..."



M.C.
Anônimo disse…
... e tenho no MEU Ipod. Sabe por quê falo desta maravilha tecnológica sempre que posso ? Pô !Quando poderia eu, um simples mortal, ter Little Richard, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Simply Red, Bezerra da Silva, Jorge Ben, Elis Regina, Clara Nunes, Fine Young Cannibals, Elvis, Beatles, Stones, Seal, Sá e Guarabira, Roy Orbison, Paralamas, Rick Wakeman, Raul Seixas, Radiohead, ZZ Top, Talking Heads, Roberto Carlos, Yes, Wilson Simonal, Zé Rodrix, U2, Prince, This IsquisIT( Michael...), Police, Pink Floyd... UFA ! eeeee AC/DC, juntinhos ? Emerson, Lake and Palmer...Nara Leão, New Order ! Chic Buarque e Ivan Lins ! E tem mais ! Eco and the Bunnymen, Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Edith Piaf, Luis Miguel( para as gatas...), Gipsy Kings, Fagner, Madonna, Milton Nascimento, Villa Lobos, Beethoven, Ravel, Tchaikovsky, Verdi, Bach, Mozer... Exibido, eu ? Não, só estou propondo aos ricos que ainda não tem o tal aparelhinho comprá-lo hoje ! Agora ! E aos classe mérdia - ou poucos pobres - mas que já possuem computador, economizarem( não cairem no " sem juros " do Lullalá ) e, depois, adquirirem rapidamente está invenção fenomenal ! Tenho sambas da mangueira, Salgueiro e da Ilha do Governador ! Não ficarem só num determinadotipo de música... Vira uma "caçada" ! Agora ando me interessando por Tango... Tanghetto, Otros Aires... sem contar os tangos tradicionais como os de Gardel e os não tão tradicionais assim mas já antigos como os de Astor Piazzola... Era um tango-jazz ... improvisado... Não sou vendedor da Apple, também ! Só acho que vale a pena ter um Ipod. Tô bobo com esse aparelhinho ! A última invenção que me deixou de queixo caído foi a roda. Sensacional !


M.C.
Marcelonso disse…
Groo,

Adoniran não tem o devido reconhecimento a quem tem direito,por toda sua obra.
Como bem colocou o Marcão simples é direto era sua essencia.


abraço
Marcelonso disse…
simples e direto
GiglioF1 disse…
Groo,
Parabéns....Foi um genio da nossa cultura...para mim trem das 11, e o Arnesto!!!...
Se ele tivesse tido berço e mais cultura , seria mais um...
Temos de reconhecer nossos genios..
Post muito opotuno!!!
Abraço!!
Faltam pessoas como ele hoje em dia.Uma figuraça!!!!
Daniel Machado disse…
Eu já ouvi falar muito sobre o Adoniran, mas também faz um certo tempo. Acho que até anos mesmo. Ouvi hitórias boas a respeito dele, mas não lembro mais de cabeça assim. Belo texto Groo!