-Ô Canário... Arruma alguma coisa pra gente comer ai! Pra acompanhar a cerveja... – grita Dito, o ex-prefeito.
-Cuidado... O último que pediu desta forma pro Canário quase casa com ele... – ri Andrade, o professor aposentado.
-Eu ouvi! Eu ouvi... Vão à merda! – protesta Canário que desde que os dois chegaram ao bar não saiu da cozinha nem para cumprimentá-los.
-O que tem o botequeiro hoje? - prossegue Andrade - Nem veio aqui pegar na nossa e balançar...
-Ô Andrade! Eu ouvi esta também...
-Na nossa mão pô... Seu botequeiro mente suja... Que sua cozinha era suja a gente sabia, mas a mente?
-Suja? Tem certeza? – se espanta Dito - Quando eu era prefeito o bar nunca foi nem notificado pela vigilância sanitária... Eu sempre achei que era por ser limpo.
-Deve ser porque tudo na sua administração era suspeito... – grita Canário.
-Porra, Canário! Quem tá te zuando é o Andrade...
Risos abafados dão lugar ao silêncio por alguns instantes até que Dito, realmente preocupado cochicha com Andrade.
-A cozinha é realmente suja?
-Não... Estava brincando... Mas a mente dele é.
-Sério?
-Pqp, Dito! Eu estava brincando... O Canário é gente boa. – e voltando a falar com o dono do botequim – Ô Canário! Que cê ta fazendo que ainda não veio aqui falar com a gente?
-Tô fazendo sashimi! – devolve Canário com outro grito.
Andrade e Dito se entreolham confusos, os outros freqüentadores presentes também se espantam. Nunca souberam que o botequeiro soubesse fazer sashimi.
-Mas, ô Canário! Desde quando cê sabe fazer sashimi? Até teu miojo é ruim...
-Andrade, meu velho, me admira você... Homem estudado, mestre do idioma, conhecedor das culturas... Dizer uma besteira destas?
-Que besteira? Que as coxinhas que você serve aqui são ruins?
-Não... Que eu não sei fazer sashimi.
-E sabe?
-E quem não sabe? Rapaz... Sashimi é peixe cru, já vem pronto da água.
O silêncio traduz bem o constrangimento do velho mestre e até do ex-prefeito.
-Mas, ô Canário! Onde foi que cê arrumou o salmão? – pergunta Dito.
-Salmão? Que salmão?
-O salmão pra fazer o sashimi, ora....
-Tem salmão não... Vou usar bagre mesmo... O Geraldo trouxe. Ele foi pescar ontem.
-O Geraldo foi pescar? – o espanto dos dois foi maior ainda.
-E por que o espanto?
-O Geraldo não sabe pescar não... – diz Dito.
-Como não? Eu fui com ele até... No Ribeirão Euzébio. E ele manja tudo da arte, até me explicou que o melhor seria pescar embarcado, mas como não tinha barco, disse que ia entrar na água... Até a altura do peito e de lá lançava a linhada com o anzol...
-Pescar embarcado? – pergunta Andrade.
-É... – diz Canário balançando a cabeça afirmativamente.
-No Ribeirão Euzébio? – completa Dito.
-É! Ué? O que tem? Hein, Andrade?
-Mas aquele rio é um córrego, raso e ainda por cima recebe esgoto, ele só pode ter entrado na água até a altura do peito porque tem menos de um metro e sessenta! Que eu saiba, nem peixe tem lá...
-Mas tem... E ele pescou. Eu vi.
-Viu? – duvida Dito.
-Vi... Vi quando ele entrou na água com a linhada e eu até gritei pra ele que ele não tinha levado minhoca... E ele virou pra mim e apontava o canto da boca, mas eu estava longe e não entendi direito.
-Ah! Não entendeu? – pergunta Andrade com ironia.
-Não... Por quê?
-Ele apontava para a boca? E não dizia nada?
-É... Ele fazia uns sons... Com se apertasse os lábios segurando alguma coisa entre os lábios. Mas responde... Por quê?
-Nada... Nada... O Geraldo ainda sai com sua irmã?
-Sai sim Andrade, mas por quê?
-Nada não... Nada... Tadinha dela... Faz o seguinte... Suspende a cerveja também... Perdemos o apetite.
-Cuidado... O último que pediu desta forma pro Canário quase casa com ele... – ri Andrade, o professor aposentado.
-Eu ouvi! Eu ouvi... Vão à merda! – protesta Canário que desde que os dois chegaram ao bar não saiu da cozinha nem para cumprimentá-los.
-O que tem o botequeiro hoje? - prossegue Andrade - Nem veio aqui pegar na nossa e balançar...
-Ô Andrade! Eu ouvi esta também...
-Na nossa mão pô... Seu botequeiro mente suja... Que sua cozinha era suja a gente sabia, mas a mente?
-Suja? Tem certeza? – se espanta Dito - Quando eu era prefeito o bar nunca foi nem notificado pela vigilância sanitária... Eu sempre achei que era por ser limpo.
-Deve ser porque tudo na sua administração era suspeito... – grita Canário.
-Porra, Canário! Quem tá te zuando é o Andrade...
Risos abafados dão lugar ao silêncio por alguns instantes até que Dito, realmente preocupado cochicha com Andrade.
-A cozinha é realmente suja?
-Não... Estava brincando... Mas a mente dele é.
-Sério?
-Pqp, Dito! Eu estava brincando... O Canário é gente boa. – e voltando a falar com o dono do botequim – Ô Canário! Que cê ta fazendo que ainda não veio aqui falar com a gente?
-Tô fazendo sashimi! – devolve Canário com outro grito.
Andrade e Dito se entreolham confusos, os outros freqüentadores presentes também se espantam. Nunca souberam que o botequeiro soubesse fazer sashimi.
-Mas, ô Canário! Desde quando cê sabe fazer sashimi? Até teu miojo é ruim...
-Andrade, meu velho, me admira você... Homem estudado, mestre do idioma, conhecedor das culturas... Dizer uma besteira destas?
-Que besteira? Que as coxinhas que você serve aqui são ruins?
-Não... Que eu não sei fazer sashimi.
-E sabe?
-E quem não sabe? Rapaz... Sashimi é peixe cru, já vem pronto da água.
O silêncio traduz bem o constrangimento do velho mestre e até do ex-prefeito.
-Mas, ô Canário! Onde foi que cê arrumou o salmão? – pergunta Dito.
-Salmão? Que salmão?
-O salmão pra fazer o sashimi, ora....
-Tem salmão não... Vou usar bagre mesmo... O Geraldo trouxe. Ele foi pescar ontem.
-O Geraldo foi pescar? – o espanto dos dois foi maior ainda.
-E por que o espanto?
-O Geraldo não sabe pescar não... – diz Dito.
-Como não? Eu fui com ele até... No Ribeirão Euzébio. E ele manja tudo da arte, até me explicou que o melhor seria pescar embarcado, mas como não tinha barco, disse que ia entrar na água... Até a altura do peito e de lá lançava a linhada com o anzol...
-Pescar embarcado? – pergunta Andrade.
-É... – diz Canário balançando a cabeça afirmativamente.
-No Ribeirão Euzébio? – completa Dito.
-É! Ué? O que tem? Hein, Andrade?
-Mas aquele rio é um córrego, raso e ainda por cima recebe esgoto, ele só pode ter entrado na água até a altura do peito porque tem menos de um metro e sessenta! Que eu saiba, nem peixe tem lá...
-Mas tem... E ele pescou. Eu vi.
-Viu? – duvida Dito.
-Vi... Vi quando ele entrou na água com a linhada e eu até gritei pra ele que ele não tinha levado minhoca... E ele virou pra mim e apontava o canto da boca, mas eu estava longe e não entendi direito.
-Ah! Não entendeu? – pergunta Andrade com ironia.
-Não... Por quê?
-Ele apontava para a boca? E não dizia nada?
-É... Ele fazia uns sons... Com se apertasse os lábios segurando alguma coisa entre os lábios. Mas responde... Por quê?
-Nada... Nada... O Geraldo ainda sai com sua irmã?
-Sai sim Andrade, mas por quê?
-Nada não... Nada... Tadinha dela... Faz o seguinte... Suspende a cerveja também... Perdemos o apetite.
Conto feito sob a supervisão técnica e sashimiquica (vixe) de Anselmo Coyote. Thanks man!
Outros contos do botequim aqui: Açougue, Funerárias, Tarde normal e Virado à paulista.
Comentários
o.O
rsrsrsrs
Olha sashimi não está entre meus prediletos, mas de bagre nem pensar, tem dedo do Anselmo ae!
abs
Na terra do meu pai eles comem um negócio chamado casacudo. Meu pai diz que é peixe, pra mim parece uma taruíra sem as pernas, rs.
Peixe pra mim só se for de água salgada.
Grande abraço.