Contos do botequim - 7 - Naique


Sexta a feira a tarde é um convite ao happy hour e no bar do Canário, ainda que freqüentado por aposentados ou desocupados notórios não é diferente.
Sentados às mesas ou ao balcão estavam lá: Pedro Márvio; Andrade; Derico, o fiscal da natureza; Dito Fernando, o ex-prefeito; Anízio; Lucio, o açougayro, nas palavras do professor aposentado entre outros menos cotados...
Tomavam cervejas, refrigerantes e cafés, comiam os bolinhos de arroz receita na qual a cozinheira de Canário havia se especializado, usando o arroz não consumido nos almoços servidos diariamente.

-Ô Canário! Trás mais uma porção de resto ai e um coca gelada com limão... – grita Derico.
-Não é resto não... É bolinho de arroz! Iguaria, coisa fina... – responde o dono do bar.
-É nada, é só uma forma de você reaproveitar o que não consegue vender... E empurra na gente. – emenda Dito.
-E por acaso tem lingüiça calabresa no arroz? Queijo, bacon? Tem? – retruca Canário.
-Mais resto... – resmunga Pedro Márvio.
-Que isto! Que absurdo! É tudo fresco, novinho... – se defende o vendeiro.
-Ok, Canário! Não é resto, a gente capitula... São sobras, se isto te faz mais feliz. Certo? – apazigua Andrade, já mastigando um deles.
-Assim, sim... – concorda e se retira para trás do balcão.

Então um silêncio curioso se abate sobre o salão do bar.
É que em sua porta principal aparece um chinês, ou coreano já que a primeira vista ninguém - nem Andrade – soube identificar.
Trajando uma calça de sarja clara, uma camisa florida de mangas curtas e nos pés calçava os mesmos modelos de tênis que trazia dentro de uma sacola de lona e começava a oferecer aos presentes...

Os “nãos” vão se seguindo, até que ele oferece para Derico, que - chegado a um produto falsificado, desde que barato – se interessa e abre negociação.
-Quanto é? – pergunta ele.
-Naique. – responde o chinês ou coreano...
-Não... Não é a marca... É o preço! How much? – Tenta novamente.
-Ah! Pleço? Oitenta leal… Naique.
-Tá caro… Oitenta tá caro… Pago cinquenta.
-Cinquenta? Non… Oliginal Naique… Oitenta.
-Pago só cinquenta, nem um centavo mais…
-Non... Ointenta. Naique...
-Cinquenta, e nem vem com esta história de nike... De nike aqui só tem o logotipo...
-Non... Naique, eu plova... Paga oitenta leal e eu plova Naique.

Derico ficou desconfiado, pensou um pouco e olhou para os colegas como se procurasse aprovação que, óbvio, ninguém expressou nem facialmente. Problema dele.

-Ok, china, eu pago oitenta reais, mas quero ver se é nike mesmo... – e tira o dinheiro da carteira entregando ao chinês/coreano que lhe entrega um par de tênis branco e vermelho, iguais aos modelos air da marca americana original. -Agora prova... Vai, prova que é nike mesmo...
O chinês/coreano então abre a carteira para guardar o dinheiro e de dentro dela saca seu documento de identidade RNE (registro nacional de estrangeiros) onde se lê: Kwang Young Naique.
-Eu fablica... Tênis meu é Naique oliginal... Obligado. – e sai pela porta sob o olhar espantado de todos.
-Não quero comentários! – diz Derico antes de ouvir a explosão de gargalhadas.

Em tempo: o par de tênis não durou duas semanas completas...


Comentários

Bom, muito bom este boteco....e suas histórias...
Anônimo disse…
... e M.C., escreve: Bom, muito bom este boteco... e suas histórias ! Mas, sabem o apelido que Massa deu pro Alonso ? Pepino espanhol... HA !
Anselmo Coyote disse…
Kkkkkk!!!!

Naique é soda. Mas o bolinho De Lavoisier é melhor..rsrs.

Abs.
Carlos R disse…
Sensacional ! Naique não Nike!
Anônimo disse…
...e M.C., volta: Dos nomes das marcas... Tinha, quando jovem, um amigo portugues, de Coimbra, que sismou com a marca francesa Le Coq Sportif. Não adiantava nada dizer que o galo era símbolo da França... Pensava que fosse gozação do gajo até que, um dia, na França, em Parrí( de Chic Duparque ), comprando numa loja de materiais esportivos, na Xampis Elizé, o portuga me sai com essa, na cara do vendedor... " C'est parce que je tiens à apporter à la maison une ténis d'une marque nationale d'entre vous ... Rappeler ! Que ! Le Cornu Sportif ..."
Anônimo disse…
...e M.C., escreve: Onde o gajo, formado em Matemática, chegou a conclusão desta ligação prá lá de estranha: Le Coq - Le Cornu ? A-HA ! Adorava, o José Manuel, mais conhecido como Zé Mané, chamar os amigos de Cockuld ! " Cóculdi "! Niguém, disse, niguém !, entendia chongas de mirongas do cuquoldedê ! O idiota trocava as letras ! o ingrês "Cock" em frances é "Coq" ! E o certo é cuckold ! Xingava todo mundo errado ! E "galo", é símbolo fálico em vários lugares... Mas... ele sabia o significado da palarva Cuckold... o que deveria ser " Le Mari Trompé Sportif " ficou Le "cornu" Sportif e isso valeu um belo soco nas fuças, dele, do portuga, e uma visitinha à delegacia onde um Inspetor Clouseau nada amistoso que só soltou a gente às 4 da madrugada... 12 horas lá, sentadinhos em um banco duro( graças a Deus, num banco !), por chamar os franceses de chifrudos... Rindo da burruice do nosso primos distantes, lá da terrinha, nos passou, o homem da gens d'armes, ensinamentos profundos e profícuos de cornu-éducation, prá lá de interessantes, tomando um bom bordeaux, onde na vigésima quarta lição diz que braziléirrôs, amerrikaini e, principalmente, inglésses(?) e portuguésses são também e muito mais ! Russos e socialistas mais ainda. Portugueses socialistas piorou ! o caso do meu amigo gajo ! Disse que era conservador com viés liberal mas nada adiantou ! " Aussi ! " respondeu e completou " ... Nul n'échappe " ! Procurava eu por furos no teto ! E tudo ouvimos calandins... até a 50ª lição ! Dans un silence absolu ! Acreditem, se quiserem !
Marcelonso disse…
Groo,


Essas histórias são divertidas, sempre nos convidando a uma viagem pelo universo "Grooniano".
abs